Longe vai o
tempo das matinés de domingo, onde as tribos rumavam a uma determinada sala e
esqueciam entre copos, amigos e música ao vivo que o fim de semana estava a
acabar e o dia seguinte era de escola/trabalho.
Essa é a
atmosfera que a Pit Brunch decidiu não fazer cair no esquecimento, agendando
para o passado dia 26 de Novembro, na sala do Lisboa Ao Vivo, a primeira edição
de uma matiné que se espera tenha continuidade. O cartaz tinha os lisboetas Grankapo
como cabeça de cartaz, coadjuvados por quatro jovens bandas da onda
hardcore/grind/metal.
Pouco
passava das 16 horas quando os Bas Rotten tomam o palco de assalto com um
potente e gutural grindcore. A banda de Lisboa ainda não tem um disco editado
mas isso não os impede de já se terem aventurado fora de portas, com
concertos em França e Espanha. Tendo editado recentemente uma demo em formato
digital com dois temas, “Machine” e “Mogul”, os Bas Rotten presentearam os
presentes com uma actuação ao melhor estilo grind/thrashcore, embora mais curta
que o habitual, desfiando temas a uma velocidade supersónica, com destaque para
“Hostile Demands”, “Surge” e o encerramento com “Safe”. Uma banda a ter debaixo
de olho pelos amantes do género!!
"Chaos AD" é
o nome do quinto disco de originais dos brasileiros Sepultura e aquele que a maioria
da crítica designa como o melhor da era irmãos Cavalera. Já a banda das Caldas da
Rainha que utiliza essa mesma nomenclatura não podia ser mais diferente da
banda do país irmão. Os CHAOSxA.D. tocam um crust grind crú como manda a lei,
sem grandes virtuosismos, completando a barreira sonora com um Zé Gualter que
tanto dá gritos lancinantes a plenos pulmões como um louco possesso, como ruge
do fundo do seu corpo qual animal acabado de ver desferido um golpe fatal. “Favela”
e o encerramento com “Victim of your own Mind” e “Hostile Takeover”, os dois temas
recentemente editados digitalmente na página da banda no Bandcamp, foram os que
ficaram mais na cabeça.
Os Titan Shift
de Lisboa traziam na bagagem o seu disco de estreia, “Thrive”, que mostra uma
banda bastante coesa para tão jovens membros. No Lisboa ao Vivo tivemos uma
prestação sem falhas da banda lisboeta, com excelente prestação dos irmãos
Mais, o vocalista Henrique e o guitarrista Guilherme, e de um irrequieto
Sebastião Castro, que apesar de ter nas unhas um enorme “bacalhau” deve ter
gasto grande parte do seu peso em suor. O EP de estreia da banda é bastante
interessante, e ao vivo as músicas ganham uma roupagem bastante fiel mas melhorada,
a apontar para um futuro promissor. Com músicas bem mais demoradas que as
restantes bandas presentes, num estilo thrash com pitadas groove, destacamos o
trabalho em “Road to Ruin” e “Through My Eyes”.
Da Praia da
Areia Branca, na Lourinhã, veio o grande destaque da matiné, os Stand in Front.
Com um hardcore ao melhor estilo Old School, a banda liderada por Ivan Silva meteu
a plateia a mexer como nenhuma outra tinha feito até então. Mesmo auxiliado por
uma muleta para ajudar na convalescença de uma lesão na perna, a energia que
vinha do palco apanhou todos de surpresa. Imaginem como será com um Ivan 100%
recuperado!! Com a
demo tape “Words As Weapons” fresquinha para divulgação, a banda não fez
prisioneiros, e destilou o seu veneno em faixas como “Senhor Presidente” ou “Betrayal”,
antes da despedida com o hino “Hardcore Family”, dedicado aos poucos mas bons
que decidiram passar uma tarde de domingo a ouvir bandas em vez de estar nas
compras da Black Friday.
Os Grankapo
já são velhos conhecidos da cena underground nacional, com uma década de
actividade nas costas, e não é de estranhar o à-vontade que sentem em cima de
palco. Com um Fuck bastante interventivo, a banda arrancou logo com “Man Killing
Man” e “Private Hell”, a faixa que abria o disco de estreia “The Truth”, de
2011, disco de onde foi também retirado “Left for Dead”, a faixa apresentada
logo de seguida. Vários agradecimentos à organização pela coragem de retomar
umas matinés há muito perdidas no tempo e foi tempo de “My Son”, a faixa que a
banda incluiu no split-EP de 2010 editado pela HellXis , seguido de nova incursão
no LP de 2011 com “Feel my Hate” e “We’ll Never Die”, com “Won’t Fall Down” e “Burn”
pelo meio, os dois temas mais recentes da banda, editados em 2016 pela HellXis
num split-EP com os germânicos Ryker’s. Para o final, os dois hinos da banda de
Loures, “Life Goes On” e “Grankapo”. Mais uma actuação excelente dos Grankapo,
mas fica o desejo de ouvir novidades discográficas da banda...
Findo o
evento, fica a sensação de dever cumprido por parte de organização e bandas
presentes, com elevado nível de profissionalismo, e a promessa, já expressa nas
redes sociais da Pit Brunch, de continuar a apostar no formato. Venham mais!!!
Texto por Vasco Rodrigues
Fotografia por Rui Oliveira
Agradecimentos: Pit Brunch