De Tortona para o mundo. Os italianos Ufomammut demoraram mais de uma década a estrear-se em palcos nacionais, mas o impressionante concerto de apresentação de ORO no Amplifest 2012 justificou um regresso logo no ano seguinte, no barcelense Milhões de Festa. Mantiveram-se ocupados desde então e Urlo, baixista da banda, arranjou espaço na sua atulhada agenda para falar com a Metal Imperium sobre Ecate, álbum lançado no final de Março.
M.I. - A vossa popularidade não pára de crescer, mas como descreverias o vosso som para aqueles que ainda não conhecem Ufomammut?
Há alguns dias, um jornalista perguntou-nos que tipo de prato seríamos num jantar… nós respondemos uma salada mista, daquelas bem grandes, com imensos ingredientes. Podíamos dar de novo essa resposta. Ou, em termos mais musicais, uma mescla de diferentes géneros ligados por uma atitude punk e metal.
M.I. - Quando o reconhecimento internacional começou a surgir, era um pouco incomum ouvir-se falar de bandas italianas muito pesadas. Achas que a vossa localização vos ajudou a ser motivo de conversa ou apenas tornou tudo mais difícil?
Acho que sermos italianos tem diversas implicações, tanto negativas como positivas. Foi mais difícil obter esse reconhecimento internacional, pelo menos comparando com o que acontece nos países mais associados ao metal, mas a nossa nacionalidade também é algo de positivo porque estamos cientes das nossas raízes e isso personaliza a nossa música.
M.I. - O vosso novo álbum acabou de sair. Normalmente tratam a voz como se fosse apenas mais um instrumento e não como um veículo para as letras, até porque costuma estar bastante baixa na mistura, mas há conceitos claros em álbuns como o Eve e o ORO. Qual é o conceito de Ecate?
Hécate é a deusa pré-helénica capaz de se mover entre os mundos dos vivos, dos deuses e dos mortos. Este álbum é uma viagem por essas dimensões, é simplesmente a história de todas as nossas vidas. Lembrámo-nos de Hécate porque é a deusa mais poderosa de sempre e, devido a esse poder, a Igreja Católica transformou-a na rainha da magia negra e das bruxas. É por isso, também, a história da humanidade e da forma como combatemos os nossos medos, tentando escondê-los em vez de enfrentá-los.
M.I. - A música clássica do século XIX foi ficando cada vez maior tanto em termos de orquestração como em duração. A vossa própria discografia parece seguir o mesmo padrão e o ORO atingiu proporções wagnerianas – dura bem mais de uma hora e faixas como Oroborus começam com um riff pesado que vai sendo suportado por mais e mais camadas. Houve alguma intenção de alargar as composições ou simplesmente aconteceu?
Nunca fazemos planos quando trabalhamos na nossa música, o Eve e o ORO são tão longos simplesmente porque foi o que aconteceu durante a gravação. Foram gravados no momento certo, à hora certa.
M.I. - Referiram no passado que as jams eram essenciais para o vosso estilo de composição. Ainda é o caso?
São importantes mas não o principal quando criamos o trabalho final. Desde o ORO que mudámos o modo como trabalhamos e o Ecate foi ainda mais diferente. Mas, de facto, o material só surge quando estamos os três juntos, por isso as jams continuam a fazer parte da equação.
M.I. - Há algumas mudanças na vossa sonoridade. A distorção está mais clara e tem menos graves, e a voz parece mais directa e inteligível do que o habitual. Mas apesar de isso tornar o som mais compacto, continua a haver uma separação entre os instrumentos e torna-se tudo extremamente pesado. Concordarias?
Trabalhámos imenso o som do Ecate com o Lorenzo Stecconi. Sentimos que é a melhor sonoridade que tivemos até agora, é diferente daquilo a que soámos no passado, mas acho que cada álbum de Ufomammut soa melhor do que o anterior.
M.I. - Este é o vosso terceiro álbum lançado pela Neurot Recordings. Por esta altura, sentem-se em casa?
Preferimos dizer que é o segundo álbum, porque o ORO é um álbum só embora dividido em duas partes. Fazer parte da Neurot é maravilhoso, dizemos sempre que são novos membros da nossa família.
M.I. - Já tocaram em Portugal duas vezes e, apesar de serem apenas três em palco, as vossas projecções e utilização de samples e efeitos dão a ilusão de estarmos a ouvir algo muito maior do que um trio. Como é que abordam os concertos?
Ao vivo tentamos sempre recriar tudo o que gravámos nos nossos álbuns. Pode ser difícil, mas é tudo parte integral da nossa música. Hoje em dia, a tecnologia ajuda imenso.
M.I. - Foi algo que vos preocupou desde o início?
Sem dúvida. Tivemos projecções desde o nosso primeiro concerto. E, quando começámos, tínhamos também um teclista.
M.I - O Eve e o ORO foram acompanhados de vídeos, uma espécie de videoclip para o álbum inteiro. Ocorrerá o mesmo com o Ecate?
Sim, a Malleus (bem, a Lu, da Malleus) é a mente por detrás da parte visual, e o Ecate também terá uma.
M.I. - Havia rumores acerca de um álbum de colaboração entre Ufomammut e Incoming Cerebral Overdrive. Podes confirmar?
Já gravámos algumas músicas juntos e planeamos finalizá-las este ano. Fiquem atentos.
M.I. - Estão envolvidos em mais alguma coisa neste momento?
Temos alguns side projects. O Vita [baterista] está a tocar com Rogue State e Sonic Wolves e eu e o Poia [guitarrista] estamos nos Farwest Zombee. Para além disso, há outros projectos a crescer em torno da banda.
Entrevista por Daniel Sampaio