Ermo é um daqueles nomes que não basta saber que existe, picar no youtube, virar para o lado e seguir em frente. Ermo é um grupo que em palco transcende o seu som, e o teatraliza através da vocalização/performance de António Costa. Entre uma mistura do álbum de 2013, “Vem Por Aqui”, e o EP “Amor Vezes Quatro”, escutou-se e viu-se um grupo singular que exibiu Pop Electrónica num espaço em que se demandava o post-Rock. O novo tema “Amélia” soou brilhante. Algures entre o fado e a Pop, germinados a partir de um flash de drone, os Ermo revelam-se hipnóticos, mas nem sempre serão fáceis de ver. Vencerá a persistência?
Mas a noite era para Earth, um nome antigo, que só à terceira tentativa conseguiu ganhar projecção e que passou quase desapercebida na primeira actuação em Portugal, na Casa da Música. Trazendo um grandioso álbum na bagagem, “Primitive And Deadly”, o trio discretamente assumiu o palco, de forma tão descontraída quanto cúmplice, com Dylan Carson a assumir o protagonismo, por vezes sendo o lado Metal, no som hipnótico do grupo. Adrienne Davies, nesta viagem sonora, fazia o papel de quem vai no banco de trás e a quem, ocasionalmente, se pergunta “vais bem?”. Ela assumia o papel de marcar o ritmo, e discretamente unia baixo e guitarra, mantendo uma união sonora naquilo que a todo o momento poderia descambar em viagens pessoais, pois tão livre era o som produzido por cada um dos atores.
“There’s a Serpente Coming”, “Even Hell Has It’s Heroes”, “Thorn By The Fox Of The Crescent Moon” e “From The Zodiacal Light” saíram do trabalho de 2014, mas a noite teve ainda outros momentos e recordações com temas como “High Comand”, “The Bees Made Honey In The Lion Skull”, “Old Black” e “Ouroborus Is Broken”. Apesar do alinhamento e olhando para um conjunto de regras subjacentes ao ato - palco, eles, nós, guitarra, baixo, bateria, temas do novo disco, etc. – em diversos momentos o que passou pela sala 2 do Hard Club, esteve longe de ser um concerto e aproximou-se antes de uma experiência. Uma experiência pessoal. Carlson, Davies e Herzog não foram músicos, mas antes agentes que estimularam os sentidos e libertaram alguma química entre as sinapses neuronais. E como em todos os momentos de libertação, não basta tentar descrever como foi, explicar como é… era necessário estar no momento e deixar que este nos tomasse.
Texto por Emanuel Ferreira
Fotografias por Daniel Sampaio
Agradecimentos: Amplificasom