Após o lançamento do seu álbum de estreia, “Malícia”, os audaciosos Tod Huetet
Uebel ganharam alguma notoriedade entre os fãs de Black Metal mais dissonante e
experimental. No entanto, fosse este magnífico duo de um país como França, Islândia ou Reino
Unido, e seriam hoje aclamados como um dos melhores atos a tocar com este tipo de
sonoridade.
Dois anos depois estão, portanto, de volta com este EP de 23 minutos, sendo que 17
correspondem a um único, épico hino ao desespero e à cólera de um sujeito que vê a
sua vida resumida a nada, um caminho sem sentido, um negro e profundo vazio, tanto
no presente como no passado.
Apesar de algumas mudanças no seu estilo, esta dupla apresentou-nos, mais uma vez,
um tipo de Black Metal muito difícil de classificar. Tendo como base um dos microgéneros
mais infames do género, Depressive Suicidal Black Metal, os Tod Huetet Uebel
rejeitam, no entanto, as vertentes mais recentes deste estilo, que se tem tornado num
ramo depressivo de Post-rock. Ao invés, vão tirar inspiração a bandas fulcrais deste microgénero,
como Silencer ou Leviathan, caracterizadas por atmosferas cheias de ódio,
misantropia, desolação e que mantinham a chama agressiva de Black Metal presente
nas suas composições. Mas o som dos portugueses vai muito além disto, "modernizando" o seu estilo com uma dissonância cortante que acrescenta imenso ao
caos do seu ambiente misantrópico e experimentando com intrigantes e progressivas
estruturas musicais pouco ortodoxas, este duo lançou o que será, muito
provavelmente, um dos melhores EP’s do género. Este registo torna-se ainda mais coeso e
marcante devido a uma qualidade de produção extraordinária, que enaltece todos os
elementos fulcrais da música.
Instrumentalmente, este lançamento também deixa muito pouco a desejar, com uma
formidável prestação na bateria que complementa a atmosfera na perfeição e um
alienante trabalho nas guitarras com um riffing fora do comum, imprevisível, capaz de
ferir os ouvintes com tempos dilacerantes e melodias abismais. Apesar disto, o destaque
principal tem que ir para a prestação vocal, que é sem dúvida uma das mais dinâmicas
que já ouvi, demonstrando um alcance extraordinário, desde assombrosos low-growls
a agoniantes gritos de desespero e eterno ódio capazes de transmitir por completo o
sentimento de tormento e martírio do ser despedaçado por detrás da lírica.
Aconselho vivamente este EP a qualquer fã de DSBM, de bandas como
Leviathan e das sonoridades mais angustiantes e esquizofrénicas de Black Metal.
Nota: 8.8/10
Review por Filipe Mendes