O duo Keluar é relativamente recente (a sua formação ocorreu em 2013), mas as expectativas para esta noite eram elevadas, uma vez tratar-se de um projecto composto por Alison Lewis (também conhecida por Zoè Zanias), dos extintos Linea Aspera, e Jonas Förster (também conhecido por Sid Lamar), produtor e membro dos Schwefelgelb. A primeira parte deste espectáculo também não ficaria atrás, a cargo da escocesa, mas “quase portuguesa” Tracy Vandal, que anteriormente fez parte dos Tiguana Bibles e vive em Coimbra há vários anos.
A actuação de Tracy Vandal iniciou já com meia hora de atraso, possivelmente devido ao facto da casa se encontrar a meio gás. Facto que não intimidou a artista, tendo sido bastante comunicativa com o público desde o início do espectáculo (e tendo logo avisado que falaria em inglês, ironizando o facto de nem esta língua saber falar como seria desejável, quanto mais a língua portuguesa). A sua actuação foi marcada precisamente por uma forte interacção com o público, criando um ambiente bastante intimista, mas sempre com o humor que lhe é característico (logo nos primeiros temas, refere que está bastante calor, tendo tido necessidade de trocar o Whisky pela Vodka de Limão – que foi bebendo ao longo da noite). Tracy criou um ambiente algo mágico, começando na sua maquilhagem dourada, que ia iluminando a plateia, até aos gestos e danças mais excêntricas. A meio da actuação, Tracy desce do palco e vem deitar-se no meio da plateia, continuando a cantar sem que uma única nota falhasse. Levantando-se, percorre a sala, cantando para cada espectador que ia encontrando. Ao terminar, indicou “some of you smell nice, some of you smell weird”, mas garantiu, entre risos, que ninguém seria mais estranho que ela própria. Nos últimos temas da sua actuação, o público já se tinha rendido à escocesa, dançando com a mesma. Não faltou “Ex-Codes”, a versão de uma faixa dos Tiguana Bibles.
Poucos minutos depois de Tracy abandonar o palco (mais tarde, vindo a ocupar o fim da sala), os Keluar iniciam aquela que seria uma actuação bastante distinta da primeira. O dourado e o humor de Tracy deram lugar a um ambiente bastante gélido, característico da música dos Keluar. A voz irrepreensível de Zoè foi ouvida unicamente nos seus temas, já que não foi proferida uma única palavra, do início ao fim da actuação, fora dos mesmos (o que, de certa forma, ajudou a que o ambiente frio, distante e melancólico, se fixasse desde o primeiro tema, “Cleo”). O público correspondeu ao ambiente que Zoè foi criando e, mesmo dançando ao som da sua voz, fazia-lo de forma algo agressiva, tal e qual como a vocalista.“Vitreum” foi um dos temas onde Zoè se manifestou com mais intensidade, dançando e saltando com ferocidade. Cada palavra que Zoè pronunciava permitiu entender (e mais notoriamente ao vivo) que os Keluar não precisam de letras exaustivas para que a sua música seja carregada de emoção – a voz de Zoè e o instrumental que acompanha o duo encaixam na perfeição.
Sid Lamar acenou ao público quando o duo saiu do palco, momentos antes do encore, que chegou com o tema “Fractures”. Poder-se-ia dizer que foi o único momento de comunicação entre os dois artistas e o público, mas a verdade é que a sua música e o ambiente que criam falam por si. Os Keluar regressam a Portugal já no próximo mês de Agosto, no festival Entremuralhas, em Leiria.
Texto por Sara Delgado
Agradecimentos: A Comissão