Slug Comparison é um nome bizarro, não apenas para uma banda, mas no geral para qualquer coisa e “banda” pode também não ser a definição correcta para o projecto a solo do vocalista de Fen, Doug Harrison. E engane-se quem espera black metal atmosférico à semelhança do outro projecto mais notório de Doug Harrison, pois o que aqui temos pode ser encaixado algures entre rock psicadélico e o progressivo, se bem que traz consigo aquela aura contemplativa que se pode ouvir nos Fen, mas os dois projectos são mundos totalmente à parte um do outro.
Se se pretende uma banda para utilizar como referência para se ter uma ideia do carácter de Slug Comparison então talvez os Porcupine Tree, só que com temas de 3 minutos e meio, sejam a associação mais aproximada.
Sendo também o álbum de estreia de um projecto a solo o que se podia esperar ao pôr isto a tocar será sempre uma incógnita com uma tendência para ouvir sonoridades semelhantes às da tipicamente chamada “banda principal”, mas Slug Comparison surpreende não só pela grande diferença estilística como também pelo alto calibre da música em si. Há uma harmonia constante entre guitarra acústica e eléctrica que se adapta perfeitamente ao carácter único de cada tema (sim, este é um daqueles álbuns onde cada música tem uma identidade bem vincada); harmonia essa que é visitada ocasionalmente por elementos exteriores como as partes electrónicas de “Bringer Of Doom”. Outro grande destaque deste disco é também o aprimorar da qualidade de Harrison como vocalista. A facilidade como talha a sua voz em temas tão distintos como “Evil Walks” com aquela muito própria atmosfera tribal, ou puxando até falsettos como os usados no refrão da muito catchy “You’ve Seen Me” revelam a qualidade de Doug como um vocalista versátil e os temas em si demonstram as suas capacidades como compositor.
Conseguindo surpreender em cada faixa, seja pelo cariz distinto da música em si entre as restantes como o caso da já referida “Evil Walks” ou da exótica mistura em “Common Room”, seja pela intensidade que cresce à medida que os temas se vão desenrolando: há um excelente e inesperado exemplo disso na segunda metade de “Summer ‘99” e na poderosa “Long Live The Night” que é, sem dúvida, o tema mais complexo e denso do álbum. Uma agradável surpresa que compensa a cada minuto.
Review por Tiago Neves