No dia de comemoração nacional da libertação da ditadura, em Alvalade a celebração foi de música mesmo. Música pesada, negra, arrastada, viajante, mas música. Combinando a noite algo desagradável com chuva e vento e a fraca afluência de pessoas à porta do R.C.A., chegou-se a temer que a oportunidade de ver os Acid King, nome grande do stoner/doom norte-americano fosse desperdiçada pelo público português.
Felizmente, não passou mesmo de um temor infundado. Cerca de meia hora mais tarde, sobem ao palco os Vaee Solis, nome novo, sangue novo no doom negro nacional. Trata-se do novo projecto de Sophia (ex-vocalista de We Are The Damned), de João Galrito (dos Alchemist e A Tree Of Signs) e do baterista João Seixas, dos Don't Disturb My Circles, sendo a formação completada por Filipe Azevedo. O início do concerto, curiosamente, não foi com Sophia ao microfone e sim com um vocalista desconhecido que deixou as tripas em palco. Menos do que isso seria proibido para que fosse feita justiça à música dos Vaee Solis. Com um trabalho editado há pouco mais de um mês e sendo esta a segunda experiência de palco da banda, o público do R.C.A., ainda a meio gás, pôde constatar todo o doom/sludge enegrecido em todo o seu esplêndor. Destaque para "Saturn's Storm" e o tema título do primeiro lançamento, "Adversarial Light" numa actuação que apesar de algumas falhas de microfone nas primeiras músicas, foi uma prova superada de forma bem positiva.
Os senhores que seguiram foram os Lâmina, uma banda que tem tudo para se tornar de culto no panorama stoner/doom nacional. Com uma baterista que contagia pela forma como bate na bateria, um guitarrista vocalista que impressiona não só pela fatiota, mas principalmente pela forma como canta - e quando falamos cantar, dizemos mesmo cantar! - e como toca guitarra. É injusto destacar quem quer que seja, porque a banda surgiu completamente coesa, com um som que evoca tanto os primórdios do heavy metal e do doom (e para esse efeito, uma fantástica cover da "Black Sabbath" dos Black Sabbath, que acertou mesmo na mouche) como também vai buscar algum rock psicadélico que dá uma cor extra e bem vinda ao seu som. "Big Black Angel" foi apenas uma das malhas que são obrigatórias ouvir para todos os fãs deste estilo de som.
Seria a vez da tão aguardada estreia dos Acid King em Portugal. O grupo foi brindado por uma sala muito bem composta e ávida do som clássico que os norte-americanos possuem. Com um novo álbum de originais (e dez anos após o último), a banda foi recebida com entusiasmo e após a excelente "Intro", instrumental, (que também abre a novidade "Middle Of Nowhere, Center Of Everywhere"), atacou logo com uma série de temas
novos que foram recebidos como se clássicos se tratassem. Em abono da
verdade, não há nada melhor que "Red River", "Silent Pictures",
"Infinite Skies" e "Laser Headlights". A voz de Lori S. parecia estar
algo baixa no início de "Red River" mas essa foi uma situação que cedo
foi corrigida e que não voltou a suceder. Depois da sequência de
novidades, foi tempo de mergulhar nos clássicos da banda e quando se
fala de clássicos dos Acid King não podemos deixar de mencionar temas
como "2 Wheel Nation", "Electric Machine" e "Coming Down From Outer
Space", sendo seguida do tema "Outro" que encerra o novo trabalho e que aqui teria também essa função, não voltasse a banda para um encore com dois temas. Um encore esse, muito desejado pela audiência do R.C.A.. Seria com "Sunshine And Sorrow" que se encerraria a noite e mesmo não tendo havido grande comunicação com o público (com as três bandas aliás) o calor humano foi mais que muito, contrastando com a muita chuva que caía fora do recinto. Não fosse a música do DJ voltar a soar nas colunas, que o público ainda estaria pronto para mais um encore. Não veio, mas a satisfação foi alta na mesma.
Fotografias por Anne Carvalho
Agradecimentos: Amazing Events & Goodlife HQ