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Entrevista aos Holocausto Canibal


Numa altura em que os Holocausto Canibal fazem as malas para mais uns festivais fora de Portugal e se preparam para lançar a reedição do disco de estreia a Metal Imperium achou ser o momento para falar com o grupo.


M.I. - Recuando a 2014, logo no início do ano repetiram a experiência “Box Sized Die”. Como correu isso? Sei que o artista que trabalhou com vocês, repetiu a experiência em Madrid. Há planos para se repetir?

ZP - Correu de forma irrepreensível e superou as nossas melhores expectativas! Pessoalmente, já acompanhava o trabalho do João Onofre, embora nunca tenhamos tido contacto prévio e foi sem dúvida uma grande honra termos sido convidados directamente por ele para materializar mais uma edição da “Box Size Die” (que já teve no seu interior bandas como Konkhra, Gorod, Serial Butcher…) e já percorreu mais de uma dezena de diferentes cidades europeias. O facto da “Box Size Die” fazer actualmente parte do acervo da coleção permanente do Museu de Arte Contemporânea de Serralves reveste toda a iniciativa de uma importância ainda maior para nós. Foi sem dúvida um grande desafio expor o nosso trabalho a um circuito que embora completamente distinto do nosso habitat natural, nos cativa imenso e existem já alguns planos num horizonte próximo de novas incursões pelo meio das Artes Plásticas e Performance.


M.I. - A edição do “Larvas”, permitiu diversas digressões, mais no exterior que por cá. Uma delas passou pelas datas inglesas com Basement Torture Killing. A tour nacional, com eles, foi a vossa retribuição?

AC - Não foi uma retribuição como "forma de pagamento" mas sim um sinal de agradecimento. Fomos tratados de forma absolutamente irrepreensível quando lá estivemos e quando nos perguntaram se podiam fazer umas datas por cá connosco naturalmente que não hesitamos. Para além disso, já estava mais que na altura de voltarmos à estrada de um modo mais intenso por cá e o balanço foi extremamente positivo.

EF - de certa forma temos por base retribuir e compensar quem aposta em nós, como se costuma dizer uma mão lava a outra.


M.I. - Apesar de 2014 ter marcado a vossa estreia na Inglaterra, certamente que a digressão brasileira foi de longe uma experiência mais interessante. Façam um balanço dela.

ZP – Curiosamente alguns de nós já tinham feito tours na Inglaterra com outras bandas paralelas, mas efectivamente com Holocausto Canibal, esta incursão só se proporcionou em 2014. Se, inicialmente, sentimos que foi uma opção tardia e até nos arrependemos de declinar convites anteriores, depois apercebemo-nos ter sido o timing mais adequado, pois se calhar no passado estaríamos confinados a uma tour de clubs mais modesta e seguramente não teríamos uma data esgotada no centro de Londres nem participaríamos num festival a abrir para nomes incontornáveis como Napalm Death, Lock Up, Pentagram, Anaal Nathrakh, Desecration, Onslaught, Massacre, etc. Em relação à nossa estreia na América do Sul, foi indubitavelmente o ponto alto do ano transacto! A “Sangue, Suor e Grind – Brasil Tour 2014” foi composta por 16 datas, percorrendo os estados brasileiros mais relevantes do Norte ao Sul do país. Era um sonho bastante antigo tocar na América do Sul, e à semelhança do que disse em relação à Inglaterra, penso que o concretizamos na altura certa. A reacção do público brasileiro foi extremamente calorosa e 90% das datas tiveram uma afluência massiva. Foi especial conhecer pessoalmente amigos de longa data e partilhar o palco com bandas que nos influenciaram desde o início. Esgotamos todo o merchandise que a promotora da tour produziu a cerca de 6 datas do fim e entretanto já surgiram bastantes convites para um regresso que incluirá igualmente outros países da América do Sul.

EF - sem sombra de duvida que a tour brasileira foi um dos pontos altos ao longo destes 17 anos de carreira, como disse anteriormente o Zé Pedro, era um sonho já antigo, pois tínhamos conhecimento que o nome Holocausto Canibal já tinha algum peso no Brasil a alguns anos, e quando lá chegamos, isso foi visível em quase todas as datas, sem sombra de duvida. É algo para repetir muito em breve. 


M.I. - Depois de um conjunto de datas em festivais, 2015 já apresenta mais datas e até tem já um festival agendado para 2016. Não é estranho serem tão solicitados no estrangeiro e terem menos exposição por cá?

ZP – Somos continuadamente solicitados em Portugal, só que somos obrigados a seleccionar o melhor possível as propostas que surgem. É efectivamente curioso que mesmo a nível financeiro as propostas que nos chegam de países remotos, são bastante mais generosas que as de cá. O nosso tempo é bastante valioso e temos mesmo de o preencher da melhor forma. Adoramos tocar em Portugal e continuamos a fazê-lo, mas não escondemos que é igualmente excitante coleccionar novas nacionalidades e conhecer novos seguidores pelo Mundo fora.

EF - Continuar a tocar no nosso país será sempre um prazer, mas cada vez mais tentamos gerir da melhor forma o nosso tempo e tentar internacionalizar a banda ao máximo, é sempre bom conhecer novas culturas e novos países.


M.I. - 2015 vai ser um dos anos mais ricos em edições, na vossa carreira: um 7-way split, o split de Desecration, a edição do novo álbum, a reedição de Gonorreía… vamos por partes. Como surgiu isso do 7-way split? 

AC - Sem dúvida, temos um ano bastante preenchido a nível de lançamentos. A ideia do 7-way split surgiu do guitarrista de uma das bandas com quem tocamos na tour que fizemos em Inglaterra no ano passado. Quiseram juntar uma série de bandas num só disco e inicialmente era suposto serem 5, mas rapidamente outras bandas manifestaram interesse em participar e teremos um split com bandas de vários países.

M.I. - A edição com os Desecration já está assegurada? Porque partiram para o projecto sem terem editora?

ZP - Penso que a única vez que nos lançamos para a gravação de álbum já com um contrato previamente assinado, foi a única vez que tivemos problemas e uma ruptura editorial ainda antes do lançamento. Acreditamos no nosso nome e no culto conseguido ao longo dos anos. Nunca tivemos problemas em encontrar editora mas sim em decidir por qual optar para determinado lançamento. Para este Split nem um e-mail de prospecção massiva de editoras fizemos…limitamo-nos a fazer um post banal de Facebook e surgiram logo várias interessadas, das quais seleccionamos 4 selos de diferentes países, que se irão complementar a nível de distribuição mundial. Na verdade somos o tipo de banda que é muito mais útil a determinada editora do que o inverso.

EF - ao longo destes anos e tendo em conta tudo o que temos passado, cada vez mais achamos que é muito mais vantajoso investir em nós mesmos e ter alguém a distribuir o trabalho, que entregar de mão beijada um trabalho já feito para uma editora apenas por o selo e distribuir.
Dá mais trabalho mas é mais vantajoso, assim conseguimos gerir da melhor forma o que temos em mão e tentamos espremer cada lançamento ao máximo.  

AC - Na verdade o tal post só foi feito por descargo de consciência. Estávamos inteiramente determinados em fazer o lançamento pelos nossos próprios meios até sermos contactados por todas as editoras envolvidas. Obviamente que o interesse demonstrado por essas mesmas editoras e a própria relevância que têm no underground rapidamente nos demoveu dessa ideia.


M.I. -  Já este ano surpreenderam muita gente a anunciarem o Dan Swano para masterizar o tema com Desecration  e a reedição de “Gonorreía…”. É um velho sonho? Como surgiu isso?

EF - Tentamos sempre trabalhar directamente com produtores que estiveram ligados a trabalhos que nos serviram de influência e no caso do Dan Swano... dispensa apresentações. Acho que qualquer músico ligado a este meio tão específico como o Death Grind gostaria de trabalhar com um produtor como ele. Estamos muito satisfeitos com o resultado e sem dúvida alguma que foi uma boa opção para o tipo de resultado que pretendíamos, se muita gente ficou surpreendida com essa notícia, acho que vão ficar ainda mais surpreendidos com o resultado final, e para quem esta a espera de uma super produção moderna, pode esquecer isso!

AC - Foi a cereja no topo do bolo e foi absolutamente determinante para que se pudesse criar o feeling pútrido que o lançamento exige. Para além disso foi uma experiência incrível pelo facto de ter bastado dizer-lhe o que queríamos e superar as expectativas logo na primeira preview. Quem sabe, sabe, e a reputação que conseguiu neste meio não foi à toa.


M.I. - A reedição de “Gonorreía…” como vai ser feita, o que vai lá estar? É apenas nacional ou pensam distribuir lá fora?

EF - Estamos neste momento a ver qual a melhor opção a nível de distribuição, apenas podemos adiantar que será em vinil com edição limitada.

AC - Exactamente. A ideia é lançar em vinil e estamos neste momento a procurar editoras para concretizar o lançamento em terras lusas e no estrangeiro. Ainda está tudo muito indefinido mas não falta muito para podermos revelar mais pormenores.


M.I. - Há algum tempo, numa conversa, fazia o balanço dos grupos nacionais com mínima projecção internacional e reparei que quase todos ultrapassam a dezena de anos de existência e que não ultrapassam a dezena. Que se passa, na vossa opinião, com o underground nacional para ter pouca projecção? Muita conversa e pouca acção??

ZP - O underground nacional é composto na sua grande maioria por pessoas sem qualquer ambição, sem método de trabalho e sobretudo e sem garra alguma. Achamos sempre positivo o surgimento de novas bandas e curioso todo o mini-hype que os media nacionais lhes proporcionam durante os primeiros tempos, embora já saibamos que passados 3 ou 5 anos já cessaram actividades. Claro que há honrosas excepções que se contam infelizmente por uma mão (e talvez sobrem dedos). Seja como for nunca olhamos para o lado, olhamos para a frente.

EF - Na minha opinião o mais complicado é mesmo manter aquele garra que maior parte das pessoas tem quando começa algo novo, o problema esta depois, com o passar dos anos a desmotivação acaba por ganhar terreno e quando isso acontece é como tudo na vida, é bem mais fácil deitar um problema para trás das costas do que tentar resolvê-lo, mas isso para mim não é solução, prefiro tentar ao máximo resolver as coisas e tentar dar a volta, caso não consiga, pelo menos estou de consciência tranquila porque tentei. Se todos tivessem essa atitude acho que seria bem mais fácil marcar terreno e seguir caminho.   


M.I. - Vocês estão envolvidos em outros projectos musicais, como vai resultar o equilíbrio entre as várias partes? 

AC - Resulta e vai continuar a resultar na perfeição. Neste momento estamos envolvidos em bandas como Grunt, Dementia 13, Colosso e Decrepidemic e existe uma relação bastante harmoniosa entre todas essas entidades. A verdade é que sem existir uma partilha massiva de membros há um contacto constante entre todas as bandas entre estúdios e editoras e a experiência de cada um num determinado projecto vai inevitavelmente enriquecer o trabalho desenvolvido no outro. Por outro lado, as ocasionais mudanças de ares são essenciais para evitar cair em definitivo no estado de demência que impera nesta banda.  


Entrevista realizada por Emanuel Ferreira