Depois de um “Álbum Negro” profundamente iluminado, a fasquia dos Bizarra Locomotiva elevou-se, a banda quebrou o seu casulo e voou sobre os destroços daquela obra. Pasmados, os seus maravilhados seguidores questionaram. E agora?
Alheia a pressões, influências e tremores, a Locomotiva responde-nos com um cabal “Mortuário”. Mais negro, mais soturno, mais visceral, mais perturbante, mais Bizarra!
Com uma produção suja e tão vibrante, como uma fundição em laboração contínua, o poder, industrialmente metalizado, deste trabalho, distribui-se pelos vários temas apresentados. A intenção de tornar este trabalho de estúdio num eco das suas actuações ao vivo sente-se, pois a proximidade com que estas músicas nos chegam fazem estremecer, muito facilmente, qualquer fragilidade deambulante. Destacam-se pelo seu peso, ritmo, pesar e destruição “Na Febre de Ícaro”, “Sudário de Escamas”, “Flauta do Leproso”, “Na Ferida um Verme” e “O Último Aceno da Carne”. Porém, uma menção especial deve ser feita para o arrebatador “Sono”, um hino funerário tocado à velocidade Sabbathiana e cantado com uma angústia e fervor perfeitamente insanos.
“Mortuário” assume-se como uma valsa mecanizada, onde os seus autores vestem o grito deste musical incandescente. O negro, por sua vez, é elevado à condição de poesia, a realidade dilacerada pelo escárnio e as palavras marcham ao sabor dos ventos da revolução. Deveremos ser suficientemente loucos para levar esta mensagem além-fronteiras, pois os Bizarra Locomotiva desafiam o nosso conformismo, demonstrando plena sobriedade na ruptura de estados letárgicos quando, mais uma vez, neste Cavalo de Ferro, (e)levam a sua primeira arte avante!
Nota: 8.8/10
Review por Pedro Pedra