Vindos dos Países Baixos, Carach Angren começaram em 2003. São uma banda de black metal sinfónico que compõe cada um dos seus álbuns à volta do conceito de histórias de terror. O seu quinto álbum de estúdio “Dance and Laugh Amongst the Rotten” foi lançado este mês e nós falámos com Clemens “Ardek” Wijers, o homem por detrás do teclado e das orquestrações, para nos falar sobre ele.
M.I. – Antes de mais, de onde veio a ideia para o nome do álbum e para todo o conceito que envolve?
Depois de termos lançado “This Is No Fairytail”, que foi um álbum muito complexo em termos de horror, nós sentimos a necessidade de mudar de direcção mais uma vez sem perdermos o cerne da nossa música e das nossas histórias. Durante o processo de composição, eu senti a necessidade de colocar mais melodias e partes mais épicas e chamativas. E foi isso que nós fizemos. A ideia para a história veio logo a seguir. Desta vez, eu queria incluir o ouvinte na história e acho que conseguimos fazer exactamente isso, tendo em conta as reacções que temos obtido até ao momento.
M.I. - Na minha opinião vocês recriam com sucesso o som do clássico black metal sinfónico com a mesma qualidade. “Dance and Laugh Amongst the Rotten” leva-nos de volta ao tempo em que “Midian” e “Death Cult Armageddon” reinavam. Vocês inspiram-se em alguma banda de black metal, actual ou não?
Para ser honesto, eu sinto que levámos o nosso som numa direcção bastante diferente, dado que somos contadores de histórias de terror. A nossa música incorpora black metal, death metal e até elementos de metal industrial, tudo isto realçando a parte do contar histórias. Por isso nós temos a tendência de nos autointitular de “Horror Metal”, dado que sentimos que se adequa mais à apresentação de Carach Angren tanto nos álbuns como nos concertos. O nosso objectivo é tornarmo-nos na maior banda de horror metal do mundo, inspirando e entretendo as pessoas através de implacáveis furacões de histórias de horror.
M.I. - Sentiram-se desafiados ao criar este álbum? Pensam que deu mais trabalho e que foi necessária mais preparação do que para criar os anteriores?
Sim, porque primeiro que tudo… em cada álbum crescemos como artistas. Tornámo-nos melhores naquilo que nos propusemos a fazer. Estamos sempre à procura de coisas novas que nos inspirem a criar uma nova história. Em segundo lugar, certificámo-nos que tudo corria bem para este lançamento. A música e as letras claro, mas também a embalagem e o novo vídeo têm bastante importância na história em geral na percepção dos fãs. Deu bastante trabalho, mas é para isso que cá estamos. Trabalhar duro e ser apaixonado em atingir o objectivo que já mencionei.
M.I. - Como foi a experiência de gravar um novo álbum? É sempre o mesmo sentimento ou com cada novo álbum vocês ficam mais entusiasmados?
É sempre entusiasmante gravar novas músicas porque mostra as ideias novas e é assim que deve ser. Por causa da ideia de incluir o ouvinte na história em si, eu estava pessoalmente entusiasmado em ter tudo pronto, sim. E também quando se faz algo durante muitos anos, cada vez se torna melhor, por isso é realmente pura paixão tocar imensos concertos, pensar em novas músicas e letras, voltar e gravar tudo com uma óptima equipa à nossa volta.
M.I. - Muitas bandas de black metal tendem a focar-se em tópicos como Satanás. O que vos fez decidir focarem-se no terror em vez disso? E o que vos inspirou para criar álbuns tão conceptuais?
Nós temos feito isso desde o nosso primeiro lançamento (The Chase Vault Tragedy). Sempre me senti como um compositor de filmes, quando componho, tenho sempre uma imagem na minha cabeça ou uma emoção forte que quero capturar na música. Por isso naturalmente fez sentido fazer isto e tornámo-nos melhores nisso ao longo dos anos. Seregor é como um actor mundialmente famoso, representando todas as narrativas doidas que colocamos nos álbuns, por isso pode ver-se Carach Angren como um filme sem fim. O que as outras bandas fazem é com elas, nós sentimos que criámos o nosso próprio caminho e vamos continuar a caminhar nele.
M.I. - Não só vocês têm um conceito sinfónico e lírico bastante bonito, mas também o contar de histórias e a poesia envolvida nas vossas letras. Quase que sentimos que estamos numa peça de teatro horripilante e obscura. Fala um bocadinho de onde essas influências vêm.
Nós somos influenciados por muitas coisas ao mesmo tempo. Filmes, livros, histórias que nos contam e a nossa imaginação “anormal”. Combinamos elementos de histórias já existentes com coisas que inventamos. Neste álbum eu senti que algumas personagens reais falaram comigo (Charles Francis Coghlan). É como se os mortos quisessem ser ouvidos e perceber que através da nossa música as pessoas irão aprender mais sobre as vidas deles é intrigante.
M.I. - Os conceitos líricos deste álbum são uma continuação dos álbuns anteriores?
Não, isto é uma história totalmente nova. Deixa-me explicar-te. Durante a primeira faixa “Charlie” nós apresentamos-te a uma rapariga que está a brincar com um tabuleiro de ouija. A ideia é que as pessoas tendem a experimentar coisas que sabem que são perigosas. Algo perigoso tem tanto um lado assustador como atractivo em si, as pessoas arriscam e assim fez esta rapariga. Ela encontra uma força chamada “Charlie” e foge porque o espírito não parece feliz. A ideia é que enquanto ela foge, nós – os ouvintes – ficamos com o tabuleiro de ouija e encontramos outros fantasmas a contar as suas histórias. Então todas as outras músicas são encontros que temos através do tabuleiro de ouija. Há uma música estranha, chamada “Pitch Black Box” que não faz sentido nesta narrativa e mais tarde vamos perceber porquê. Na última música percebemos o que aconteceu realmente com a rapariga. O demónio “Charlie” mata-a. É revelado mesmo no fim da música que Charlie já lá estava, não veio do tabuleiro de ouija mas de uma caixa negra que a rapariga tinha encontrado um mês atrás. Depois a música dirige-se ao ouvinte: “Abriste a caixa antes de ouvires esta música?”, revelando que o ouvinte também está em sérios problemas porque o álbum vem numa caixa preta. Sempre quis fazer isto e espero que as pessoas gostem.
M.I. - Em termos da vossa tour, será possível que, no final deste ano ou algures no próximo, a banda faça um concerto em Portugal? Tem-se falado sobre isso dentro da banda? Estariam dispostos a isso?
Nós vamos dar o máximo de concertos que pudermos, mas tudo depende das ofertas que nos chegarem. Há muito a passar-se nos bastidores porque queremos apresentar o nosso álbum mundialmente. Se és nosso fã, fala com os promotores locais e isso vai aumentar a possibilidade de nós irmos aí. Esperamos vê-los em breve e assombrar-vos para sempre!
Entrevista por Catarina Gomes