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Reportagem: Mayhem, Dragged Into Sunlight e The Omnious Circle @ Lisboa ao Vivo - 12/10/2017


Não é todos os dias que se tem oportunidade de assistir a um concerto de uma das bandas responsáveis por aquilo a que chamamos second wave of black metal. Os noruegueses Mayhem, também envolvidos numa icónica coleção de eventos macabros relacionados com a génese este género musical, tinham já visitado o país no passado mês de maio, fazendo parte do cartaz do nosso SWR Barroselas Metalfest. Esta segunda visita teve então lugar no Lisboa ao Vivo no passado dia 12 de outubro, e foi a oportunidade dos fãs mais a sul celebrarem os 23 anos do também icónico De Mysteriis Dom Sathanas, álbum único na história do black metal. A banda fez-se acompanhar por um elenco de luxo, onde contámos com os Dragged Into Sunlight e os nacionais The Ominous Circle.

Chegados ao local do concerto foi fácil perceber que íamos ficar algum tempo na fila, afinal ainda houve um número considerável de pessoas que não se conseguiu deslocar até Barroselas no início deste ano.

Os The Ominous Circle foram os responsáveis por abrir hostilidades e a aura de ocultismo que envolve o seu death black metal não deixou ninguém indiferente, nem os repetentes. Embora se apresentem em palco de cara tapada, sabemos que a banda é constituída por nomes já bem conhecidos do underground nacional e desde o lançamento do seu Appalling Ascension que, para além de uma agenda bastante preenchida, têm vindo a revelar uma constante evolução nas suas atuações, tendo sido esta uma das melhores até à data.

Após um curto intervalo chegava a altura de ouvir uma daquelas bandas onde quem não importa tanto quanto o quê, e a mensagem foi clara. Mesmo com as caras a descoberto não há grandes certezas sobre quais os elementos deste coletivo e sempre de costas para o público conseguiram criar um ambiente claustrofóbico e desesperante, para o qual contribuiu a luz vermelha, o fumo intenso e, claro, a sonoridade que ali criaram. Bastou fechar os olhos e deixarmo-nos ir. Ainda assim, o público dividiu-se, afinal este som, imagem e atitude, faz com que se goste muito ou nada. Preferências à parte, para as almas que procuram uma aura mais ritualista nestas situações, o quarteto britânico em nada as desfalcou.



As duas primeiras bandas já fizeram a viagem valer a pena, mas a verdade é que todos nos tínhamos deslocado naquela noite para ouvir o majestoso De Mysteriis Dom Sathanas ao vivo. Não é por acaso que uma banda escolhe um nome que se traduz em “desordem extrema ou violenta, caos” e foi isso mesmo que encontrámos. Alguns problemas técnicos desfalcaram a voz de Atilla Csihar nos dois primeiros temas, mas isso em nada manchou a performance destes senhores e a contínua adulação levada a cabo pelo seu público. O cenário para uma missa demoníaca estava montado. Ninguém descolou olhos do palco e ficou claro que o público sabia ao que ia, acompanhando não só os chavões de cada tema mas também os momentos instrumentais de punhos em riste. A voz de Atilla, o baixo de Necrobutcher e a bateria de Hellhammer remontam à formação original da banda, e as guitarras de Ghul e Teloch demonstraram-se mais do que à altura na representação do que terá estado nas origens do mal. Pouco ou nada podemos apontar a nível técnico, e muito menos a nível de conteúdo cénico, uma vez que Atilla se demonstrou novamente exímio na personificação do mal, com corpsepaint e vestes apropriadas a acompanharem o registo vocal único. Não houve momento de descanso, de “Pagan Fears” a “Buried By Time and Dust” onde contámos com mais uma performance do vocalista, desta vez em redor de um altar, com direito a velas e um crânio, encerrando a noite com o tema que deu nome a este álbum e um genuíno agradecimento. Sem mais palavras que possam descrever o que se presenciou, apenas podemos dizer que o mal prevalecerá.

Texto por Andreia Teixeira
Fotografias por Vasco Rodrigues
Agradecimentos: SWR Inc.