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Entrevista aos Primal Attack


Depois do álbum de estreia “Humans” que tão bem foi aceite pelo público e crítica, este coletivo apresenta agora novo trabalho que nos oferece algumas surpresas. A propósito do lançamento do novo álbum “Heartless Oppressor, a Metal Imperium propôs-se a espreitar por trás da cortina deste projeto, que segue caminho com passos firmes e assertivos.

M.I. – Se os Primal Attack tivessem que criar um slogan para promover o vosso novo álbum “Heartless Oppressor”, qual seria?


Miranda - Talvez “Nós gostamos, e tu?” (risos)


M.I. – Depois de ouvir este álbum, apesar de achar que continuam na linha do “thrash metal’’ que vos caracterizou no primeiro álbum, penso encontrar alguns laivos de outras “ disciplinas” do metal e mesmo de outros géneros musicais. Confirmam a exploração de estes outros caminhos sonoros? Foi consciente, propositado ou deixaram-se levar?


Miranda - Apesar da raiz da banda ser o thrash metal, penso que já no Humans havia muita coisa um pouco fora desse registo, no “Heartless Oppressor” havia a vontade de expandir ao máximo possível a nossa paleta musical pois, entre todos nós temos influências que vão desde Pink Floyd a Behemoth (risos).
Pica - Apesar de ser a base da banda, até acho que o thrash é o estilo menos ouvido por nós. O que torna a coisa divertida, pois não somos influenciados pelo estilo. Diria que é a nossa visão do thrash com todas as influências pessoais misturadas!
Miguel Tereso – Hoje em dias as pessoas sentem a necessidade de rotular tudo, especialmente neste meio. E isso condiciona imenso a criatividade das bandas, contribuindo também para o actual factor de “música-mais-do-mesmo”. Este álbum tinha como um dos objectivos ser difícil de rotular e fazermos simplesmente o que gostamos sem ligar às “regras” dos géneros.


M.I. - Estes novos caminhos percorridos, transparecem o vosso amadurecimento enquanto músicos e seres humanos?


Miranda – Sim, é notório que este álbum é muito mais complexo que o anterior em todos os aspectos e, neste caso, foi mesmo o álbum que quisemos fazer. A parte da exploração de novas sonoridades, para nós acaba por ser uma coisa natural, pois não estamos nem queremos estar “trancados” a determinado estilo musical só porque alguém acha que sim.
Miguel Tereso – Os anos passam, os gostos refinam, adquire-se mais experiência, seja nos palcos ou em casa a compor/gravar. Descobrem-se novas ideias e caminhos para explorar, o que resulta naturalmente num amadurecimento da sonoridade.


M.I. – O tema “Heart and Bones” é reflexo dessa ousadia de desbravar caminhos sonoros inexplorados?

Miranda – Sim, é um tema um pouco diferente, até a nível de estrutura da música em si.
Pica - É sem dúvida um tema que marca este disco, e que mais prazer deu a gravar!

M.I. – Ainda a propósito dos outros caminhos sonoros, quando iniciam uma nova composição, é a música que se vai construindo por si própria ou são os Primal Attack que tomam a dianteira da construção e destino da mesma?

Miranda – Depende, felizmente ainda não temos uma fórmula mágica para a composição de músicas, muitas podem vir de ideias faladas, outras pode ser um riff de guitarra ou uma batida e é a partir daí que vamos explorando por onde é que música nos leva e por onde é que podemos ir.


M.I. – As vossas telas musicais são desenhadas por consenso após cedências, experiências, tentativa e erro ou cada tela é o resultado final do contributo individual da vontade de cada um de vocês e daquilo que cada um de vocês entende entregar a cada tema?

Miranda – O nosso principal compositor é o Tereso, normalmente ele gosta de mostrar músicas já “finalizadas”, algumas vezes as coisas já estão bem e não temos necessidades de mexer, mas, sempre que tenho alguma ideia para determina parte não temos problema nenhum em começar a remexer na música até que, no final, já nada tem a ver com a primeira ideia. Basicamente as nossas músicas estão “fechadas” quando achamos que já não há ali mais nada para explorar.


M.I. – Quando compõem, surge primeiro a música ou a letra?

Miranda – Até agora foi sempre a música, não quer dizer que não possa acontecer no futuro termos determinada ideia a nível de letra e tentar a partir daí, mas, até agora, a música vem sempre primeiro.
Pica - Acho que será sempre assim, pode aparecer uma ideia de letra primeiro, mas só depois do instrumental conseguimos encaixar e escrever uma letra que resulte e nos deixe satisfeitos!


M.I – Sinto nas letras de Primal Attack uma consciência social. É uma preocupação da banda? Transparece o vosso olhar sobre o mundo?

Miranda – Sim, a nível lírico, neste álbum, o Pica aceitou deixar-me escrever algumas coisas e acho que conseguimos uma parceria muito boa, e este álbum fala mesmo sobre o nosso olhar sobre o mundo, todos os temas são sobre eventos que vivemos ou observamos.
Pica - São 3 anos que separam os dois discos, onde muita coisa aconteceu, muita coisa mudou nas nossas vidas e tudo está neste “Heartless Oppressor”. A ideia de ter o Miranda e, numa fase mais final, o Tereso, a participar nas letras foi óptimo, pois cada música ganhou muito com isso e não perdeu o sentido.


M.I. – É importante para os Primal Attacl a mensagem das vossas músicas?

Miranda - Tanto para mim como para o Pica as letras não são só gritos que estão na música, é importante dizer alguma coisa. Neste álbum, especialmente, tivemos um cuidado especial em não ser tão negativos em relação às coisas e de passar uma mensagem mais positiva sobre a vida.
Pica- Tivemos um cuidado acrescido no que toca à dicção, letra e mensagem, para aumentar o impacto sem perder peso.
Miguel Tereso – Para mim, a mensagem é muito menos importante do que a maneira como é transmitida. Interessa-me muito mais acertar a emoção, convicção e musicalidade da performance/interpretação, que propriamente o sentido e mensagem de quem a escreveu.


M.I. – Já agora, por mensagens, o nome da banda denota um ataque primitivo, instintivo, animal. A vossa música é um ataque como resultado da expressão crua do vosso eu, enquanto banda, ou é o ataque necessário ou propositado para sacudir mentes?

Miranda – Penso que o nome da banda vai ganhando mais significado conforme o tempo vai passando, quando escolhemos o nome para a banda nem pensámos muito na lógica ou significado do mesmo, mas penso que com o passar do tempo o nome faz cada vez mais sentido.


M.I. – Na sequência do significado do vosso nome, as faixas “Strike back” e “Truth and consequence” são tradução do vosso posicionamento no mundo e da vossa visão?

Pica – Sim, sem dúvida! A “Strike Back” é sobre mudar de vida, ir atrás de algo sem perder a noção de que vai ser duro, mas que no final tudo vale a pena! A “Truth and Consequence” é mais uma visão social, pura e dura.


M.I. – Qual o tema preferido do álbum de cada um de vocês, e porquê?

Pica- “Heart and Bones”! Fala do abandono animal e dos maus-tratos aos mesmos, e é algo que me diz muito. Não percebo como nos dias que correm, ainda temos um animal para ficar preso a uma corrente de 1 metro, sendo que este é um dos exemplos menos agressivos, mas que me custa muito ver!
Miranda – São todos!! (risos) Cada tema deu o seu trabalho especial até estar finalizado e como tal é impossível escolher, é como perguntar a um pai qual é o filho que gosta mais (risos).
Miguel Tereso – A resposta a essa pergunta varia de semana para semana!


M.I. – Já fizeram apresentação deste álbum ao vivo? Como foi a reação?

Miranda – Sim. Foi muita boa, já tínhamos o disco pronto há algum tempo e estávamos com curiosidade para saber como as pessoas iriam reagir às novas músicas, felizmente gostaram e o feedback que temos recebido tem sido extremamente positivo.


M.I. – Na vossa opinião quais os temas que funcionam melhor ao vivo?

Miranda – Normalmente numa banda como nós a malta que vai ver os concertos quer é fazer mosh e pits, logo por aí acho que as músicas mais bem recebidas acabam por ser as mais rápidas.
Miguel Tereso – Os temas mais simples funcionam sempre melhor ao vivo. Quando se tem muitos pormenores ou temas mais elaborados por vezes é difícil reproduzir isso ao vivo e pode soar “estranho” a quem não conhece. 


M.I. – A vossa música é uma opressora sem coração no sentido que invade os sentidos de quem a ouve, pela explosão de energia que transmite, sem pedir licença?

Miranda – A nossa música é muito basicamente aquilo que gostamos e nos identificamos, e a “energia” acho que acaba por ser uma das palavras-chave para nós, uma das principais “sensações” que queremos transmitir.

M.I. - Quem ou o quê, é o maior opressor dos dias de hoje?

Miranda - Sinceramente acho que acabamos por ser nós próprios os nossos maiores opressores, o facto de muitas vezes nos negarmos a fazer determinadas coisas só porque achamos que não vamos conseguir ou pelo simples medo de falhar pode ser a maior opressão de todas.


M.I. - Imaginem-se a entregar uma cópia do vosso álbum a um dos vossos ídolos: quem seriam, como os convenceriam a ouvir o vosso álbum e como seria o processo de persuasão?

Pica - Eddie Vedder e seria convencido com uma garrafa de Quinta Da Fata tinto, reserva ou touriga nacional. Um grande vinho convencia um grande músico a ouvir um grande disco!
Miranda – Qualquer método de persuasão que não envolva alguém atado a uma cadeira obrigado a ouvir o álbum não tem piada (risos). A partir do momento em que estivessem atados, tinha curiosidade em saber o que é que o David Gilmour ou o Roger Waters achavam.


M.I. – Um álbum dos Primal Attack é um filho que entregam para adoção, para mãos alheias, ou um filho mimado e cuidado que protegem?

Miranda – Por enquanto é um filho mimado, foi feito com muito amor e carinho (risos), possivelmente quando nascer o irmão mais novo terá de ir brincar sozinho para o seu quarto mas até lá não irá certamente sair dos nossos braços.

Entrevista por Cláudia Santos