Apesar da noite quente, a sala 2 do Hard Club embora recebendo um cartaz forte, demorou a aquecer, pois a abertura com os Embryo foi morna.
O quinteto italiano fez o papel de banda de abertura, recebendo os que iam chegando a conta-gotas, para uma jornada que se iniciava cedo (20:30). Abrindo com “My Pounding Void”, do trabalho deste ano, “Embryo”, o colectivo mostrou que desde logo que a presença de teclista em palco era pouco relevante e que o som da banda assentava no baixo pulsante de Nicola Iazzi. Dos sete temas executados, apenas “No God Slave” era do disco anterior, sendo os restantes do novo trabalho, o primeiro em cinco anos. O death metal melódico deste grupo acabou a soar desinspirado, mas a noite ainda estava a começar.
A surpresa do cartaz, residia nos suecos Tribulation. Se as fotos revelavam um grupo diferente, ao vivo o quarteto ganha toda uma outra dimensão, com os guitarristas Adam Zaars e Jonathan Hultén a assumirem uma postura algures entre o guitar hero dos 70’s e uma drag queen, emoldurando um Johannes Andersson que se ocupava da voz e baixo, ao mesmo tempo que geria o cerimonial. Tal como os italianos, o concerto deste suecos baseou-se em “The Children Of The Night” deste ano e o momento mais alto da noite, foi o instrumental “Själaflykt” desse mesmo trabalho. Sonoramente o quarteto soava, no início, a uns Celtic Frost em “Cold Lake”, mas depois foi evoluindo para um som algo hipnótico, algo Rock, sempre numa atmosfera simultaneamente sombria e glamorosa, quase gótica. Apesar da boa impressão deixada pelo grupo, a partir do meio da actuação, a qualidade sonora, na sala, tornou-se mais fraca, acabando por ser a imagem e performance a impor-se. Ficou a vontade de ver mais deste colectivo e descobrir o grupo, que promete fazer um crossover interessante entre diversos estilos. Excelentes.
Seguiram-se Keep of Kalessin, um trio com quem confesso ter alguns problemas: se em disco soam soberbos, ao vivo perdem o impacto épico, e deixam a sensação de faltar algo na encenação. Isso repetiu-se de novo, apesar do esforço de Obsidian C. e Wizziac quer na atuação, quer na execução. O que vale é que a qualidade do “Epic Extreme Metal”, como lhe chamou Obsidian, ser excelente, e musicalmente, o colectivo continuar a ser impressionante. Quem conhece os temas destes noruegueses, sabe bem como são longos, por isso não será de estranhar que de “The Grand Design” a “Ascendant” se completasse um alinhamento de apenas sete temas em que “The Divine Land” ficou marcado por um problema de guitarra que levou Obsidian a sair de palco e a um pequeno solo de bateria, enquanto o alinhamento não era retomado. Do novo disco, além de abrirem com um tema de “Epistemology”, houve ainda espaço para “Dark Divinity” e “Introspection”. Um concerto muito bom que só teve na sua duração o maior problema, pois Keep of Kalessin poderia facilmente ter alargado a hora e meia e mesmo assim muitos temas ficariam de fora.
Com a sensação de uma sala mais vazia, chegaram os israelitas Melechesh, com o seu Sumerian Thrashing Black Metal ou Mesopotamian Metal, como eles designam o seu som. A entrada de Scorpios e Moloch com Shemagh prometia outra encenação para o concerto, mas após a execução do primeiro tema, deixaram cair os mesmos e passou-se a um concerto trivial, aqui e ali com sonoridades orientais, mas quase sempre alinhando num thrash musculado que Ashmedi ia orientando. “Genies, Sorcerers and Mesopotamian Nights” foi um dos melhores temas da noite e um rouco Ashmedi não pode deixar de referir a actual destruição dos monumentos da Mesopotâmia, quando introduziu “Ghouls of Nineveh”, penúltimo tema de uma noite que encerrou com “Rebirth of the Nemesis: “Enuma Elish Rewritten”, sem direito a encore.
Encerrava-se assim um cartaz longo, numa noite quente na temperatura, mas em que faltou público e se revelou morna em alguns concertos. Quatro bandas, quatro estilos, com a noite a ser ganha pelos nomes do meio: Keep Of Kalessin e Tribulation.
Texto e fotografias por Emanuel Ferreira
Agradecimentos: SWR Inc