O nome desta tour poucas dúvidas deixava relativamente ao que se poderia esperar daquela noite. Através da Prime Artists, a The Wrong Tour To Fuck With trazia a solo nacional os norte-americanos Dying Fetus, devidamente acompanhados por outros três nomes de peso na cena death metal actual, Psycroptic, Beyond Creation e Disentomb. No dia 12 de Novembro, fomos então até ao Lisboa ao Vivo (LAV) para celebrar a estreia das quatro bandas na capital e, embora psicologicamente preparados, mal sabíamos o que ainda estava para vir.
Numa fria e aparentemente pacífica noite de domingo, coube aos
australianos Disentomb dar início às
hostilidades e nada melhor do que um death/grind
bem apurado para aquecer aqueles que se deslocaram até ao local mais cedo. Embora
com uma sala tímida, e alguma dificuldade em ouvir a guitarra, os temas do seu
último trabalho “Misery” foram um excelente ponto de partida para a construção
de uma atmosfera simplesmente castigadora, que duraria até ao final da noite, e
para que se começasse a acumular alguma energia cinética no pit.
Sob a máxima de “agradar a gregos e troianos”, a segunda banda a subir
a palco naquela noite seriam os Beyond
Creation e ficou claro que mantém uma base de fãs bastante fiel por terras
lusas. Os canadianos são atualmente um dos porta-estandartes da vertente mais
técnica e progressiva do death metal
moderno, com uma melodia única habilmente intrincada, na paisagem instrumental
mais agreste. Com uma setlist curta e
sobretudo assente no seu mais recente “Earthborn Evolution”, o concerto soube a
pouco. Não nos teríamos importado nada de os ouvir durante mais meia hora (no
mínimo). Cirurgicamente colocadas nessa setlist, e sobre uma bateria já de si
prepotente, estiveram as guitarras dos temas “Earthborn Evolution” e “Fundamental
Process.”
Já o calor se fazia sentir dentro daquela sala, tanto pelo movimento
como pelo número de pessoas que rapidamente havia duplicado. Já com quase 20
anos de carreira, era então a vez dos Psycroptic
nos baralharem as ideias e amassarem o corpo. Seguindo os horários à risca, mas
sem perder a atitude inconformada que lhes é característica, estes donos de um technical death metal onde as
influências são mais do que muitas, não pararam de surpreender os ouvidos dos
presentes (mesmo dos mais conhecedores). Com um vocalista que mais parecia ligado
à corrente, o movimento e interação com o público foi constante, o que contribuiu
para garantir que ninguém tirava os olhos daquele palco, durante toda a performance.
Parece que à terceira ainda não tinha sido de vez e, já algo cansados de tanto aconchego, os presentes só souberam pedir por mais. Num regresso ao nosso país passados três anos, e desta feita mais a sul, chegava a hora de fazer mexer as hordas ao ritmo alucinante do death metal que os Dying Fetus nos oferecem há mais de 25 anos. Veteranos ou não, estes norte-americanos não deixaram o caos por mãos alheias e ajudaram a reforçar a ideia de que o público português foi também talhado para este tipo de sonoridade e agressividade. De banners em palco e sempre a par e passo de uma plateia que não lhes deu segundo de descanso, entre um contínuo mosh e crowdsurfing, este trio relembrou de que fibra é feito este género musical, tanto pelos seus músicos como pelo seu público. Ali se passou mais de uma hora de agressão sonora, deambulantes entre temas dos álbuns mais recentes da banda, “Reign Supreme” e claro “The Wrong One To Fuck With” lançado no início deste ano. Entre estes não pôde faltar o tema que deu nome a esta tour e entre os momentos altos da noite ficaram outros tantos temas como “From Womb To Waste”, “Invert the Idols”, “Fixated on Devastation” e “Grotesque Impalement.” Só podemos pedir mais noites destas, desde que devidamente espaçadas para total recuperação.
Texto por Andreia Teixeira
Fotografia por Hugo Rebelo
Agradecimentos: Prime Artists