A visita dos Moonspell ao nosso país - e isso até pode soar estranho já que se trata de uma banda portuguesa - é sempre um acontecimento e a prova maior disso verificou-se nesta noite de 27 de Março, num Coliseu dos Recreios praticamente cheio. Embora não tenha havido uma festa de lançamento de "Extinct" com a grandiosidade que os seus fãs tão habituados - lembramos do impacto que teve a festa de lançamento de "Alpha Noir/Omega White" no Campo Pequeno - esta noite serviu como uma celebração do novo álbum e não apenas como mais uma data na digressão da banda que já tinha às costas uma sucessão de 16 espectáculos non-stop.


Tudo isto não belisca a qualidade da entrega das músicas retiradas de "Titan", "The Great Mass" e "Communion", como a "Order Of Dracul", "A Great Mass Of Death", num grande espectáculo de death metal sinfónico que merecia ser ouvido em todo o seu esplendor. O público mostrou-se satisfeito e a banda também pela forma como foi recebida. E quanto mais tempo passava, mais se sentia a ansiedade pelos cabeças de cartaz, a viver um excelente momento de criatividade como prova o seu mais recente trabalho de estúdio e que dá o nome à digressão que tem em Portugal como pontos de passagem o Coliseu dos Recreios quase esgotado e um Hard Club já há muito esgotado.

Numa das raras excursões ao passado mais recente, seguiu-se "Night Eternal" recebido em êxtase, assim como a sequência "Opium/Awake!", sempre infalível onde quer que seja, mas muito mais na sua própria "casa". Seguiram-se mais dois destaques do último trabalho, a hiper-melódica "The Last Of Us" e a viciante "Medusalem", dois temas que demonstraram ser bastante fortes ao vivo. Ribeiro referiu por diversas noites que esta noite era bastante aguardada pela banda e que mais que ser um concerto, seria uma celebração da banda e dos seus fãs e que como tal teriam várias surpresas, sendo uma delas a presença de Mariangela Demurtas, vocalista italiana dos Tristania (mas que até se safou bem com o português) que colaborou com os Moonspell ao vivo em 2013, tendo também feito o mesmo com os Orphaned Land e Dark Tranquility). A música escolhida foi outra retirada do passado mais longínquo, "Raven Claws", que de certeza trouxe muita nostalgia a muitos fãs.
Como era a noite de "Extinct", "Funeral Bloom", "Dominia", "Malignia" e "The Future Is Dark" surgiram de rajada e mostraram a força com que este trabalho resulta ao vivo, totalizando oito temas que fizeram parte da setlist, um número que não deixa de ser impressionante. Noutra das incursões ao passado mais recente, foi a vez da "Em Nome Do Medo", onde Fernando contou com a ajuda de Rui Sidónio, quase transformando o tema num dos Bizarra Locomotiva, sem dúvida um dos (muitos) pontos altos da noite. Para finalizar a actuação antes do encore, seguiu-se uma visita a "Wolfheart" que, como Fernando disse, celebra os vinte anos em 2015. Poderia ser uma desculpa, mas será que são necessárias algumas para que se ouça mais uma vez "Vampiria", "Ataegina" (é impressionante a forma como este tema resulta sempre e meteu o Coliseu a mexer como se numa festa medieval estivessem) e a incontornável "Alma Mater".
Um curto intervalo deu-se antes de mais uma visita a "Wolfheart" com um assombroso "Wolfshade (A Werewolf Masquerade)", um também saudoso "Mephisto" e o ponto final oficial dos concertos da banda, "Full Moon Madness", a música máxima no que diz respeito à ligação que a banda tem com os seus fãs, principalmente os portugueses. Aquele solo de Ricardo Amorim, é uma coisa assombrosa, ele que cada vez se assume como um shredder nos mais variados temas. A banda esteve no seu melhor, com um Mike Gaspar certo como um relógio suíço, um Aires Gaspar inabalável, Ricardo Paixão entregue exclusivamente às teclas sem passar pela guitarra (algo que até não se sentiu assim muito falta) e um Fernando Ribeiro visivelmente feliz por estar de volta ao seu país. Uma daquelas noites que ficam imortais no coração da banda e sobretudo no dos fãs, as centenas e centenas que estiveram presentes no Coliseu dos Recreios.
Texto por Fernando Ferreira
Fotografia por Paulo Tavares
Agradecimentos: Everything Is New