Em Outubro de 1998 a Relapse Records editava o disco de estreia dos Exhumed, “Gore Metal”, um título que definiria um sub-género dentro do Death Metal e um álbum que iria inspirar a criação de milhares de bandas que tocariam o mesmo tipo de música. Depois de um percurso cheio de altos e baixos, e que incluíram um período de inactividade da banda e a criação de diversos projectos paralelos, a Metal Imperium perguntou a Matt Harvey, entre outras coisas, se ainda ouve o seu primeiro disco e qual a relevância de Death Revenge, o novo álbum dos Exhumed.
M.I. - Estamos praticamente a contar os dias para o lançamento de “Death Revenge”. Podes explicar um pouco do que podemos esperar?
Bem, é um disco dos Exhumed, logo será rápido, pesado, com muitas explosões e tal, haha!
Mas também é um álbum conceptual que apresenta alguns interlúdios tipo banda sonora de filmes, um instrumental de mais de seis minutos e algumas outras coisas que nunca fizemos antes. É basicamente um som familiar, mas com algumas diferenças também. Eu acho que é o nosso melhor álbum de sempre.
M.I. - Este álbum foi produzido por Jarret Pritchard, com quem trabalhaste anteriormente, em outros projectos. Porque achaste que ele era bom para o som dos Exhumed?
Ele é alguém que conhecemos e respeitamos, e queríamos ir para um estúdio diferente desta vez, apenas para evitar ser repetitivo. O Jarrett estava a trabalhar para os Suffocation quando fizemos uma digressão com ele e demo-nos muito bem, mas também sentimos que ele era alguém que poderia dar um certo empurrão. Falei com ele sobre o que tínhamos em mente, em termos sonoros, e ele mostrou-se muito interessado. Usámos um monte de material diferente e coisas que não tínhamos usado antes, e estou muito feliz com a forma como saiu. Queríamos algo que fosse bastante crú e que soasse real, mas ainda assim de alta qualidade. Sinto que conseguimos o que estávamos à procura.
M.I. - Ainda continuas a encontrar o refrão primeiro e a construir a canção em torno dele?
Depende da música. Normalmente, quando tenho uma ou duas partes que eu sinto que são muito boas, o resto da música junta-se muito rapidamente. O refrão será sempre o elemento mais importante da música para mim, como escritor. Ele determina quanto tempo vais gastar no desenvolvimento do resto, por forma a manter o refrão como o foco principal. Sou partidário da maneira da técnica de escrever músicas "pop" e procuro tornar as minhas músicas tão memoráveis quanto possível.
M.I. - A América mudou politicamente desde o “Necrocracy”, que foi um pouco o teu manifesto político. O que pensas da América de Trump e como é que isso afecta/influencia as tuas letras para este LP?
Eu odiava Trump quando ele era um desonesto promotor imobiliário, desprezava-o quando se tornou estrela de reality-shows, e continuo a encontrar maneiras de detestá-lo cada vez mais desde que ele se tornou presidente. Honestamente, tinha muitas preocupações sobre o crescimento desregulado do sector financeiro da economia, o desaparecimento do trabalho organizado, o aumento do estado de vigilância sobre os cidadãos e os efeitos devastadores do empréstimo predatório/capitalismo durante os anos de Obama. Todas essas coisas pioraram ou tornaram-se mais perigosas desde que Trump assumiu o cargo. Fiquei verdadeiramente desmotivado após a eleição, e honestamente, deprimido por algumas semanas. Este álbum, no entanto, é uma espécie de salva-vidas, porque está completamente alheado dos eventos actuais. É um álbum conceptual sobre uma série de assassinatos ocorridos no final de 1820 em Edimburgo, na Escócia. É uma óptima maneira de desligar o meu cérebro da pressão constante de catástrofes políticas que hoje se manifestam diariamente por aqui.
M.I. - Os 5 anos em que os Exhumed estiveram parados permitiram que começasses projectos paralelos que se tornaram bastante grandes. Podia facilmente ter decidido continuar com alguns deles mas em vez disso decidiste retirar o filho primogénito do seu túmulo. Estava a chamar pela tua atenção?
Acabei por perder o interesse no Death Metal durante um tempo, porque quem gravou o “Anatomy is Destiny” desistiram todos num intervalo de dois anos, e não parecia haver muita coisa que restasse da banda nem do tipo de Death Metal que sempre gostei. Parecia que só existia a vertente técnica, e nunca nos encaixámos com esse tipo de bandas. Com o passar do tempo, eu continuava a criar riffs brutais, e ao afastar-me do Death Metal e do Grindcore por um tempo, fez tudo parecer bastante novo para os meus ouvidos. Também gostei de tocar com diferentes músicos e aprender com eles (algo que ainda faço) e isso ajudou-me a ter confiança para tentar meter os Exhumed no activo novamente.
M.I. - Voltas alguma vez vinte anos atrás e ouves o "Gore Metal" e as suas sessões de gravação loucas, cheias de histórias rocambolescas? Que sentimentos te traz a velha discografia?
Eu sempre pensei que o “Gore Metal” resultou muito mal, o que é uma opinião nada popular, mas estava a milhas do que queríamos que fosse na época. Acabei por aceitá-lo um pouco mais agora e ocasionalmente gosto de ouvir uma faixa ou outra. Gosto das faixas do disco e adoro tocá-las ao vivo. Muitas das músicas antigas gosto mesmo muito. Acho que “Slaughtercult” é provavelmente o meu favorito dos primeiros três discos. Estou orgulhoso do que realizámos com o line-up que tinhamos na altura, definitivamente excedeu tudo o que tinhamos pensado e estou grato por isso. Tivemos imenso gozo em tocar em todo o lado e encontrar muitas pessoas incríveis, que ainda são amigos íntimos até hoje, por isso há muito boas memórias desse período.
M.I. - Eras um adolescente quando criaste os Exhumed, na década de 90. Como foi isso em termos de influências?
Quando começámos em 90/91, ouvimos principalmente coisas que eram actuais no momento como Death, Pestilence, Autopsy, Repulsion, Carcass, Terrorizer, Napalm Death, Extreme Noise Terror, Prophecy of Doom, Master, Sadus, Hexx, Entombed, Carnage, Incantation, Immolation, Atrocity (Alemanha), Dismember, Grave, Goreaphobia, Blood, Impetigo, Mortician, Obituary, Convulse, Crypt of Kerebos, Abhorrence, Immortal Fate, Blasphemy, (LA) Nausea, Godflesh e coisas assim. Além disso ainda ouvíamos material mais antigo, como Kreator, Coroner, Celtic Frost, Sodom ou Voivod. Alguns anos depois, por volta de 94/95, começámos a ouvir muito mais o thrash obscuro dos anos 80, bandas como Razor, Assassin, Protector e Infernal Majesty e fomos redescobrir os Metallica e os Slayer, bem como muita da powerviolence que estava a ser editado nessa altura, como os Crossed Out, Neanderthal, Assuck ou Spazz. Se pegares nisso tudo e colocares num liquidificador, deitares uma pitada de Iron Maiden, Venom, Mercyful Fate e Hellhammer, aparecemos nós.
M.I. - Quais os planos para a Europa na promoção de “Death Revenge”?
Estamos a trabalhar nisso para o início de 2018. Fiquem atentos!
M.I. - Uma mensagem final para os nossos leitores da Metal Imperium!
Obrigado por lerem e apoiarem os Exhumed! Isso significa muito para nós e esperamos voltar e tocar para vocês em breve! Hail and Kill - e como sempre STAY DEAD!
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Entrevista por Vasco Rodrigues