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Reportagem: Royal Blood e Bad Breeding @ Coliseu dos Recreios, Lisboa - 02-04-2015


Os Royal Blood provaram que são um dos mais recentes fenómenos do rock da actualidade, pelo menos no nosso país. A banda que tinha já concerto esgotado no nosso país a 22 de Novembro  e que se viu forçada a cancelá-lo por motivos de saúde, desde logo se comprometeu a passar por cá mais tarde. A promessa foi mantida, mas do Armazém F (antigo TMN Ao vivo) já esgotado, foi mudado o local do concerto para o Coliseu dos Recreios devido à enorme procura por parte do público. Embora o coliseu não tenha esgotado, não deve ter ficado muito longe, já que quando os também britânicos Bad Breeding entraram em palco, a sala já estava muito bem composta. Por falar no quarteto britânico, apesar de ser apontada como uma banda revelação pela imprensa inglesa da especialidade, não houve grande coisa que tenham mostrado nesta primeira parte dos Royal Blood que os faça ter em conta. Numa curta actuação que durou sensivelmente meia hora, a banda debitou nove temas que vão beber à tradição britânica de punk rock e noise.

Nitidamente desfasados do que viria a ser ouvido depois, temas como "Loosing My Head", "Falling" e "A Cross" pareciam ser uma espécie de cruzamento nefasto entre Joy Division, Sex Pistols, The Cure e Dead Kennedys. A parede de som parecia tornar impossível algum nexo na sua música, mas também cedo se tornou claro de que se tratava de algo intencional. Talvez no futuro os Bad Breeding consigam ir mais além do que apenas cruzar referências do passado britânico e ter alguma relevância, mas pelo o que se ouviu na noite de quinta-feira falta ainda muita substância. A reacção apática do Coliseu, excepto por alguns espectadores mais ávidos de festa, é também uma boa prova. A banda chegou, viu, despejou o seu set sem se dirigir ao público, foi-se embora mas não venceu. De qualquer forma, num outro contexto, numa sala mais pequena, com uma multidão mais virada para o punk/noise rock, seria bem mais apreciada. Neste contexto, primeira parte de Royal Blood, a prova não foi superada.

Cerca de meia hora de espera foi que a multidão ansiosa teve superar, composta sobretudo por uma faixa etária mais baixa, demonstrando o sucesso que o duo está a ter perante a juventude nacional. Quando finalmente se deu a entrada da banda, o público ficou completamente louco, colocando todo o fenómeno dos Royal Blood num nível que talvez passasse despercebido. "Hole", o tema com que abriram o seu concerto, que nem faz parte do álbum original (é uma faixa bónus da versão japonesa que também apareceu no EP que os revelou ao mundo) foi recebida como se se tratasse da segunda vinda de Cristo à Terra. Os mais cépticos poderiam estranhar tal reacção mas a verdade é que a energia com que o duo vive as suas músicas faz com que tudo se torne um pouco mais compreensível. Bateria furiosa, como se estivéssemos na presença de um upgrade ao John Bonham, um baixo extremamente versátil que parece uma banda inteira e ainda uma voz que nos lembra tanto Jack White dos White Stripes como Josh Homme dos Queens Of The Stone Age são elementos da receita do sucesso que foram muito bem sentidos na noite de quinta-feira.

Existiram temas que se destacaram pela recepção do público seja a "You Can Be So Cruel", a "Careless" (com o público a cantar e entoar o riff inicial como se estivéssemos num concerto de Maiden, algo que aconteceu também na "Little Monsters", com o público também a cantar o seu refrão de forma irrepreensível) ou a incontornável "Figure It Out". Basicamente foi um set composto de quase todo o material que a banda lançou até ao momento, mas que resultou perfeitamente, embora se tenha a ficar um certo sabor a pouco, não havendo sequer possibilidade para um encore. Era visível que a banda estava esmagada com a recepção do público português e como a própria banda confessou indirectamente, não haveria melhor sítio para finalizar a digressão. Foi o que todos os que estavam presentes sentiram.


Texto por Fernando Ferreira
Fotografias por Diana Fernandes
Agradecimentos: Everything Is New