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Reportagem: The Atomic Bitchwax e It Was The Elf @ RCA Club, Lisboa - 27/11/2017


Fazer um concerto a uma segunda-feira à noite pode ter um gosto agridoce. Por um lado, é o primeiro dia de trabalho e a vontade de regressar a casa é maior que o desejo de sair até às tantas; por outro lado, nada melhor que prolongar o fim de semana por mais uma noite, especialmente se o programa é de qualidade.

Lisboa tem vindo a ganhar mais e mais notoriedade no panorama turístico e é inegável que as notícias de sermos um destino agradável também chegam às bandas e promotoras internacionais. Além disso, a qualidade das salas de espectáculos da capital e a quantidade de público que adere aos eventos é quase garantia de se poder apostar mais. E quando uma banda internacional marca uma tournée, haverá sempre uma cidade a quem calha a fava da segunda ou terça-feira... 

E na passada segunda-feira dia 27 de Novembro calhou à sala do RCA a “fava” de receber os norte-americanos The Atomic Bitchwax, um dos expoentes máximos do stoner rock, e que incluiu Lisboa (e o Porto no dia seguinte) na tour europeia que iniciaram a 22 de Novembro e que se irá prolongar até 16 de Dezembro.

Com o público a chegar à sala quase a conta-gotas – estava praticamente deserta vinte minutos antes da hora de início do concerto –, somos saudados de cima do palco com um “Boa noite, somos os It Was The Elf e vimos da Serra da Estrela”.

Confesso que abanei a cabeça algumas vezes na tentativa de perceber que teria ouvido mal, dúvida que ainda mais se intensificou quando o quinteto nacional arrancou para uma prestação a todos os níveis notável. Será possível haver música de tanta qualidade num local tão inóspito e insólito para tal como Gouveia? A verdade é que as minhas dúvidas foram completamente estilhaçadas com um som poderoso a habitar na fronteira do stoner mais psicadélico, com muito fuzz, muita distorção, muitos efeitos de voz, uso e abuso de pedais Wah-Wah Cry Baby, marcas registadas do que nasceu pelo deserto de Palm Springs. Mas a banda serrana tem um som muito seu, talvez um “mountain rock” que vai beber às paisagens geladas do ponto mais alto de Portugal Continental, e que em faixas como “Words Of Wisdom”, “One Eyed King” ou “Witchburn”, nos transportam numa viagem vertiginosa cheia de curvas perigosas e emoção até final. O público do RCA também pareceu gostar da viagem, pois ao longo da actuação foi aumentando de número junto do palco, dando hipótese à banda de beber também dessa energia. O disco de estreia “Fire Green” vem já do distante ano de 2016 e foi bom ouvir algo de novo como “Nature’s Son”, sinal que há um futuro muito próximo para novidades dos It Was The Elf.

De um outro planeta chegam os The Atomic Bitchwax. A banda de Chris Kosnik anda há 25 anos a reavivar a memória de quem os quer ouvir do que era o psicadelismo dos anos 60, misturado com riffs do heavy metal clássico dos anos 70, passados pela peneira de qualidade do rock progressivo moderno. O resultado é um stoner rock muito mais experimentalista do que a corrente que os Kyuss e os QOTSA criaram, com o elemento Doom Metal muito mais presente. Com o próprio Kosnik, bem como o baterista Bob Pantella, a pertencerem há alguns anos aos Monster Magnet, não é de admirar que haja alguns pózinhos de space-rock pelo meio. A pisar novamente palcos nacionais, depois da passagem pelo Sonic Blast Moledo em 2014, foram os clássicos que aqueceram mais a plateia, que entoava na íntegra canções como “45”, “Giant” e o inevitável “So Come On”. Visivelmente feliz, o guitarrista Finn Ryan não se cansou de elogiar o público presente a uma segunda-feira, tendo imenso prazer em declarar que iriam tocar pela primeira vez ali faixas do novíssimo álbum “Force Field”, que será editado a 8 de Dezembro pela TeePee Records. “Houndstooth” e “Shocker” mostram que a banda fez bem o trabalho de casa, mostrando uniformidade com o material anterior. O melhor estava ainda para vir, com a banda de New Jersey a brindar a sala com “Shit Kicker”, já no encore, e que abanou o RCA até aos alicerces, e um regresso ao palco a pedido do público para duas versões dos Pink Floyd, “Pigs on The Wing” e “Pigs, Three Different Ones”, ambos do álbum conceptual “Animals” da banda liderada por Roger Waters, e o encerramento com chave de ouro com o tema título do novo disco, em exclusivo para Lisboa.

Se as segunda-feiras são para ser assim, então que hajam mais concertos nesse dia da semana!!


Texto por Vasco Rodrigues
Fotografias por Rui Oliveira
Agradecimentos: Garboyl Lives