Se este fosse um álbum mau, o seu título dava para fazer tantos trocadilhos com a suposta qualidade do disco, que até dava para compor uma crítica inteira com base nisso. Mas lá está: “se fosse”, o que deixa logo esclarecido que não é um caso desses, até porque uma situação dessas seria pouco provável e quem já teve contacto com este coletivo germânico, sabe que o trabalho deles é de qualidade, sendo os seus dois álbuns anteriores a este – “IIII” e “Insects” – boas provas que os Farsot se esforçam para fazer um post-black metal que não desaponte os apreciadores do género.
“Fail.Lure” surge cerca de seis anos após “Insects”, o que já é algum tempo e quando há estes intervalos maiores, muitos ficam a pensar se existiram mudanças significativas na sonoridade da banda. O tema de abertura “Vitriolic” vem desde logo responder a essa questão expondo uma panóplia de texturas numa só faixa, com secções contemplativas e límpidas, tanto a nível vocal como instrumental que se transformam naturalmente em momentos negros, sujos e raivosos e tudo devidamente equilibrado. E a melhor parte é que estas qualidades se perpetuam ao longo do álbum onde figuram momentos como os ganchos fortes presentes em “With Obsidian Hands”, misturados com o black metal encorpado da faixa e alguns momentos em que a emoção forte é a angústia, muito bem expressa na voz, a qual, diga-se de passagem, consegue ser surpreendentemente percetível em todas as suas formas, inclusive a berrada. “Circular Stains” é em si também um tema circular, pois há um padrão que se repete na música, mas inteligentemente talhado para ter sempre o seu bocado de diferença que mantêm o ouvinte bem agarrado;uma técnica que os Farsot replicaram mais perto do final com “A Hundred To Nothing”, se bem que não tão bem conseguida como nesta aqui.
Outro destaque é o tema de encerramento do disco: “Watertower Conspiracy” é a faixa mais singular do álbum, deveras a mais singular! Trata-se de uma solene viagem de 20 minutos, onde a componente metal de guitarras, baixo e companhia são substituídas por elementos eletrónicos, mais típicos de dark e minimal wave que conseguem conceber uma atmosfera de imensidão e desolação. É um tema que vai dividir os ouvintes, especialmente por nem parecer ser da mesma banda, contudo a sua natureza encaixa-se perfeitamente na mesma do resto do álbum que, para melhor ou pior, encerra.
Os Farsot dão assim mais um salto qualitativo na sua sonoridade. Em seis anos não se pode dizer que a sua música melhorou, antes que terá evoluído neste sentido que consegue pintar com a mesma tinta perdição, loucura, êxtase e sobriedade. E a cor da tinta é preta.
Nota: 8.7/10
Review por Tiago Neves