Samael é uma daquelas bandas que marcaram uma geração. O “Ceremony of Opposites” foi considerado um marco na cena Black Metal dos anos 90 mas, depois, a experimentação levou-os para caminhos mais electrónicos e industriais que afastaram alguns fãs. Felizmente a banda suíça parece estar a regressar às sonoridades que marcaram o início da sua carreira e o 11.º álbum “Hegemony”, que acabou de ser lançado pela Napalm Records, é o exemplo disso. O vocalista Vorph esteve à conversa com a Metal Imperium.
M.I. – É um prazer poder falar contigo pois sou fã há imensos anos… também aproveito para dizer que tens a voz mais sexy da cena metal!
[risos] Obrigado! É bom saber isso!
M.I. – Este ano marca o 30.º aniversário da banda. Vão fazer algo especial?
Não planeámos nada mas ter um novo álbum é um modo de celebração para mostrar que não estamos presos ao passado, que avançámos para o futuro.
M.I. – Qual a melhor memória da história dos Samael?
Uau, há tantas! Talvez seja a primeira vez que fazes algo… o 1.º álbum, a 1.ª vez que seguras nele... essa é uma memória fantástica! Também a tournée que fizemos depois de lançarmos o “Blood Ritual” e poder tocar todas as noites para um público diferente, tocar em festivais. Lembro-me da 1.ª vez que tocamos em Portugal com os Cannibal Corpse, penso que foi no Porto, era um grande espaço e os Moonspell também iam tocar... foi muito fixe! A primeira vez que tocámos no Dynamo nos anos 90, antes de surgirem todos os grandes festivais… tocar lá era o sonho de todas as bandas de metal. Mas espero que a melhor memória ainda esteja para vir.
M.I. – Já andas nisto há 30 anos… o que aprendeste sobre a indústria da música?
Éramos muito inocentes e estávamos felizes por assinar um contrato mas, depois, surgiu a internet que mudou o modo como as pessoas consomem música. Tivemos de nos adaptar para ver do que somos capazes.
M.I. - 30 anos de evolução musical e, no entanto, só editaram 11 álbuns. O último saiu em 2011, há 6 anos, que é o maior tempo de espera entre álbuns da vossa carreira. Na Primavera de 2016, entraram em estúdio com Waldemar Sorychta e, em Julho, misturaram o novo álbum na Suécia com Sefan Glaumann. O que causou a demora?
O tempo passa a correr e nem parece que passou tanto tempo, porque estivemos sempre activos. Já tínhamos todos os temas preparados em 2013. O Xy foi convidado para compor um musical para a cidade de Sion, na Suiça. Foi bom para ele, porque trabalhou com uma orquestra completa pela primeira vez. Deu-lhe muito trabalho mas foi uma experiência inesquecível. Para além disso, tivemos alterações no line-up e tivemos os concertos para comemorar o 20.º aniversário de “Ceremony of Opposites”... depois decidimos que tínhamos de parar para terminar o álbum, assinámos com a Napalm Records... e com isto passaram 6 anos.
M.I. - "Hegemony" combina tudo que os Samael aprenderam ao longo destas décadas mas não é para os fracos. Porquê?
Não sei… quem disse isso?
M.I. - [risos] A Napalm, acho eu!
Então teremos de lhes perguntar a eles! As pessoas que nos seguem sabem do que somos capazes e sabem que este álbum faz sentido. Com “Lux Mundi” estávamos a tentar marcar uma posição e, com este, tentámos juntar todas as ideias para criar a música que melhor nos representa.
M.I. – Alguns temas deste álbum fazem-me lembrar os temas mais antigos de Passage e Ceremony. É como um regresso ao passado!
[risos] É bom ouvir isso, porque nós encontramos a nossa identidade entre o Ceremony, em que começámos a incluir teclados em todos os temas, e o Passage, quando começámos a programar a bateria e a ter um som mais industrial e electrónico. Estes dois álbuns definem-nos e tentamos desenvolver o nosso som a partir daí... se consegues detectar elementos antigos neste álbum significa que há uma linha que temos seguido e que tudo faz sentido.
M.I. – O título do novo álbum significa liderança. Porquê este título?
Primeiro era para ser “Samael” já que temos um tema com este título no álbum mas pensámos que tal poderia abafar os outros temas e pôr muita pressão neste. Como sabíamos que “Hegemony” seria o tema de abertura e também é um tema forte, optámos por esse… encaixa em tudo que fizemos até agora… pelo menos, na minha ideia, encaixa!
M.I. – Sim, encaixa, tens razão! A banda não tem tido receio de experimentar... mudaram de Black Metal para Industrial Black Metal numa altura em que a cena tinha uma mente mais fechada. Foi muito complicado?
Nós não pensamos assim. Antes de mais, nunca dissemos que éramos uma banda de Black Metal. Nunca liguei a títulos mas gostava de Black Metal e de bandas como Venom, Celtic Frost, e por isso começámos a tocar este tipo de música. Quando ouvíamos bandas como Godflesh e Ministry, pensávamos que tinham elementos parecidos com os nossos e que se calhar resultariam connosco também. Nem acho que seja muito metal preocuparmo-nos com o que as pessoas pensam!
M.I. – Como é que os fãs têm reagido aos novos temas?
Tenho lido comentários porque andei a ver, também já tocámos 3 temas ao vivo e têm resultado muito bem e o álbum ainda agora acabou de sair.
M.I. – De acordo com a banda, o processo criativo de “Hegemony” demorou quatro anos e é um álbum sobre o mundo em que vivemos... é sobre a mudança e a evolução. Pensas que é vosso dever abrir os olhos da sociedade para os perigos de hoje em dia?
Não! [risos] Não penso que temos o dever de fazer nada. Somos artistas e, se ao expressarmos o que sentimos, conseguimos conectar-nos com algumas pessoas a um nível mais profundo, isso é um bónus. Não estamos aqui a tentar pregar ou a apontar o dedo a nada. Isto é uma reflexão.
M.I. – Quem ou que é que inspira os Samael?
Isso muda com o tempo. Quanto mais velhos ficamos, mais podemos falar das nossas experiências. Eu li muitos livros e fui adquirindo conhecimento e experimentando coisas na minha vida que abordo nas letras que escrevo. Não penso que a minha vida tenha mudado radicalmente para que a minha mente tenha mudado muito... por isso, este álbum é uma reação e uma reflexão sobre a vida que temos agora.
M.I. – As tuas letras incluem frequentemente as palavras luz, força, terra… porquê a obsessão com estas palavras?
A sério? Nunca analisei isso mas, se tu dizes que sim, terei de concordar contigo.
M.I. – E então, porque as usas?
É tão estranho… nem sei bem. Penso que estão relacionadas com o lado obscuro da vida. Salto muito de um lado para o outro mas tento sempre encontrar um ponto de equilíbrio.
M.I. – O video para “Black Supremacy” é bastante forte. Qual o conceito?
Eu tinha algumas ideias mas depois ficou ligeiramente diferente. Foi um vídeo gravado numa noite, em poucas horas. O produtor também é metaleiro e fez sugestões que achamos interessantes e alinhamos nelas.
M.I. – Os lyric vídeos para “Red Planet” e “Angel of Wrath” foram escolhidos por vocês ou pela Napalm?
O 1.º foi o vídeo para “Angel of Wrath”. Foi feito por um russo que já fez coisas para nós no passado. O 2.º para “Red Planet” foi escolhido pela Napalm. Não nos importava o que escolhiam, qualquer um servia porque achamos que todos são bons temas. Acho que esse foi feito por alguém no Reino Unido.
M.I. – Estão a planear novos vídeos?
Gostaríamos de os fazer mas terá de ser mais tarde. Sei que o tema “Hegemony” foi lançado entretanto mas só como áudio, não como vídeo.
M.I. – A capa do single “Angel of Wrath” lembra as capas de Samael há muitos anos e poderá assustar os fãs mais recentes…
Penso que tens razão. É engraçado porque a nossa primeira capa foi desenhada por um tatuador… eu tinha uma tatuagem na mão e queria algo desse género e recorri a um tatuador para o fazer. A capa e t-shirt de “Angel of Wrath” foram também desenhados por um tatuador, mas não o mesmo!
M.I. – Por acaso, a letra de “Red Planet” alerta a humanidade para a destruição do planeta?
É assim… cada ouvinte interpreta o tema à sua maneira e não há interpretações erradas. Quando escrevi a letra, estava a pensar em algo mais abstracto mas agrada-me a tua interpretação!
M.I. – Problemas ambientais, poluição e população excessiva preocupam-te?
Eu não tenho filhos, por isso não contribui para a população excessiva e não penso que irei contribuir porque não é algo que quero. Todos vivem a vida como querem e eu não quero apregoar as minhas escolhas como se fossem melhores que as outras. Cada um sabe de si. Existem problemas ambientais e todos os conhecem mas cada um faz como quer. A próxima geração terá de pagar o preço.
M.I. – O novo álbum contém 13 temas que foram lançados no dia 13 de Outubro. Alguns acreditam que é um dia mau e tu? A data foi escolhida propositadamente ou foi coincidência?
Foi coincidência. Não sou uma pessoa supersticiosa mas gosto desta ideia por ser divertida e acho que é uma boa data.
M.I. – Em Janeiro de 2017, a banda assinou contrato com a Napalm Records… como estão a correr as coisas?
Muito bem. Eles já estavam interessados na banda há algum tempo, mesmo antes de assinarmos com a Nuclear Blast, editora com quem lançámos 3 álbuns. Desta vez, decidimos assinar com uma editora que não tivesse milhares de bandas para se poder concentrar mais em nós. Visitámos as instalações da Napalm em Berlim e fizemos alguma promoção lá e sentimos uma vibração e energias especiais que nos fizeram sentir bem.
M.I. – A banda já tem algumas datas de concertos marcadas mas haverá uma tournée para promover o novo álbum?
Não sabemos. Tocaremos em festivais e já temos mais alguns que ainda não anunciamos. Eu gostaria de andar em tournée mas teria de ser algo que fizesse sentido. Se começarmos a programar as coisas em Janeiro, nunca começaremos antes do Verão e eu gostaria de o fazer antes do Verão, senão ficará muito tarde.
M.I. – O vosso catálogo é muito variado em termos sonoros. É muito complicado escolher o alinhamento para os concertos?
Não nos podemos queixar! [risos]! Há temas que costumamos tocar e até parece que o concerto não fica completo sem eles. Quando se lança um novo álbum, é normal incluir 2 ou 3 temas novos no alinhamento mas nós queremos incluir 6 ou 7, já que já estávamos a tocar 3 antes de o álbum sair.
M.I. – Os Samael já vão no 3.º logo… usaram o 1.º até ao álbum “Ceremony of opposites”, o 2.º desde “Passage” até “Lux Mundi” e o o 3.º surgiu agora... porquê a mudança constante?
Porque encaixam com a música e com o nosso estado mental. Também penso que já vamos no 3.º logo mas calculo de modo diferente. O 1.º usamos porque lembrava raízes e marca o nosso começo. O 2.º, nem considero logo, era mais um tipo de fonte limpo em que se percebia perfeitamente a palavra Samael. Neste 3.º logo usamos algo mais geométrico e minimalista.
M.I. – Para celebrar o 20.º aniversário de “Ceremony of opposites”, tocaram o álbum na íntegra em alguns concertos. Como é que os fãs reagiram?
Reagiram muito bem. Também tocamos em Lisboa.
M.I. – Estou no Porto e não fui ao concerto, infelizmente!
Então deveríamos ter feito dois concertos em Portugal! Foi bom tocar material antigo com o novo line-up e dar a oportunidade aos novos membros de o tocarem ao vivo. Nesta semana tocá-lo-emos na Califórnia mas também incluiremos temas novos já que somos os cabeças de cartaz e temos mais tempo.
M.I. – Que fãs sortudos! Também têm o projecto W.A.R. (Worship And Ritual) sob o qual tocam os dois primeiros álbuns de Samael “Worship him” e “Blood ritual”. Porque não usam o nome Samael?
Porque, se nos vamos limitar aos dois primeiros álbuns, não é o que somos hoje em dia. A nossa identidade surgiu com o Ceremony e Passage e, para quem nos descobriu depois disso, seria confuso ir ao concerto e ver algo completamente diferente do que estavam à espera. Assim, o pessoal sabe ao que vai e ninguém se sentirá enganado. Para já, só fizemos 2 concertos aqui na Suiça mas já recebemos mais propostas, contudo não sei ao certo quantos concertos faremos.
M.I. – Conheces bandas da cena portuguesa, para além dos Moonspell?
Pois, não conheço… ouvi falar dos Sinistro por andarem em tournée com…
M.I. - Paradise lost!
Yeah! Recomendas alguma banda?
M.I. - Sim, Sacred Sin, Heavenwood, Holocausto Canibal…
Ok, vou ouvir então!
M.I. – Quando é que os portugueses poderão ver Samael ao vivo de novo? Em 1996, fui a um concerto no Porto em que tocaram com os Sentenced, Tiamat... nunca mais vos vi e tenho tantas saudades. Têm de voltar rápido!
Nós queremos regressar, no próximo ano com certeza.
M.I. – Dizes que ouves todo o tipo de música… o que estás a ouvir de momento?
De momento, não tenho muito tempo para ouvir música… nem para nada!
M.I. – Escolheram Aline Fournier para fazer as fotos promocionais do novo álbum. Não sendo uma artista associada a bandas metal, como surgiu a ideia de a escolher?
Bem, ela mora perto de nós e já a conhecíamos. Gostamos do modo como trabalha, apreciamos a sua sensibilidade e estamos muito satisfeitos com o produto final.
M.I. – Achas que devo comprar o vinho Merlot dos Samael?
Não está à venda! Mandámos fazer algumas garrafas e bebemo-las quase todas com amigos e família. É complicado vender vinho na Europa por causa das taxas cobradas. Não compensa! Mas em Portugal também há vinhos muito bons!
M.I. – Vorph, muito obrigada pelo teu tempo. Por favor deixa uma mensagem aos fãs e leitores da Metal Imperium.
Epero que tenham oportunidade de ouvir o novo álbum e que gostem. Não posso dizer quando iremos a Portugal mas esperamos voltar o mais rápido possível e talvez nos possamos conhecer!
Entrevista por Sónia Fonseca