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Entrevista aos Ignite the Black Sun



Após o lançamento do álbum “The monster rears its head” e do EP “Vermin”, os Ignite the Black Sun continuam a incendiar... A Metal Imperium Magazine esteve à conversa com Paulo Gonçalves (ex-Formaldehyde, ex-Shadowsphere e vocalista de Rasgo):

M.I.- Tendo em conta as diversas conotações associadas ao nome da banda, qual a razão da sua escolha?

O “black sun” é o primeiro passo na transmutação para atingir a eternidade. O simbolismo, como tantos outros, foi roubado pelos nazis, mas, cabe a nós todos sobrepormo-nos à conotação negativa e trazer o que há de bom e positivo num dos grandes objetivos do Homem ao longo do tempo – atingir a eternidade.


M.I.- O vosso estilo define-se como death metal melódico. Concordas com essa definição? Como defines o vosso estilo?

Em parte. Eu não consigo colocar um rótulo na nossa sonoridade, sou-te sincero. Mas passa por aí, pelo death metal melódico. Pode ter algumas nuances de groove, algo associado ao chamado metalcore. Nós vamos beber de influências bastante díspares. Pode passar pelo gótico, pelo rock, pelo próprio death metal. Não seguimos uma linha certa. Nós deambulamos muito em experimentações, experimentar algo mais pesado ou mais melódico. Neste caso, pode passar por cantar, não é algo que seja de todo o meu campo, mas que tenho total abertura para experimentar, o que torna difícil aplicar o rótulo no nosso som. Digamos que é metal, depois o resto fica ao critério de quem ouve.


M.I.- Quais são as vossas principais influências?

São várias. Eu, falando por mim, a minha maior influência, mesmo em termos de vocalização, é, e foi sempre, Hypocrisy, por exemplo. Mesmo os At the Gates, In Flames,... Estes dois últimos não são influências que eu aplique nos Ignite The Black Sun. A coisa também passa por... olha, não te sei dizer agora em concreto bandas. Mas, passa um pouco por um bocadinho de tudo, até mesmo fora do espectro metaleiro; tais como, a Leine Lovich que é uma das artistas das quais nós fazemos uma versão no nosso EP.


M.I.- A propósito... Existem algumas versões nos vossos trabalhos. Porquê uma versão de “Angels” de Lene Lovich no vosso EP? 

O nosso propósito nisto não seria uma banda de metal fazer uma versão de outra banda de metal. O desafio aqui, que nos propusemos, foi mesmo modificar um tema ou vários temas, de géneros que não têm nada a ver com o nosso nicho, neste caso, e aplicar-lhes algum peso e a versão da Leine Lovich é uma delas. Tal como temos a dos Doors, tal como temos a “Somebody Super like you” que é de um filme dos anos 70 do Brian De Palma que se chama “Phantom of the Paradise” que se pode dizer que é uma ópera rock até (que é um filme que eu desconhecia, sou sincero). O Nuno mostrou-me o filme e é um filme interessantíssimo com músicas muito boas de digerir e mesmo de pegar para trabalhar e dar-lhes uma cara nova dentro do nosso género. Quisemos fugir mesmo ao padrão de fazer versões de bandas que sejam influências diretas. Acho que até torna a coisa um pouco mais interessante, seja no processo criativo, seja no lado do ouvinte. Acaba por ser algo completamente diferente. E havemos de fazer mais com certeza.


M.I.- Como descreves a vossa evolução desde a tua entrada na banda, tendo em conta a alteração do lineup?

Na altura, antes da minha entrada, a banda funcionava como um trio, estava o Nuno encarregue das vozes. Na altura em que eu entrei, eles já estavam em processo de terminar o primeiro disco que se chama “The monster rears its head” e, aquando a minha entrada, já não havia muita margem de manobra nem muito tempo a perder com a colocação da minha voz nestes temas. Mesmo durante a minha estadia nos Shadowsphere, eu já estava de certa forma a trabalhar proximamente com o Nuno, já em temas novos e a ensaiar os temas do 1.º álbum, para ver como é que seria a adaptação, se soava bem comigo e tudo o mais. Em termos de evolução, creio que as coisas fluíram de forma natural, até quase descomprometida, até começarmos a traçar os nossos objetivos e os prazos. Mas sempre foi tudo de uma forma muita aberta, em termos da composição, em termos de colocação de ideias. Foi tudo feito de forma muito descontraída e livre.


M.I.- A vossa presença em palco é bastante forte. Consideras que os elementos da banda, atendendo também ao seu percurso musical, se encontram em sintonia?

Sim. Eu creio que ainda há algo que está constantemente a ser trabalhado à medida que vamos tocando ao vivo, mas acho que a coesão ao longo dos concertos vai sendo cada vez maior; o conforto em palco também é cada vez maior, o que se traduz depois numa postura segura e forte, que é isso que queremos transmitir a quem nos vê. Não queremos de todo estar a mostrar que estamos atrapalhados ou desconfortáveis, de forma alguma.


M.I.- Qual foi o impacto do primeiro álbum “The monster rears its head”?

Sinceramente, eu creio que passou um bocadinho ao lado de toda a gente. Foi uma edição um pouco discreta e também foi muito próxima. O lançamento foi muito próximo à edição do EP “Vermin” pelo que foi uma passagem algo discreta. Houve uma review feita numa revista nacional que não foi uma crítica muito positiva, mas que deu, de certa forma, alento a que trabalhássemos com mais afinco e acredito que, com esta alteração do lineup, as coisas sejam avaliadas agora de uma forma diferente e mais positiva. Mas o que estamos a fazer atualmente nos nossos espetáculos ao vivo é, de certa forma, também uma promoção ao 1.º disco saído já em novembro de 2016.


M.I.- Qual o feedback do EP “Vermin”? Está de acordo com as vossas expectativas?

Sim, mas mesmo assim ainda estamos a trabalhar para nos darmos a mostrar ao mercado que existe - esta banda com estes elementos todos já com cartas dadas neste espectro e não há forma melhor de divulgar isso do que a tocar. As pessoas agora, creio que, como há tanta banda, tanta música, têm tendência a dispersar ou a abstrair-se ou mesmo nem dar conta do que vai surgindo de novo e tentamos fazer com que o nosso trunfo seja hoje ao vivo. Mostrar o nosso som ao vivo e ter uma boa reação e a palavra passa palavra, irmos tendo mais malta curiosa que vai descobrindo, que vai comentando, que vai gostando. Estamos a funcionar um pouco assim, em termos de promoção.


M.I.- Depois do vosso último concerto, no passado dia 5, no Stairway Club, em Cascais, há mais datas agendadas para breve? Para quando o tão esperado segundo álbum?

Para já não. Nós estamos em processo de composição do próximo trabalho que será já um álbum e não um EP. Estamos a tentar que o álbum seja editado ainda este ano, talvez para o final do ano, se tudo correr bem. Portanto, não é prioridade agora estarmos a tocar, mas é óbvio que se surgir alguma proposta, algum convite para tocarmos em algum lado, nós não vamos recusar, obviamente. Mas, estamos mais focados no processo de composição e gravação ao longo deste ano. 


M.I.- As vossas letras são essencialmente acerca de lutas pessoais e da sociedade. O que pretendem transmitir?

“Transmitir” não sei se será o termo mais indicado, mas é mais uma questão de partilha de experiências ou de vivências e de emoções. Também de coisas que nós tenhamos passado ou que estejamos a sentir em determinada altura. Passa apenas por isso: uma interpretação dessas experiências da vida, do nosso passado, do nosso presente, do que esperamos do futuro. É algo assim simples e real também, mas não quer dizer que não surja um tema ou outro que roce mais o lado da fantasia, do romance, quiçá. Está tudo aberto ainda nesse sentido.


M.I.- Muito obrigada pelo teu tempo. Gostaria apenas de pedir que deixes uma mensagem aos vossos fãs e aos nossos leitores.

Quero agradecer à Metal Imperium e a ti pelo tempo e pelo interesse. Agradecer a todos os que nos conhecem, os que nos ouvem e apreciam o nosso som. E aos que não conhecem, que procurem, que oiçam, que deixem os seus dois cêntimos de opinião, que comprem, que apareçam nos concertos, teremos todo o gosto em trocar umas palavras e, quem sabe, uns copos também. Muito obrigado.

Entrevista por Dora Coelho