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Entrevista aos Benthik Zone

Originários do Porto, os Benthik Zone são das bandas mais únicas geradas no underground português. Ainda hoje um projeto totalmente independente, lançaram dois álbuns o ano passado que causaram alguma agitação no underground mas nada que reflita remotamente a singularidade deste projeto experimental e materializaram já no passado mês de Novembro a sua terceira manifestação e mais grandiosa até à data.

M.I. - Muito mais do que uma banda de Black Metal, esta entidade transmite àqueles que ousam submeter-se ao caos do transe cósmico uma mensagem que não passará despercebida, uma proposta, uma premissa dos mais arcanos cantos oceânicos que, quebrada, nos sentenciará inevitavelmente à ruína. Para começar, podem nos contar um pouco de como surgiu este projeto?


Bem, este projeto foi esboçado, quando ainda estávamos numa banda de 4 elementos (Druser), ou seja foi nesta altura que começamos a ganhar um gosto extremo em produzir algo que se inserisse no género Black Metal. A nossa experiência técnica foi crescendo, e em 2014 desapegamo-nos da banda, por falta de sintonia e química. Foi aí que percebemos que 2 elementos  eram suficientes para contar uma história que seria fruto de fantasias, ficções e pontos de vista críticos sobre a atualidade, que por esta altura se prendiam apenas na nossa mente. A ideia de base deste projeto foi a de conjugar um universo ficcional e documental, abordando de forma aberta o tópico - mar - e as espécies que nele habitam. A nossa intenção era criar uma  atmosfera e ambiente cavernoso, medonho e de temor. As profundezas do oceano foram o local adequado para imaginar esse mesmo ambiente. Foi também daí que surgiu a designação ”Benthik Zone”.


M.I. - No vosso álbum de estreia, nota-se o vosso fascínio pelo tema dos tubarões, em particular espécies das profundezas oceânicas. No vosso segundo álbum podemos notar a vossa preocupação pelo ciclo da água, o próprio nome da banda sugere essa temática marítima. A que se deve este fascínio e o que vos levou a escolher estes temas e o conceito que têm vindo a desenvolver ao longo dos álbuns e o que pretendem transmitir com as vossas letras?


Sim sempre houve um fascínio da nossa parte em relação a essas criaturas, mas na realidade, não passam de fantasias que fomos criando ao longo do tempo, e através dessas fantasias criámos um imaginário muito próprio e misterioso onde vivenciamos experiências nos locais mais recônditos da terra, com os animais mais estranhos e temíveis do planeta. Penso que a nossa relação com o mar já vem desde infância, e portanto é normal para nós desenvolver projetos que se relacionam com esta temática. O ciclo da água foi sem dúvida algo que nos fez refletir sobre como ele é importante para toda a fundação da vida no nosso planeta, e portanto o desequilíbrio que a nossa espécie lhe está a provocar não será de todo promissor de bons resultados.


M.I. - Em termos musicais, quais são alguns dos artistas que mais vos influenciaram?

Peste Noire, Fields of Niphilim, Lustre, Inquisition, Marduk, Nazgul, Mysticum, Drudkh, Forbidden Eye, An Autumn for Crippled Children, The Ruins of Beverast, Violet Cold, Imperceptum, Taake, Battle Dagorath, Tardigrada, Darkspace, Oranssi Pazuzu, Burzum e a maior influência: Summoning.


M.I.- Como uma banda experimental, vocês optam por instrumentos como o digeridoo e o berimbau para enriquecer a vossa música. Porquê estes instrumentos?

Penso que esta escolha provém precisamente da vontade de experimentalismo e de apreciação de elementos musicais de outras culturas, assim como usamos a guitarra portuguesa, da nossa cultura. Estes instrumentos acrescentam a componente primitiva e tribal à música, algo que foi essencial para transmitir um carácter etéreo e puro, estabelecendo uma relação de dicotomia com a parte mais eletrónica e futurista sci-fi.


M.I. - Elementos de música eletrónica estão se a tornar cada vez mais presentes em Atmospheric Black Metal. A que acham que se deve este fenómeno e o que vos chama nesse tipo de música?

O fenómeno deve- se dar graças à vontade de quebrar com certas regras pré-ditadas de como fazer o Black Metal, passando a ignorar essas regras torna-se mais largo o leque de possibilidades de criação musical, que é o que no fundo se quer fazer, evitando os rótulos pré-estabelecidos e criando cada um a sua identidade passada através da música, e se para tal ser atingido se queira recorrer a elementos de música eletrónica, que assim o seja.


M.I. - Querem continuar com a experimentação com eletrónica no futuro?

Não conseguimos bem prever o que faremos daqui para a frente, mas uma estimativa pode realmente ir de encontro com essa exploração.


M.I. - O  “Via Cosmicam ad Europam ab Gelid Inferis” foi o vosso terceiro album lançado independentemente e já conseguiram criar alguma turbulência na comunidade de Black Metal. Vocês têm a ambição de se juntarem a uma editora ou levar este projeto para o palco um dia? 

Nem por isso vamos continuar com a Underwater Records, e após questionarmo-nos bastante decidimos que não vamos atuar em palco, o que por sua vez não bloqueia de todo uma possível performance.


M.I. - A vossa música transmite uma ideia de progressão permanente devido à ausência de repetições de segmentos e a constantes variações nas camadas que compõe as composições. Podem-nos explicar como funciona o vosso processo de composição e o que pretendem alcançar com este tipo de estruturas? 

Pretendemos através desta progressão mostrar que tudo aquilo que nos rodeia está em constante transformação, inclusive as nossas emoções ideias e ações e isso manifesta-se na ausência de repetições e constantes variações na música. O processo de composição resume-se basicamente a um conjunto de riffs e ritmos que tenho (Bragadast) na cabeça e sintetizando-os de acordo com as emoções que pretendemos evocar em cada música, gravo-os e montamo-los da forma que para nós melhor transmita essa progressão.


M.I. - É também de notar a vossa dedicação na componente visual do vosso projeto demonstrada com ótimas e criativas capas e ilustrações assim como um videoclip. Quem está encarregue deste aspeto e o que pretendem adicionar à vossa música com isto?

Ambos fazemos questão de produzir artefactos, cujo aspeto visual é essencial para transmitir a nossa mensagem, bem como os vídeos que enriquecem o conteúdo e apresentam sempre mais informação que se revela importante. No que toca às ilustrações das capas, os logótipos e o design sou eu Bragadast quem está encarregue. No que toca às fotografias, vídeos e ilustrações interiores (CD) sou eu Einsichtmar. 


M.I. - Para acabar, qual o vosso objetivo principal que pretendem alcançar com este projeto?

Produzimos música por puro prazer e com encanto pelas suas qualidades, riquezas, e a sua possibilidade de criar uma transmutação do tempo em espaço.

Entrevista por Filipe Mendes