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Reportagem: Master, Dehuman, Scum Licuor e Booze Abuser @ RCA Club, Lisboa - 11/11/17


Paul Speckmann é um dos nomes incontornáveis do death metal mundial, rivalizando em importância com Chuck Schuldiner ou Trey Azagthoth. Hoje afastado do “barulho das luzes” e a viver numa vila isolada no interior da República Checa, Speckmann mantém os seus Master ativos, sempre fiéis ao seu death metal old school, com influências de Possessed ou Venom. 

A passagem por Lisboa, no âmbito da “Omens of Death Tour”, era algo a não perder, pelo que a Metal Imperium foi até ao bairro de Alvalade conferir a frescura do som da banda e averiguar a sua importância, nos dias de hoje.

Os Booze Abuser tiveram a algo ingrata tarefa e aquecer as poucas dezenas de espectadores, que estavam na sala do RCA, desde a abertura das suas portas, apresentando uma mão cheia de malhas thrash metal/crossover dedicadas à sua bebida favorita e às vantagens de se estar ébrio. Nesta importante noite para a banda, o alinhamento incidiu na maioria dos temas do seu EP, de 2016, “Noise for the Drunk”. Rui Rotten foi muito comunicativo com a plateia, mostrando-se muito feliz com a possibilidade de abrir este espetáculo, ao ponto de quase parecer não querer sair de palco. Foi uma boa prestação da banda de Cascais, com faixas rápidas e bem tocadas, com destaque para “Modern Man” ou a mais longa “Death Wins”, terminando a actuação com “Noise for the Drunk”, depois de dois ou três encores não programados.

Os amadorenses Scum Liquor foram os seguintes a ocupar o palco do RCA, com  o seu Alcoholic Metal Punk a desferir golpes, na plateia mais desprevenida. Neverendoom continua a ser um dos melhores vocalistas da cena, e a banda aproveitou o concerto para apresentar todas as faixas já editadas, de “King Shit Cop” e “Demon Alcohol”, editados no ano passado, num split-EP com os Clockwork Boys, a todas as que integraram o EP “Vicious Street Scum” de 2014, faixas acompanhadas na íntegra por alguns membros da plateia. Vulturius (ou Dirty Lawbreaker, a identidade que assume aqui) esteve ao seu melhor nível, destacando-se “Toxic Necropolis” ou “Lifetime Scum”, o hino da banda e que encerrou a sua actuação.

Os belgas Dehuman não editam um LP desde “Graveyard of Eden”, de 2015, mas no próximo mês é lançado pela XenoKorp “Decay Into Inferior Conditions”, um split-LP, ao vivo, com os cabeças de cartaz Master. Por isso a banda de Bruxelas apresentou a novíssima “Morbid Sun”, bem como as duas outras faixas que estão presentes no disco, “Sepulcher of Malevolence”, de 2015, e a mais antiga “Apocalypse and Perdition” do longa-duração de estreia “Black Throne of All Creation”, de 2012. Com um death metal bem tocado, os Dehuman deixaram a plateia animada para a chegada do grande pregador do género.

Quando Paul Speckman se uniu ao baterista Bill Schmidt, para criar uma banda que soasse a uma mistura entre Venom, Motörhead e Slayer, nunca teria imaginado que seria hoje uma figura de culto do death metal mundial. O estatuto de culto no underground já o adquiriu há muito e, nesta noite, em Lisboa, foi possível ver que mesmo ao fim de tantos anos, não só há seguidores desde os primeiros dias de “Master”, a jovens adeptos do death metal da banda, que aproveitaram para se encontrar com o mítico vocalista, pela primeira vez, na capital portuguesa. Speckmann brindou Lisboa com uma actuação brilhante, que percorreu a rica discografia da banda, começando o massacre logo pela faixa de abertura de “Master”, “Pledge of Allegiance”. Do primeiro disco de originais foi interessante ver a frescura de temas com mais de 27 anos (!!!), como “Mangled Dehumanization”, “Pay or Die” ou “The Truth”, já para não falar do tema título “Master”, sons que ainda hoje rivalizam com o que de mais moderno tem sido editado no género. Do material mais recente, destaque para “Subdue the Politician”, presente em “An Epiphany of Hate”, de 2016. O final do concerto foi, como já é marca registada dos Master, com uma fenomenal versão de “Children of the Grave” dos Black Sabbath. Speckmann mostrou-se radiante por estar em Lisboa e continuar a ser tão bem recebido no nosso país, prometendo continuar a vir sempre que a tal o solicitem.



Texto por Vasco Rodrigues
Fotografia por Hugo Rebelo
Agradecimentos: Soundblast Productions