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Reportagem: Betraying The Martyrs, The Year, Desolated, Above The Hate e The Voynich Code @ RCA Club, Lisboa - 13/06/2015


Numa altura em que temos grandes bandas estrangeiras a visitar o nosso país quase todas as semanas, começa a reparar-se que talvez não haja público para tanto concerto. Com as estreias de jovens bandas estrangeiras com renome na cena actual em solo português, como aconteceu recentemente com Turnstile, por exemplo, como outras mais conhecidas por palcos nacionais, como Sick of it All, verifica-se que, muitas das vezes, bandas que esgotam salas por toda a Europa, não conseguem mais que uma sala a meio gás no nosso país.

E isso verificou-se também no passado sábado, num cartaz com duas estreias estrangeiras em território nacional, assim como 3 bandas já com algum nome e rodagem no panorama português. Como já começa a ser desconfortavelmente habitual nos concertos da Head Up Shows, nova promotora de concertos hardcore/metalcore, registaram-se alguns imprevistos que antecederam o concerto, como o cancelamento dos germânicos Coldburn e dos britânicos Carcer City, o que não terá sido com certeza razão para tão pouca afluência, visto que os primeiros estiveram cá o ano passado e para ainda menos pessoas tocaram, e os segundos são ainda um novo nome no panorama europeu, com pouco reconhecimento no mesmo.

Impecavelmente pontuais, os lisboetas The Voynich Code deram arranque a esta noite pautada pela variedade do cartaz. Em cerca de meia hora apresentaram o seu recente EP de estreia Ignotum, mas sofreram durante grande parte do concerto com a má qualidade do som, que só pareceu melhorar quase na última faixa do alinhamento. Marcados pelo seu metal moderno carregado de influências do mundo hardcore, primam pela complexidade dos seus arranjos e mestria na sua performance, além de terem uma das melhores vozes nacionais ao microfone. No entanto não conseguiram animar muito o espaço do RCA, que ainda se encontrava bastante despido.

Seguiram-se os já mais rodados, Above The Hate. Este quinteto da Margem Sul não é novidade para ninguém que acompanhe o panorama underground nacional, seja pelas inúmeras presenças em cartazes e festivais mais virados para o metal, seja pela partilha de palco com várias bandas de renome do panorama Hardcore, como No Turning Back, Terror ou Comeback Kid. Com um alinhamento a não fugir muito ao que já estamos habituados, conseguiram dar arranque às primeiras movimentações sérias na plateia, a abrir o concerto com The Sunset of the Thankful, do segundo lançamento da banda, o EP We Are. Passando pelo mais recente lançamento, houve ainda tempo para a participação especial de Paul Williams dos britânicos Desolated - que iriam, mais tarde, subir ao mesmo palco - na faixa Martyr. Como de costume, deram um concerto coeso, pesado e agressivo, sendo apenas de notar a pouca incidência do alinhamento no mais recente lançamento da banda, que é claramente o melhor e mais trabalhado desta jovem banda.

A última aposta nacional da noite foram os The Year. Anteriormente conhecidos por My Cubic Emotion, mostram agora uma sonoridade renovada, mais simples e directa, apesar da formação se manter a mesma. Com um metalcore melódico e agressivo, acabam por soar às outras tantas conhecidas bandas do género, conseguindo ainda assim uma performance coesa e profissional. Apenas 3 anos depois da mudança de identidade, contam já com um full-lenght, produzido por Vasco Ramos - daí talvez também a semelhança à sonoridade do já conhecido colectivo setubalense -, e preparam-se agora para lançar um futuro EP. Não impressionaram os poucos presentes que se verificavam na plateia durante o seu alinhamento, mas mostraram-se bastante coesos e confiantes em palco durante todo o concerto.

De seguida, e pela primeira vez em Portugal, a nova sensação do hardcore/beatdown britânico, Desolated. De Southampton, formados em 2007, começaram com uma sonoridade mais vincada no Deathcore, e contam já com 2 full-lenghts, 4 EPs e uma demo. Com o lançamento do álbum Verse of Judas, em 2012, marcaram a sua posição como uma das promessas do beatdown europeu, lançando desde então também os EPs Disorder of Mind e Fear of Life. Foram nestes três lançamentos que se focou o seu alinhamento, com a plateia a tornar-se num autêntico ringue, afastando os mais cautelosos até ao fundo da sala de Alvalade. Com várias pessoas a entoar as letras com Paul Williams, foi o concerto mais poderoso e violento da noite, onde se fizeram ouvir temas como Death By My Side ou a mais antiga Blasphemy. Fica a esperança de um regresso num cartaz mais ajustado ao seu público-alvo.

Para fechar a noite, os franceses Betraying the Martyrs fizeram também a sua estreia em território nacional. Formados em 2008, praticam um Metalcore algo progressivo, incorporando teclados e elementos de outros géneros, como o Deathcore ou o Metal sinfónico. De notar que a plateia reduzira significativamente depois do concerto dos britânicos Desolated, estando agora estes a tocar para uma sala quase despida, que se foi agravando ao longo do alinhamento. Com 2 álbuns de estúdio e um EP, os Betraying The Martyrs mostraram o porquê de terem atingido o estatuto em que se encontram em tão pouco tempo: uma performance impecavelmente ensaiada e músicos de se lhes tirar o chapéu. No entanto, toda aquela mecanização nas poses, nos discursos e na interacção, acaba por ser desnecessária e notoriamente forçada. Houve tempo para os temas mais conhecidos da banda como Love Lost e Tapestry of Me, assim como da já conhecida versão do tema de Frozen, filme da Disney. Como se não bastasse, dedicaram ainda mais de três minutos a um solo do baterista Mark Mironov, altura em que todos os outros membros saem do palco, regressando depois para um ensaiado encore, deliciando os jovens fãs da banda, que apesar de em reduzido número, fizeram a festa na mesma.


Texto por Afonso Veiga
Fotografias por Ana Júlia Sanches
Agradecimentos: Head Up! Shows