Falar de Simbiose é
falar de uma das bandas mais importantes do underground nacional. Formados no
já longínquo ano de 1991, a banda tem festejado as bodas de prata com concertos
de norte a sul do país. No passado dia 13 de Janeiro foi a vez de Cascais receber
a caravana do punk/crust, com um cartaz que incluía Systemik Violence, Dr Bifes
& os Psicopratas e Alien Squad.
A celebração teve
início por volta das 22h30, com a presença em palco dos Systemik Violence, um
dos muitos projectos paralelos de Deris, guitarrista de Trinta E Um. Liderados
por um bandido mascarado com a barriga a querer fugir de dentro de um casaco de
ganga repleto de remendos, os “satanarkistas” não demoraram muito a instalar o
caos na sala, com diversas incursões de Iggy Musashi pela plateia, empurrando e
provocando quem achava que era fixe ficar a ver passar as modas. A banda lançou
recentemente o seu LP “Satanarkist Attack”, e grande parte da sua actuação
passou pelas novas faixas, com títulos/mensagens tão óbvias como "You are
free to be a Slave", "At war with the scene" ou "Small Man
Syndrome". O punk old school pareceu animar as hostes, assim como as
várias farpas que Iggy foi lançando para o ar, em grande parte reclamando do
punk estar mais na moda.
Para quem nunca viu
uma actuação de Dr Bifes & os Psicopratas, é favor imaginar uma banda punk
formada por foragidos de um hospício de alta segurança, disfarçados de psiquiatras
carniceiros, a tocar a alta velocidade em cima de um carrinho do comboio
fantasma. O trio formado pelo Bifes (baixista de Simbiose), Rato (baterista de
Trinta e Um) e Bruno não pede licença a ninguém para espalhar o seu zombie rock
por cada sala que passa, sempre com o bom humor do Bifes e as suas
tradicionais introduções aos temas. A
set-list acaba por ser apenas um exercício estético, pois não é raro ver a
ordem trocada, faixas adicionadas ou simplesmente eliminadas do alinhamento sem
aviso prévio e por escassez de tempo. Em Cascais também se cumpriu a regra, com
um concerto que pareceu mais reduzido que o esperado, mas com os clássicos “Vi
Deus na Cama com o Diabo”, “Passa à Morte e não ao Mesmo” ou “Azar do Caralho”
a mostrar que mesmo sendo um projecto paralelo para os seus executantes, a sua
qualidade é inequívoca.
As doze badaladas já tinham soado há algum tempo quando os Alien Squad se perfilaram em palco.
Veteranos do thrash-punk, a banda de Leiria anda numa roda viva de concertos,
agora que tem um line-up estável. O som mantem-se fiel às influências da
segunda vaga do punk britânico, como Discharge ou GBH, pintalgadas com riffs
thrash ao melhor estilo de Slayer ou Destruction. A estrear-se no Stairway, e
com o vocalista Ricardo que meses antes era apenas fã da banda, foi revigorante
ouvir o som dos Alien Squad, que passaram em revista faixas dos seus três
discos de originais. Interessante ouvir “Police On The Streets Buggin Me”, de
certeza uma homenagem a “Police on my Back” dos londrinos The Clash, uma das
primeiras faixas alguma vez composta pela banda. Por imperativos de tempo,
também eles acabaram por ver a sua actuação cortada em alguns temas, não sem
antes verem a plateia regatear com grande força um encore, que infelizmente não
aconteceu.
Chegada a hora dos
anfitriões da noite, é altura de Johnie Simbiose se apresentar à frente do
quarteto e declarar aberta a festa. “O palco é vosso” sempre foi o lema dos
Simbiose e nele é reflectido o respeito que a banda tem pelo público que a segue
e que em retorno vibra com o suor (e algum sangue) que os veteranos do crust
colocam em cada concerto. Com seis álbuns de estúdio é cada vez mais complicado
condensar 25 anos de história em pouco mais de uma hora, mas “Acabou a Crise,
Começou a Miséria”, “Drowning in Shit” ou “Terrorismo de Estado” não podiam
faltar entre dezena e meia de canções de intervenção moderna, que tanto dispara
contra o governo como o ódio face à existência de jardins zoológicos ou o aumento
do fosso entre ricos e pobres.
Texto e Fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: Amazing Events