O inverno chegou a tempo e as temperaturas convidam a ficar em casa sentado no sofá e enrolado numa manta, a beber chá quente e a ver os reality shows que inundam os canais televisivos ao serão... ou então não!!
Felizmente que
largas dezenas de amantes das sonoridades mais pesadas decidiram ignorar os
avisos laranjas das autoridades e, entre os dias 2 e 3 de Fevereiro, afluíram
ao espaço dos Penicheiros, no Barreiro, para assistir à terceira edição do
Camarro Fest.
Organizado pela
Associação Bringer Of Light, o festival apresentava um primeiro dia orientado
para as vertentes mais extremas, com as honras de abrir o evento a recair na
banda local My Enchantment. E o quinteto não se mostrou minimamente intimidado,
enchendo o vasto espaço do salão de festas da colectividade da vila industrial
com o seu death metal melódico, apoiado no EP “The Death of Silence” de 2014.
Ao som do “Intro” seguido de “Lust”, deu-se início a dois dias de celebração.
“Machinery” mas principalmente a faixa de encerramento, “Inner Sanctum”,
animaram quem já marcava presença um pouco por todo o recinto.
Da banda seguinte
no palco dos Penicheiros residia grande curiosidade na plateia. Existentes
apenas desde 2016, os Gaerea são sem dúvida a grande revelação do Black Metal
nacional. Perante uma plateia rendida aos primeiros acordes, e com uma
decoração simples, que consistia numa árvore despida de folhas a tapar o tripé
do microfone do vocalista, a banda apresentou o seu auto-intitulado EP de estreia,
com destaque para as faixas "Pray to your false God" e “Void of
Numbness”.
De Vila Franca de Xira viajaram os Speedemon com o seu speed/thrash. Este foi o
primeiro concerto do ano para a banda que está já em período de gravação do
sucessor do EP “First Blood”, de 2015. “Messenger of God” foi o ponto alto de
uma actuação que podia ter sido mais longa, tal a adesão da plateia.
Dos Analepsy começam a faltar adjectivos superlativos para os qualificar. Em
Portugal dificilmente alguma outra banda demonstra melhor qualidade no género Slamming
Brutal Death Metal,
e o quinteto de Caxarias, em Ourém, não
deixa os créditos por mãos alheias. Um espectáculo potente, a duzentos à hora,
com Diogo Santana a liderar um coeso grupo de “miúdos” que andam nas bocas do Mundo
(literalmente). "Colossal Human Consumption", uma velhinha retirada
do EP de 2015 “Dehumanization by Supremacy”, foi um dos pontos altos de uma
prestação de invejar, como que a colocar o selo de garantia para uma carreira
futura cheia de boas notícias.
Já passava da meia noite quando os misteriosos integrantes dos The Ominous
Circle tomaram lugar no palco do Camarro Fest. Velas vermelhas decoravam a
frente de palco, enquanto a munição de palco era decorada com os habituais
estandartes da banda do Porto. Alicerçada no único disco da banda, “Appaling
Ascension”, o quinteto voltou a deixar a sua marca de qualidade num palco
nacional, com muitos elogios a serem proferidos a partir da plateia. Sem a
mínima interacção com o público, marca registada dos portuenses, os temas foram
desfilados sempre com grande teatralidade por parte do vocalista SL, reforçado
em palco com um cuspidor de fogo, que aqueceu os mais friorentos. “From Endless
Chasms” foi a melhor da noite, que terminou já estávamos bem dentro de sábado.
O segundo dia do Camarro Fest arrancou às 21 horas em ponto, com os New Mecanica, uma aposta em mais um projecto local. A banda de Dinho está cheia de pica para editar o novo disco, “Vehement”, e o single de apresentação, “Written” foi o ponto alto de uma prestação rápida mas extremamente eficaz. Para quem os viu no ano passado no Pinhal Novo, a banda parece mais à vontade e muito mais feroz, preparando a plateia para uma noite bem animada.
E como que a
confirmar o nosso pensamento, eis que os Attick Demons tomam de assalto os
Penicheiros com uma das melhores actuações do festival. Uma das melhores bandas
de Heavy Metal Nacionais, a banda da Margem Sul conseguiu levantar alguma
poeira no recinto, muito por fruto de faixas como "Let's Raise Hell",
tema título do seu último disco de originais.
Com o Artur Almeida a adorar a
reacção da plateia ao som poderoso da banda, a banda arrancou para uma grande
actuação, que arrancou aplausos calorosos de um público que parecia a espaços
estar ali para assistir mais do que para participar.
A única banda fora do rótulo metal foi também aquela que motivou algum (tímido) mosh em frente ao palco. Os For The Glory chegaram ao Barreiro com muitos quilómetros nas pernas, depois de uma mini-tournée europeia em Dezembro, mas não se notou falta de enrgia nenhuma. Pela primeira vez a tocar no Barreiro (o vocalista Congas até chegou a brincar que na sua vida só tinha vindo ao Barreiro por três vezes), a banda de hardcore dos subúrbios de Lisboa mostrou o porquê de estarem a celebrar 15 anos de actividade, com uma excelente prestação num local fora da sua zona de conforto. “Now and Forever”, o quinto disco da banda, é uma bela rodela do melhor que se faz no género, mas nem por isso a banda deixa de ir ao baú buscar os temas mais clássicos.
A prestação energética dos For The Glory fez-se mostrar na bateria do festival,
que precisou de mudança da pelo do bombo, o que fez atrasar a entrada em palco
dos Sacred Sin.
A banda está ainda mais pesada com a inclusão de um segundo
guitarrista, e deram uma verdadeira lição de death metal no Barreiro.
Da nova
faixa “Murder” ao encerramento com “EyeMgod” e “Darkside”, foi sempre a rasgar
em cima do palco.
O sempre bem
disposto Necro Rock n' Roll dos Filii Nigrantium Infernalium encerrou
oficialmente a terceira edição do Camarro Fest, deliciaram as hostes com o seu
som bem particular cheio de negritude e regado a vinho tinto. Como
habitualmente não faltaram as farpas de Belathauzer, com a Igreja Católica como
alvo preferencial. Um grande concerto, cujo ponto alto foi "Necro Rock n'
Roll".
A After-party de encerramento esteve
a cargo dos anarko-punks Systemik Viølence, que apesar das horas a que
iniciaram a sua prestação, parecia terem bebido doses cavalares de bebidas
energéticas.
A noite já ia bem
adiantada quando o festival encerrou as suas portas. Fica para trás um
excelente cartaz de bandas exclusivamente nacionais, dos mais variados géneros,
público interessado e uma sala com excelentes condições de som, iluminação e
espaço para todos presentes, bandas incluídas.
Até para o ano!!
Texto por Vasco Rodrigues
Fotografias por João Moura
Agradecimentos: Bringer Of Light
Fotografias por João Moura
Agradecimentos: Bringer Of Light