Um cartaz dotado de bandas deste calibre antevia casa cheia em Corroios, a recordar os velhos tempos. Desde que foi anunciado que a Deathcrusher tour iria passar por solo português, que os fãs nacionais de música extrema mostraram bastante entusiasmo e interesse no espetáculo. O resultado, como não podia deixar de ser, foi um evento esgotado e de nível elevado, para mais tarde todos aqueles que estiveram presentes, recordarem.
Para uma banda desconhecida como os Herod, ainda por cima possuidora de uma sonoridade distinta e mais moderna do que a de todos os outros intervenientes nesta tarde/noite, abrir para quatro bandas lendárias como as desta noite, não era tarefa fácil. No entanto, andar em digressão com estes nomes ilustres era uma grande oportunidade para qualquer banda mostrar serviço, mas pelo menos em solo nacional não convenceram. A curta atuação deste grupo suíço não convenceu muito o público que, à hora deste concerto, ainda não estava em grande número na sala. Talvez inseridos num cartaz com bandas de um género mais similar ao seu tivessem feito mais mossa.
Os Voivod, uma das mais singulares e inovadoras bandas associadas ao thrash metal, foram protagonistas de um ótimo concerto. A pouco e pouco foram conquistando os espectadores com a sua energia e assertividade e pela boa amostra musical que apresentaram, tendo os mesmo percorrido vários discos da sua carreira, dentro da limitação temporal de que dispuseram. Como novidade, quase a terminar o concerto debitaram um novo tema, intitulado "Forever Mountain", que pertence a um split recém-lançado, em parceria com os Napalm Death.
A instituição do grindcore mundial, Napalm Death, voltou novamente ao nosso país, inserida neste grande cartaz, não tendo defraudado os seus fãs, como já seria de esperar. Mais um concerto explosivo e imparável por parte de uma banda que não dá sinais de cansaço. Sensivelmente metade da atuação foi pautada por faixas do novo trabalho "Apex Predator - Easy Meat", mas clássicos como "Scum", "Deceiver" (com participação de Bill Steer) e "Suffer the Children" também foram tocadas, num concerto intenso e que só peca por ter sido mais curto do que seria espectável.
Como se costuma dizer o que é bom acaba depressa e assim aconteceu também com o concerto dos Obituary, bem mais curto do que na anterior passagem pelo nosso país, que decorreu no ano passado, no RCA Club. Esse facto não impediu que este espetáculo dos Obituary fosse menos memorável do que o ocorrido em Alvalade, porque a mítica banda da Flórida são uma autêntica máquina de death metal, ao vivo. Depois do início habitual com a instrumental "Redneck Stomp" que começou logo a quebrar pescoços, a banda abriu as hostilidades com "Centuries of Lies" e "Visions in My Head" que são dois dos temas fortes do último álbum e que mostraram que não destoam a nível qualitativo do restante catálogo dos Obituary. O resto do concerto ficou reservado para alguns dos clássicos da banda dos irmãos Tardy e de Trevor Peres, entre os quais se destaca a inclusão de "Don't Care", que tantas vezes deixam de fora da setlist.
Ao contrário dos Obituary que basearam o concerto mais nos temas old school, os Carcass focaram mais a sua atuação no álbum novo do que no passado, com mais de metade das músicas de "Surgical Steel" a serem tocadas. A banda quis com isto afirmar que depois da longa pausa na sua carreira, não voltou apenas para reviver o passado e que há futuro para além do saudado álbum de regresso que já data de 2013. A recetividade de grande parte do público aos temas mais recentes foi grande, mas o grupo de Bill Steer e Jeff Walker não se coibiu de reviver o passado com temas incontornáveis como "Incarnated Solvent Abuse", "Buried Dreams", "Exhume to Consume", "Reek of Putrefaction" e "Heartwork" que se afiguraram como alguns dos pontos altos do espetáculo. Os atuais Carcass com o jovem baterista Daniel Wilding e Ben Ash a trazerem sangue novo à banda, demonstraram estar em muito boa forma e aparentaram estar divertir-se em palco, sendo, por isso, expectável que presenteiem os seus fãs com mais álbuns e digressões futuramente. Pelo menos assim esperamos.
Texto por Mário Santos Rodrigues
Fotos por Diana Fernandes
Agradecimentos: HellXis