A Metal Imperium esteve à conversa com Danté, o mais recente membro da mítica banda britânica Venom, acerca da sua adaptação e percurso musical com o grupo, e o último álbum lançado, “From The Very Depths”, no início deste ano.
M.I. - Os Venom têm sido uma influência enorme para diversas bandas, nos últimos 35 anos. Quando te juntaste à banda tinhas consciência dessa dimensão?
Bem... eu tinha noção que os Venom eram uma banda considerada grande, e que eram bastante influentes sim, mas não na escala em que o são na realidade, que é bem superior ao que imaginava, muito honestamente. Antes de me juntar ao grupo não possuía nenhum álbum de Venom e apenas conhecia algumas músicas... mas mesmo assim isso era o suficiente para ter alguma noção da banda influente que são. Entretanto, já lá vão 6 anos desde que me juntei à banda e, neste tempo, fui ganhando consciência da grandiosidade e verdadeira influência de Venom, e da quantidade de bandas e jovens que olham para nós como inspiração e um exemplo a seguir.
M.I. - Tu estás numa banda que teve um papel importante na criação de outros sub-géneros do metal, nomeadamente thrash metal e black metal. Estás dentro desses mesmos géneros?
Não, por acaso não. Para ser sincero sou mais conhecedor dos clássicos do rock e do heavy metal, todas aquelas bandas “velhas” da década de 1970. Foram essas as minhas raízes musicais. Grupos como Deep Purple, Black Sabbath (obviamente), Led Zepplin, alguns álbuns de Iron Maiden, Judas Priest... Esse é que é o meu estilo, o som dessas bandas mais antigas e tal... Mas não me fico só por aí... Actualmente há bandas muito boas, mas estas são as minhas raízes musicais e principais influências.
M.I. - Venom é uma banda extremamente influente e é considerada um modelo a seguir por muitos fãs. Como é que lidas com essa responsabilidade?
Sinto-me muito feliz, aliás honrado também, por te ouvir a dizer isso. Nunca tinha pensado muito no assunto, mas suponho que tenhas razão. Isto significa que ainda andamos a fazer algumas coisas da forma certa. Venom sendo uma banda antiga e ainda ter esta influência, deixa-me muito feliz. É bom saber que ainda somos capazes de inspirar jovens a agarrarem nos seus instrumentos e começarem a tocar. Eu também tive os meus heróis que me inspiraram a tornar-me músico, é muito bom saber que estou numa banda que o faz, isso deixa-me muito lisonjeado.
M.I. - Quais foram as histórias ou rumores que ouviste acerca de Venom antes de te juntares à banda?
Wow! (risos) Bem, logo no início ouvia muitas histórias sobre os velhos tempos, mas a minha favorita foi uma que se passou na década de 1980, numa estação de rádio, Metro Radio, acho que era assim que se chamava, que era uma estação local, aqui de Newcastle. Esta tinha um programa dedicado ao heavy metal, com um DJ chamado Alan Robson. Os Venom foram convidados para irem até ao estúdio dar uma entrevista. Aparentemente o tipo não era propriamente fã de Venom e tinha andado a dizer coisas muito más acerca da banda, mas mesmo assim convidou-os para o programa dele, e ao fim de 3 ou 4 minutos tudo virou o caos e o estúdio ficou todo destruído, foi a loucura completa. E o mais engraçado é que consegues encontrar o vídeo disto no youtube, basta procurares por “Venom Alan Robson Interview”.
M.I. - E em relação aos fãs? Já houve alguns a fazer coisas “estranhas” para vos chamar a atenção ou vos conhecerem?
Nos 6 anos em que estou na banda já vi algumas coisas bem loucas. Por vezes vemos as mesmas 4 ou 5 pessoas nos nossos concertos, quer seja em países, ou em continentes diferentes! Encontramo-los na Bélgica, Suécia, Reino Unido e até mesmo no Canadá... e em mais uns outros quantos países, é incrível. Eles seguem-nos em tour, é a loucura total ter gente a seguir-nos pelos vários concertos em pontos do mundo diferentes, é o estilo de vida deles, seguirem-nos na estrada, algo que eu acho completamente incrível. Há uns anos, quando tocamos no México, aterramos e estávamos no aeroporto à espera da bagagem, e um segurança foi ver como é que estava tudo à saída. Quando regressou, mandou-nos ficar onde estávamos, enquanto ia buscar reforços. Estavam mais de 500 pessoas à espera e a gritar “Venom, Venom”, à saída. Tivemos que ser escoltados pelo meio da multidão para sair do aeroporto. Foi a minha primeira experiência com uma situação do género e foi uma sensação incrível e louca. E ainda para mais, algumas dessas pessoas que lá estavam à nossa espera, sem saber bem como, descobriram o hotel onde íamos ficar antes do concerto, e quando lá chegamos estava uma pequena multidão à porta a esperar por nós. É algo completamente fora deste mundo quando chegas a um país estrangeiro a que nunca foste, depois segues por uma estrada numa carrinha durante 1 ou 2h para o hotel, numa cidade que não sabes bem onde fica, e quando lá chegas tens um grupo de fãs à tua espera. Foi das cenas mais loucas que já presenciei e vivi.
M.I. - Os Venom nos últimos 6 anos demonstraram ter uma formação mais estável e conseguiram lançar dois álbuns originais nesse período de tempo. Achas que esta é uma nova era para a banda?
Penso que sim. Desde que me juntei ao grupo, em 2009, fomos capazes de lançar dois registos de originais, temos andado sempre com o processo criativo muito activo e a compor novas músicas. Até mesmo antes de o álbum “From The Very Depts” estar pronto para ser lançado, já estávamos a pensar num próximo. Nós concluímos as gravações deste último álbum no final do Verão, e enquanto a editora e os produtores preparavam o seu lançamento, já tínhamos material novo. Estamos constantemente a ensaiar e em processo criativo, têm sido uns tempos muito bons nesse aspecto para nós.
M.I. - Como é que descreves o novo álbum a alguém que ainda não o tenha escutado?
Está do caralho! (risos). Tem aquele som cru e emana essa energia especial dos velhos clássicos de Venom como o “Welcome to Hell”, “Black Metal” ou o “In League With Satan”, mas com uma produção mais moderna. Uma espécie de energia old school crua e uma produção mais moderna. Mas não é uma coisa demasiado bem produzida, não é algo com uma produção muito limpa, porque se assim fosse ia fugir por completo ao espírito de Venom.
M.I. - Como é que foi a resposta do público ao novo álbum?
No geral temos tido críticas muito boas, que era aquilo que desejávamos que fosse acontecer. Por isso creio que seja uma resposta positiva, algo que me deixa muito contente.
M.I. - Quando criaram as músicas deste álbum fizeram-nas com algum conceito em específico em mente?
Não, nada em concreto. É apenas rock’n’roll no seu estado mais puro. Tem muitas músicas rápidas e pesadas, e uma data de coisas sobre bebedeiras e sair e curtir a vida. É apenas um bom álbum de rock’n’roll.
M.I. - Como é que o processo de escrita e criação deste álbum funcionou?
Foi o mesmo que no nosso álbum anterior, “Fallen Angels”. Nós juntávamo-nos todas as semanas para tocar algo, músicas ou riffs que tínhamos feito e deixámos o som fluir... Por vezes ligávamos o equipamento de gravação e íamos tocando e improvisando, como se fosse uma jam session, e depois no final sentávamo-nos e ouvíamos tudo com calma, para ver se estava lá algo que poderia vir a ser aproveitado. A maioria é uma autêntica merda, mas costuma haver sempre lá algo pelo meio que é digno de vir a ser aproveitado, assim uns segundos de uma música ou alguns riffs em especial, que mais tarde podemos vir a melhorar ou a utilizar, ou até mesmo servirem como base para uma música nova. Mas nem sempre é assim. Por vezes chegamos aos ensaios já com algumas ideias e mostramos o que temos, trabalhando depois assim em volta dessas mesmas ideias, até estarmos felizes com o resultado final. Geralmente há uma atmosfera muito relaxada e mostramos muito respeito pelo trabalho uns dos outros. Nós adoramos todo este processo, desde as primeiras ideias, a escrever as músicas completas e por fim gravá-las.
Eu gosto muito da capa, mas esqueci-me por completo do nome do artista, desculpa (risos). Mas ele é um artista fantástico, de certeza que com uma pesquisa rápida na internet vais encontrar trabalhos dele. O Cronos e o resto da equipa de produção andaram à procura de um artista que se enquadrasse, e receberam várias propostas, mas esta foi a escolhida, porque é aquela que mais se enquadra com este álbum e músicas de Venom.
M.I. - Tens alguma música favorita deste novo álbum? Qual é?
Sim... obviamente que tenho, se bem que isto muda quase todos os dias. Hoje, por exemplo, é a “Winds of Valkyrie”. Eu tenho umas quantas favoritas para ser sincero. Gosto muito da “Grinding Teeth”, “From the Very Depths” e da “Winds of Valkyrie”. Também tenho um soft spot pela “Rise”, pois foi a primeira música deste novo álbum que tocámos ao vivo, mesmo ainda antes de termos o álbum terminado. Tocamos essa faixa num concerto que demos no Canadá, no Amnesia Fest, que foi um concerto fantástico. Decidimos que íamos colocar câmaras e instruir o público a gritar “Rise” no refrão, tal com o Cronos faz na música, e gravar isso, para ver como ficava. Resultou muito bem na verdade, o resultado final foi fantástico, nesse dia o público estava com um ambiente fantástico, e gostámos tanto que acabámos por incluir essa gravação desse concerto na música, quando gravamos o álbum, tanto que se tornou numa das nossas músicas favoritas deste álbum. E tu, quais são as músicas que mais gostaste do nosso álbum?
M.I. - Bem, eu pessoalmente gosto muito da “Smoke” e da “Wings of Valkyrie”. A “Smoke” tem um riff inicial fantástico, muito catchy e com uma boa vibe.
Sim, também gosto muito desse riff, logo ao início depois da entrada da bateria. Entendo o que queres dizer com isso, nós os três estamos muito em sintonia nessa música, o que deu como resultado uma boa vibe e groove.
M.I. - Sim, Isso mesmo! Bem, continuando... agora qual vai ser o próximo passo para os Venom?
Vamos andar em tour por aí. Vamos voltar aos locais onde gostamos muito de tocar e a outros aonde já não vamos há muito tempo, ou até mesmo aonde ainda não fomos. Estou muito entusiasmado para voltar à estrada. Voltar à América Latina, tocar no México, Chile, Argentina... são sempre bons concertos. Por isso, sim, é esse o nosso próximo passo para os meses que se avizinham, voltar a tocar ao vivo e andar em tour.
Entrevista por Rita Limede