Os suíços Schammasch já não são estranhos nenhuns, no panorama do Black Metal atual. Tendo ganho exposição especialmente o ano passado, com o monolítico triplo album, “Triangle”, os Schammasch têm sido uma constante referência para o Avant-Garde Black Metal moderno e, um ano depois apenas, estão de volta com uma obra que representa o início de um novo ciclo.
Enquanto que o precedente, “Triangle”, marcou o final da trilogia numérica de álbuns e uma catarse conceptual da banda, este novo EP, “The Maldoror Chants: Hermaphrodite”, marca o início de uma nova era na carreira da banda, não apenas por constituir a primeira manifestação de uma nova série de lançamentos inspirados no romance poético, “Les Chants de Maldoror”, escrito por Isidore-Lucien Ducasse; como pelo facto de representar um marco importante na evolução sónica dos helénicos.
Para quem ouviu o “Triangle”, este EP pode ser sucintamente descrito como um híbrido entre o 2º e 3º discos desse album. É um album Avant-Garde em toda a sua essência e uma experimentação com atmosferas e emoções que se vai tornando progressivamente mais intensa e envolvente à medida que o album progride, focado em narrar uma história e em mergulhar o ouvinte nas profundezas do seu próprio pensamento, desafiando-o a autoavaliar-se e a combater os repugnantes preconceitos da humanidade.
Apesar de tudo isto, a característica mais única deste EP é o modo como a banda rejeita por completo a composição musical formulaica e estruturada e se foca na fluidez das músicas, na naturalidade com que a instrumentalização flui ao longo destas 7 faixas, sendo esta composta por riffs magnéticos, geralmente em tempos lentos, que funcionam como uma tela de Dark Ambient sobre a qual são pincelados os outros elementos, uma prestação memorável na bateria com uma execução absurda e um estilo totalmente distinto fundindo percussão tribal com blast beats e uma sólida execução vocal que varia entre solenes linhas de Spoken Word e belos coros ritualísticos.
Este é o protótipo de obra que deve ser ouvida na íntegra, de início ao fim, pois nenhuma das suas faixas faz sentido isolada.
Acho portanto de louvar a tentativa dos Schammasch de continuar a expandir os horizontes de Black Metal e, apesar desta obra não estar isenta de falhas nem de alguma excessiva repetição de ideias, é uma que não deve ser ignorada neste ano de 2017 e que desperta a curiosidade para o que os suíços irão conjeturar no futuro.
Nota: 8.4/10
Review por Filipe Mendes