Depois de “In Times” e “Tellurian” de Enslaved e Soen respectivamente, o progressivo volta a atacar no heavy metal e com sotaque francês. O terceiro longa duração dos Orakle não morde os calcanhares aos trabalhos supra-referidos, mas é uma surpresa, quer para os conhecedores da banda, bem como para aqueles que têm um primeiro contacto com a sonoridade dos gauleses.
Os Orakle são uma banda que tem trazido sempre algo de diferente de álbum para álbum e “Éclats” não é exceção. Os parisienses misturam um pouco de tudo neste álbum, imiscuindo o heavy metal mais negro com uma ténue vibe de jazz e rock mais sofisticado, ao mesmo tempo que surgem algumas influências marcadas do pop, como de resto a própria banda admite. O som é fresco e introspetivo, resultado de uma mistura inteligente entre a face mais sombria da banda e alguns elementos novos, mais acessíveis e emotivos. De resto, estes franceses mostram solidez nessas duas personalidades muito graças a Frédéric Gervais, sempre hábil nos vocais mais gritados, mas também nos melodiosos.
A dupla personalidade da banda faz lembrar uma fusão entre uns Arcturus e uns Code, com as devidas ressalvas, sem que haja um contraste incomodativo nesse casamento. Canções como “Humanisme Vulgaire” e “Le Sens de la Terre” são caracteristicamente introspetivas, quase apáticas como a editora dos Orakle – Apathia Records –, cruzando muitas vezes as fronteiras do heavy metal mais abrasivo rumo a sonoridades mais metafísicas. Fica no entanto a ideia que de estas faixas mais extensas poderiam ter sido trabalhadas de um modo mais holístico, já que, tanto numa como noutra, o ímpeto é quebrado pelo meio. Assim, acaba por ser nas canções mais “curtas” que os Orakle mostram as suas melhores qualidades. “Incomplétude(s)” tem momentos épicos, deambulando entre guitarras mais rápidas e a bateria diabólica de Pierre Pethe e é uma faixa de amor à primeira audição.
A utilização da língua francesa oferece carisma à banda e, sinceramente, funciona muito bem com esta sonoridade dos Orakle. Aliás, no progressivo a utilização de idiomas diferentes do inglês ajuda a criar toda aquela atmosfera simbólica e mística que o género muitas vezes abraça. “Éclats” tem aquela aura do heavy metal progressivo e é um álbum que agradará muito, por exemplo, aos fãs da fase “Le Secret” e “Souvenirs d’un autre monde” dos também franceses Alcest. Este é também o álbum mais maduro do quinteto francês e um trabalho para ser descoberto ao longo de várias audições. Que álbum progressivo não o é?
Review por Pedro Bento