Os Midnight Priest começaram o terceiro e último dia do festival com heavy metal. Em palco, com uma postura à rock star e uma boa vibe, foram tocando os primeiros riffs, que aos poucos acabaram por atrair um bom número de interessados. A setlist, andou a volta dos temas do seu mais recente álbum, “Hellbreaker”, não tendo sido esquecidos alguns dos mais antigos, da fase anterior do grupo, em que cantavam em português, como “À Boleia Com O Diabo” e “Rainha da Magia Negra”. Foi mais uma boa prestação de uma das bandas nacionais que este ano figurava no cartaz.
Os Ne Obliviscaris foram seguramente a grande surpresa do festival. A estreia da banda nos palcos nacionais não podia ter corrido da melhor forma. O toque arrepiante do violino harmonizado nas melodias, as vozes limpas em contraste com as guturais e os riffs pesadões fazem do som da banda totalmente único. A postura do sexteto durante a atuação foi de extrema simpatia, humildade e entrega, apesar do cansaço (a banda vinha de directa do seu concerto no dia anterior no festival Brutal Assault na Républica Checa) e de alguns problemas de som a meio, o que demonstrou uma imensa vontade de ali estar e profissonalismo, o que é de se louvar. A setlist, por sua vez, contou com três temas de “Citadel”, o mais recente álbum de originais, e dois de “Portal Of The I”. No final o vocalista/violinista ainda nos surpreendeu com um momento de stage diving e ainda mais simpatia. Sem dúvida o melhor espetáculo do dia e um dos melhores do festival inteiro.
O concerto de Alestorm foi uma verdadeira festa. Com muita diversão e sentido de humor, estes piratas do metal foram incansáveis. As músicas puxaram para a bebida e o bailarico, tendo o público alinhado na brincadeira da melhor forma. Algumas fatiotas diferentes como pokemons, abelhas e alguns adereços complementaram a festarola feita no meio da plateia, que contou com os já habituais moshpits e crowdsurfing. Os temas tocados, todos eles sobre desaventuras marinhas de piratas, como “Shipwrecked”, “Wenches and Mead” e “Drink”, só para nomear alguns dos mais conhecidos, foram a banda sonora de uma hora de concerto repleta de boa disposição e alegria. A receção incrível que estes tiveram veio demonstrar que o folk metal (neste caso sobre piratas), é um dos estilos mais populares e com mais sucesso para o público adepto do festival. Como já fazia falta um bom concerto de folk metal num cartaz do Vagos Open Air...
Em seguida, foi vez de acalmar um pouco os ânimos com os Orphaned Land. Com um toque mais oriental e uma filosofia de união e de paz entre religiões, não fossem eles naturais de Israel, uma zona repleta de conflitos com a vizinha Palestina, a grande maioria devido a diferenças religiosas (muçulmanos, judeus e cristãos). A música que abriu o concerto, “All Is One” fala da necessidade de haver essa mesma união, e marcou o ritmo para uma hora repleta de boa música, paz e amizade entre todos. Perante uma plateia bastante composta e recetiva, que aplaudiu ao som das músicas, cantou, saltou e fez headbang do início ao fim, estes foram alternando entre músicas do seu mais recente álbum, “All Is One” e alguns dos seus temas mais famosos, como “Sapari”, “Norra El Norra (Entering The Ark)” e“Ocean Land (The Revelation)” . Uma prestação de muita qualidade, que cumpriu com todas as expectativas, por parte de uma banda que irá regressar ao nosso país, no mês de outubro, para um espetáculo mais acústico.
Os Overkill entraram cheios de vontade de testar os limites da resistência física do pessoal. A banda que se declarou orgulhosa por fazer parte da “cena underground portuguesa”, não desiludiu, e o concerto foi uma festa de violência e caos do início ao fim. Tal como um bom concerto de thrash deve ser, o movimento na plateia foi constante, e nem o facto de estes terem estado recentemente em Portugal, os fez perder seguidores. Muitos circle pits, mosh, headbang e crowdsurfing foram uma constante do princípio ao final, e malhas como “Electric Rattlesnake”, “Overkill”, “Ironbound” e a cover “Fuck You” a fechar fizeram as delícias dos presentes. A atitude incansável em palco do vocalista Bobby Blitz, mesmo após todos estes anos de carreira, é de admirar por completo. Mais um belo espetáculo a deixar os fãs de thrash metal no festival satisfeitos.
Por fim, chegou o momento dos Bloodbath subirem ao palco. A estreia deste supergrupo de death metal, em território nacional, era um dos momentos mais aguardados da noite mas, no entanto, a sua prestação dividiu a opinião dos presentes. Com um novo frontman, Nick Holmes (Paradise Lost) e um novo álbum lançado no ano passado, “Grand Morbid Funeral”, os Bloodbath entraram em palco prontos para uma actuação demolidora, vestidos e ensanguentados a rigor. No entanto, a recepção do público não foi a esperada, talvez devido ao cansaço por este ser o penúltimo concerto do último dia do festival, mas isso não afetou por completo a atuação do grupo. Ainda houve algum movimento na plateia, mas nada de grande destaque. A banda sueca, além dos temas do novo álbum, não deixou de parte alguns dos favoritos dos fãs, como “So You Die”, “Eaten” e “Cry My Name”, que fechou o concerto.
Os nacionais Ironsword, os segundos convidados especiais desta edição, fecharam o festival com chave de ouro. Envoltos num espírito heavy metal como manda a lei, o grupo voltou aos concertos 8 anos depois, não acusando qualquer falta de prática. Estes trouxeram consigo o seu mais recente registos de originais, “None But The Brave”, lançado no início do presente ano, sem esquecer alguns dos temas mais antigos como “Burning Metal” ou “First Masters”.
Mais uma edição do festival Vagos Open Air que chegou ao fim, e que no geral podemos dizer que foi um claro sucesso. A organização tem melhorado imenso ao longo dos anos, e acima de tudo tem estado atenta aos pedidos e sugestões do público. Este ano as condições do campismo apresentaram uma melhoria relativamente aos anos anteriores, não havendo nada a apontar. Dentro do recinto, além dos ligeiros problemas de som em alguns concertos, e a falta de uma maior oferta de alimentação vegetariana, tudo correu da melhor forma. Que assim continue por muitos anos vindouros.
Mais do que a música, o Vagos é sinónimo de reencontros e de convívio. É aquela altura do ano em que “metaleiros” de norte a sul do país se encontram e um grande espírito de amizade e de camaradagem se instala. Amizades são feitas e consolidadas, tendo sempre por base o amor a este estilo de música do qual todos gostamos. Até para o ano!
Texto por Rita Limede
Fotografia por Diana Fernandes
Agradecimentos: Prime Artists