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Entrevista aos Moonspell

2015 marca o regresso dos Moonspell aos discos com “Extinct”, o vigésimo aniversário do incontornável “Wolfheart” e ainda, o arranque de uma digressão que passou em Portugal para duas datas e esteve quase sempre esgotada. Sobre tudo isso e o que ainda vem aí, conversámos com Fernando Ribeiro, vocalista do quinteto.

M.I. - Depois do sucesso de Alpha Noir e das habituais presenças em festivais, notou-se algum recolhimento e posterior cuidado na preparação de “Extinct”.

Houve um cuidado especial e sentimos desde o princípio que o “Extinct” ia ser um álbum especial. Há sempre algum cuidado em dizer estas coisas porque normalmente há esta dinâmica dos músicos, tem a ver com a superação, negar um passado mais longínquo. Chegados a esta altura nos Moonspell, acho que tínhamos duas opções, ou entrar numa zona de conforto, que não era bem uma opção para nós, ou parar e dedicarmo-nos inteiramente ao “Extinct”. Houve uma diferença no processo, relativamente aos outros discos em que vamos compondo, vamos gravando, fazendo a pré-produção… mas mais espaçado no tempo, isto principalmente no “Alpha Noir/Omega White” que era uma espécie de compêndio musical, álbum duplo, duas facetas, linhas muito definidas para cada disco. Aqui quisemos criar uma ruptura com isso tudo, nada de linhas definidas , nada de Moonspell Hard vs Moonspell Melódico. Queríamos um disco mais natural. Falaste em algo que hoje toca muito as bandas, as vendas do disco, e “Alpha Noir/Omega White” comportou-se muito bem, principalmente para primeira obra numa nova editora que tem sempre mais dificuldade em arrancar. No “Extinct” penso que também está a correr bem, porque o nosso público quer é comprar discos, estão sempre a batalhar para ver quem tem o vinil dourado ou o vinil verde… nesse aspecto a venda dos discos ainda é muito importante para nós. Não começamos a compor um disco pensando nessa negatividade, nem trabalhamos com ninguém que diga “vamos gravar este disco, mas ele não vai vender nada”. Isso é uma coisa que sempre pensamos a posteriori e nestes anos sempre soubemos lidar com essas expectativas. O sucesso, para mim, também acaba por se traduzir naquele momento que tenho e que é meu, desde 92/93, em que comecei com um walkman a ouvir “Anno Satanae”, já em Lisboa, o disco tinha sido gravado em Almada; depois de atravessar o Tejo fui ouvir o disco, tal como se passou agora com o “Extinct”, já depois de gravado e misturado. Fui ouvir o disco sem o ruído de pensar se as pessoas vão gostar, o que vão pensar, e acho que lhe demos um tratamento especial, que é notório no resultado final.

M.I. - Se calhar, esta ideia de recolhimento e dedicação em estúdio, também deriva de vos ter podido acompanhar pelas redes sociais e intervenções na internet… tudo isso criou uma maior cumplicidade entre o público e a produção do disco. Aliás, isso pode-se acompanhar no documentário “Road To Extinction“.

Sim e o documentário é muito mais fiel e denso, tem cerca de 30 minutos. Tem a parte do “making of”, que tentamos mostrar o nosso estilo, a nossa vivência, a forma como somos, por isso também convidamos o Victor Castro para trabalhar connosco, é um amigo, consegue estar invisível nas alturas certas. No “making  of” não somos só nós a tocar, ou o Jens Bogren nosso produtor a medir as peles… tem toda essa parte para studio geeks, mas é muito mais uma narrativa de como nós fazemos um álbum, como é o nosso quotidiano ao fazer esse disco. Muitas vezes as pessoas podem pensar que é por geração espontânea: “pronto, já temos um disco”! Mas não, há um processo, esses momentos estão lá todos. O resultado final não é só gravar ou captar, também é discutir durante horas uma nota que afinal até era simples. Há toda essa componente e também uma componente mais privada dos Moonspell que nunca mostrámos. Há também a parte mais científica e emocional, do depoimento dos autores e professores que trabalham e cujo campo de acção tem a ver com o estudo das espécies e da extinção, a análise do que aconteceu e deixou de acontecer. Sem dúvida que há um paralelo muito forte entre a extinção biótica e pessoal. Tudo o resto que fazemos na internet, nós não gostamos de mostrar tudo, pois a internet é um meio um bocadinho “enganoso”, mas também é uma boa forma de preparar as pessoas, mostrando algo um bocadinho mais descontraído, ou mostrando um take… Há bandas que gravam um riff e está na net, depois é só montar as peças como num puzzle. Os Moonspell não são assim, preferimos fazer o documentário e na internet colocamos só bocadinhos para que se apercebessem que estávamos a gravar um disco novo. A história está muito melhor contada no “Road To Extinction“.


M.I. - Senti que este disco surge mais no estúdio quase resultando de um brainstorming, ao contrário de outros discos em que tinham tudo pronto, voavam para o estúdio, gravavam e voltavam.

A maior parte dos discos foi feita assim, não quer dizer que tenham sido piores por causa disso, mas quando há uma tentativa de expansão musical, nós também temos de ter uma mente mais aberta no que toca a não completar as canções aqui em Portugal. O nosso método, e principalmente o Pedro Paixão tinha muito essa ideia, que era correta, passava por pensar que íamos gravar no estrangeiro, não tínhamos tempo a perder, precisávamos de fazer uma boa performance e não nos preocuparmos com arranjos de última hora. Esta foi um bocado a nossa filosofia até Alpha Noir/Omega White”, ainda por cima esse foi gravado em casa, misturado na Dinamarca, mas foi maioritariamente feito aqui. E apesar de ter sido algo importante, até porque mostrou que a banda é capaz de fazer as coisas de forma independente, não foi algo que quisesse fazer para este disco. Queríamos mais sair da zona de conforto, trabalhar com um produtor que nunca tivéssemos trabalhado, terminar a composição no estúdio e fui eu que insisti para a banda estar lá toda durante os 335 dias, etc. Um dos álbuns positivos foi não levarmos o álbum fechado e irmos mudando coisas. Estarmos no estúdio permitia-nos fazer arranjos, ouvirmos o trabalho final, mudar… isso aconteceu com todos os instrumentos. Nós tínhamos um “Extinct” próximo do que íamos gravar na Suécia e lá saímos com o “Extinct” exactamente como o Jens e nós o imaginávamos. Lembro-me perfeitamente do Mike ter mudado umas coisas e acrescentadas outras. O Ricardo e o Aires terem uma sessão de gravação bastante longa. Estivemos 35 dias na Suécia e aproveitamos cada segundo, algo que já não fazíamos há algum tempo e sinceramente, acho que foi uma boa ideia, não só pelo tempo que passamos ali, mas também por nos ter permitido um isolamento das nossas vidas mais reais: família, escola, crises, management de Moonspell, por aí fora. Tudo isso se paga, como as pessoas sabem, e é um disco contra a corrente, pois hoje em dia toda a gente diz para gravar em casa que fica bem e há a cultura do do it yourself que não é sempre bom. Os Moonspell estavam para fazer uma coisa um pouquinho antiquada e conservadora, nesse aspecto, e com todo o respeito para as bandas que optam por gravar em casa. Este álbum teve um factor humano muito importante, que passou pela banda, pois apesar de sempre estarmos muito envolvidos na parte estética e musical da banda, ainda conseguimos nos envolver ainda mais. Se calhar antes não pensaríamos ter sido possível em tão pouco tempo e a nossa capacidade de adaptação funcionou muito bem com o Jens, com o Fascination Street Studio. Foi, sem dúvida, fulcral.


M.I. - Deixando de lado as faixas mais orelhudas e que vão ser rodadas nas rádios, houve uma que me despertou os sentidos, “La Baphomette”, em que usam sopros e cordas, trabalhando com o Mumin Sesler… como chegaram lá?

Acho que era a hora de fazermos isso, o Metal já tem imensas colaborações orquestrais e sinfónicas, muita gente já o fez e os Moonspell tinham um som por vezes com influências nesse campo, mas nunca tínhamos trabalhado com músicos reais a trazerem essa componente e, é engraçado, porque sempre pensei que a música de Moonspell, ao contrário de outras bandas que tocaram com orquestra, tem essa componente na sua génese, pelo que fazia sentido. A orquestra turca do maestro Mumin Sesler compreendeu isso, as dificuldades de comunicação foram muitas, eles gravaram em Istambul e Telavive, quase como num livro de espionagem do Le Carré. Tinha de falar turco com o Mumin, e, claro, eu não falo turco, pelo que precisava de um tradutor com o maestro, que era um fã nosso. Quando ouvimos esta adição à nossa música ficamos absolutamente fascinados. Dá-lhe um ar misterioso, um ar fílmico, muito profundo e leva a nossa música a sítios ainda não tínhamos ido. Nos arranjos deste disco queríamos ter muita musicalidade a acontecer, mas sem termos camadas e camadas, por isso é importante que os músicos fossem todos reais, com todas as suas nuances de tocar. Sem ser uma inovação no Metal, penso que conseguimos nos desviar daquelas orquestras wagnerianas, do oeste europeu. Fomos a um sítio diferente e acho que resultou bem. “La Baphomette” é uma música fora do baralho, que funciona quase como um outro, algo que existia muito nos anos 90 com bandas com que nos identificamos. É engraçado que as bandas nesse outro davam largas à sua imaginação e mesmo que fosse um disco de black ou death metal, as bandas metiam algo de diferente, de desafiante. Lembro-me de várias bandas fazerem isso, desde os Samael aos Arcturus. Os próprios Morbid Angel tinham coisas belíssimas, acústicas, que não eram death metal. Esta música é cantada em francês, quase burlesca, um pouco de Tom Waits também… e resolvemos metê-la no disco e alguém já lhes chamou como uma perfeita canção para um final de concerto ou de disco. Por ser tão peculiar, também chama um pouco à atenção.

M.I. - Em “Malignia” voltam a usar coros femininos…

Desta vez não usamos nenhuma vocalista convidada, há arranjos, coros… a nível de voz fiz muita coisa, o Ricardo Amorim também, ele canta muito bem e ficamos um pouco por aí. Se calhar os coros que encontras resultam de um banco de dados muito interessante que o Pedro tem. Acabou também por ser um statement, isto é um disco de Metal Gótico/Dark Metal, Rock, não sei… e a única voz feminina que temos é em “”Medusalem”, uma música muito curiosa que tem a orquestra do Mumin  e também Yossi Yassi que tocou nos Orphaned Land, com a bouzoukitara, um instrumento tradicional de Israel e temos uma amiga, a Mahafsoun que tem um following muito grande na internet, é modelo, faz belly dancing, já dançou connosco muitas vezes. Ela é do Irão e por razões que penso serem políticas, está a viver no Canadá. Ele fez um discurso em farsi que é uma língua lindíssima. Por tudo isso acabamos por não ter nenhuma participação como na “Scorpion Flower” ou no disco Alpha Noir/Omega White”. O que é engraçado porque hoje em dia o Metal Gótico depende muito dessa participação feminina para ter contraste e o disco de Moonspell tem esse contraste sem ter nenhuma voz feminina. Algo que não foi planeado mas acabou por ser interessante, mostrando que este disco também é uma alternativa ao que praticamente todas as bandas de Metal Gótico estão a fazer. “Malignia” e “Doomina” são letras sobre mulheres, à Type O Negative, por assim dizer. De dor adulta, de incompreensão, de amor romântico e até essa parte lírica é diferente, hoje em dia canta-se sobre piratas ou sobre fadas, ou paisagens nórdicas. Não havendo voz feminina, o disco fala muito do que é estar e lutar no campo também amoroso.


M.I. - Tocaste nas letras e não esquecendo o teu gosto pela poesia e literatura, na primeira escuta de “The Future Is Dark” fiquei a pensar se estaria perante uma letra normal que terias escrito em qualquer momento, ou se era a letra de alguém que tem um filho.

É a letra de alguém que tem um filho. Com o “Extinct” vi logo que teria uma história mais pessoal. Eu cheguei ao “Extinct” não através da ciência ou da poesia que foram importantes numa fase posterior e me ajudaram imenso a desenvolver o conceito, mas a parte da extinção e da adaptação que foram estudadas e aqui abordadas, surgem da palavra “extinto”, que surgiu na minha cabeça como um auxiliar para definir as coisas que se passam nesta idade e coma experiência de ser pai. A entrada nos 40, tendo uma vida tão intensa e pública, o chegar numa época em que tudo era diferente e que muita coisa se perdeu pelo caminho, ficou extinta como alguns dos nossos sítios preferidos, alguns dos nossos cantores preferidos, com o Pete Steel à cabeça. Tudo levou a escrever um disco sobre isso. A experiência da paternidade, influencia, é uma experiência que me completou como nenhuma outra, mas também nos faz lidar com uma parte de nós, extinguir algumas partes de nós, disponibilizarmos a tomar conta de um filho e a explicar-lhe coisas, sem questões, sem hesitações. Por isso esta letra é um pouco pessoal, corta um pouco com a ficção habitual em Moonspell, os lobisomens, vampiros, e entra numa fase mais pessoal. A “The Future Is Dark” é uma carta, praticamente, que escrevo ao meu filho a explicar que o mundo nem sempre é luminoso, mas também há um amanhã. As pessoas poderão pensar que é um disco sobre a morte, a extinção, mas nem por isso, também há um amanhã. Sempre que contacto com este disco, acho que é um disco sobre sobreviver. Acima de tudo, testemunhando a extinção e tentar lutar contra ela.


M.I. - Esse lado não tão negro, revê-se nas remixes, ou versões alternativas, em que a música passa a chamar-se ““The Past Is Darker”!

Sim, até podíamos chamar “The Present Is Dark”. Quando as pessoas nos perguntam se o futuro vai ser negro, eu acho que vai, não vou dizer que não, mas não acho que faça de mim um pessimista. Um pessimista entra numa lógica de que tudo que aconteça, não teremos a possibilidade de mudar ou influenciar o que vai acontecer. Eu acho que podemos e tal como o Churchill, não tenho outra opção que não a de ser optimista. Estando numa banda, portuguesa, sendo pai, tendo uma vida que nem toda a gente conseguiria viver, é natural que nas minhas letras haja uma procura adulta para manter a cabeça acima das águas. Os Moonspell sempre trabalharam as versões, e nesse domínio passei a pasta ao Pedro Paixão, ele tem sempre uma base diferente. O Pedro como as pessoas sabem, não começou por ser metaleiro, enquanto ouvíamos Judas Priest, ele ouvia The Cure, e tem esse lado e foi importante para descobrirmos mais sobre esse lado e dei-lhe liberdade para mudar os títulos e para ironizar com alguns deles, ao fazer as suas versões, que são um bónus, mas também nos habituamos a ver noutras bandas de Metal e Rock que fazem visitas à sua própria música, que acho resultam sempre muito bem. Eu continuo a preferir o disco, qualquer coisa que dele seja derivada, tem valor para mim, mas não se aproxima ao que nós todos fizemos musicalmente.


M.I. - Ainda o disco vai estar a chegar às lojas e já estão na estrada, primeiro na Europa, depois no Canadá e Estados Unidos, sempre com Septic Flesh.

Sim, temos uma relação de amizade com os Septic Flesh, musicalmente apesar de serem mais extrema, possuem uma componente orquestral tal como a nossa e tem crescido muito nos últimos anos. Eu já disse ao Seth, autor das nossas capas e grande amigo, que nos vamos ver mais do que vou ver o meu filho ou a minha mulher. É bom que haja esta amizade e camaradagem e também é bom fazermos duas tournées em que as atracções principais não são bandas do Reino Unido ou Alemanha ou Estados Unidos, mas uma banda grega e outra portuguesa. Isto até dá que pensar um bocado… Não te vou descrever a rotina na estrada porque acaba sempre a ser diferente. No Alpha Noir/Omega White” tanto tocámos em sítios que já tínhamos ido mil vezes, como fomos tocar a Pequim. Esta tournée ainda agora está a nascer e mesmo levando este disco para o palco ainda estamos nos primeiros passos. Também no palco decidimos dar um passo maior e temos mais efeitos, temos um palco maior. Sinto que hoje em dia que as pessoas vão ver um espectáculo, vem lá um backdrop e a banda toca 70 minutos e “That’s All Folks”, percebes? Não queremos fazer uma coisa assim. Os Septic Flesh não tocarão menos de uma hora, os Moonspell nunca menos de 90 minutos. Temos o reportório todo do “Extinct” que queremos tocar, temos o “Wolfheart”, que faz 20 anos este ano, todo aprendido.


M.I. - Os vinte anos do Wolfheart são importantes por esse disco ser um marco, mas por outro lado, vocês tem uma carreira tão longa e com tantos hinos, que deverá ser difícil escolher temas.

Não sabemos ainda, os Moonspell são uma banda que gosta de planear, mas gostamos de ter a liberdade e incuti isso na banda há uns tempos, de termos um reportório aprendido . Já fizemos algumas Noites do Lobo, especiais e ainda conseguimos representar bem essas músicas de há 20 anos, embora muitas coisas, como a minha própria voz, tenham mudado. Pegando nas tournées, tínhamos muito interesse em algo muito engraçado em que até desafiamos os Tiamat para isso, que passava por fazer uma tournée old school, em algumas capitais europeias em que só tocaríamos o “Wolfheart” ou alguma coisa do “Irreligious” e “Under The Moonspell”. Acho que isto iria ter muita adesão, só que os Moonspell ainda não estão na altura de esperar pelas efemérides, temos mais que isso. Quando fizemos vinte anos como banda, tivemos o Alpha Noir/Omega White” e nunca houve uma tournée dos 20 anos, se calhar por culpa de algumas pessoas. Eu acho que é por essa razão que fazemos 20 anos de “Wolfheart” e vamos fazer 25 como banda, nós preocupamo-nos com coisas novas e não nos enterramos completamente no nosso passado. Esse passado contra algumas expectativas tornaram-se lendários e digo-o não como vocalista dos Moonspell, mas frequentador da cena. Foram redescobertos através das novas gerações, o “Wolfheart” é quase um blueprint para bandas de Metal e de Gótico, porque tinha todos esses ingredientes. Na impossibilidade de fazermos essa tournée, vamos tentar fazer o melhor, nestas datas que se aproximam, depois nos festivais de Verão, em Setembro/Outubro a América Latina, depois o leste da Europa. Este ano vai ser dedicado a tournées.


M.I. - “Wolfheart” foi o vosso primeiro álbum e nessa altura é normal perguntar as vossas expectativas. Recordo-me de todo o fuzz na altura e das vossas expectativas porque iam fazer uma primeira parte de Morbid Angel, aquela excitação de um grupo português sair do país e fazer uma digressão a sério. “Extinct”, já não é o primeiro álbum, longe disso, para ti, que gostas de planear as coisas e, certamente, definiste objectivos quando assinaste com uma editora estrangeira, quando é que te sentiste realizado, em que momento sentiste, ter atingido os objectivos que estabeleceste quando tiveste a primeira maqueta na mão?

Para te dizer a verdade, só comecei a pensar nos objectivos da banda e no que tínhamos conseguido, ou não, durante um curtíssimo período de tempo, que foi na primeira grande ruptura, no primeiro grande teste que tivemos com a banda, que foi quando o Ares saiu da banda. Isso foi um período de choque, de alguma luta que durou muitos anos, sempre fora do olhar público, como quisemos. Na altura fez-nos questionar a banda, tomar uma decisão difícil. Fora este período, acho que a melhor maneira de te responder é dizer que, primeiro, nunca atingiremos todos os objectivos, sou daquelas pessoas para quem importa o caminho, o processo. Segundo fomos sempre lidando com objectivos, à medida que eles foram aparecendo e alcançados. Vimos muito rapidamente e há uma frase do Robert Kampf, patrão da Century Media e que assinou as bandas todas, quando nós atingimos a marca dos 50 mil discos vendidos, com “Wolfheart”, penso que até hoje ainda é o disco de estreia mais vendido da editora, nessa altura ele disse “agora é que vocês vão começar a trabalhar”. Realmente essa dinâmica quase brutal de trabalho e de tournées, manteve o nosso espírito ocupado em fazer e não em projectar coisas. Quando passamos por uma fase de menos consensualidade também começamos a gerir as nossas expectativas, por exemplo, para o “Extinct” queríamos fazer uma obra musical que nos impressionasse.

Entrevista por Emanuel Ferreira