Os Decline of The I, liderados pelo talentosos A.K., estão de volta com “Rebellion”, um álbum que foge a todas as convecções pré-definidas para o Black Metal. As excelentes críticas ao novo álbum foram um dos motivos que estiveram na origem da conversa da Metal Imperium com A.K.
M.I – Onde foste buscar o nome Decline of The I?
Há muitos significados e alguns são muito pessoais. Traduzido para Francês, é o anagrama de algo que me é muito chegado. Também é o título de um tema do último álbum dos Love Lies Bleeding, o meu projeto a solo. Vivemos num mundo que termina, por vezes prematuramente. O Homem deixou de ser capaz de sentir empatia por andar tão obcecado com ter mais e mais prazer, cada vez mais depressa. É muito triste… este é um dos significados do nome. Mas, por outro lado, pode ser mais optimista por poder ser a aceitação de que conseguimos escapar da nossa individualidade. Não estou a falar de cenas hippie, como estar ligado à natureza ou cenas dessas. Falo de sentirmos uma ligação com uma energia forte, à vida, como Nietzsche a descreve. Uma onda que nos perpassa e que temos de aceitar. Por outras palavras… amor fati…
M.I. – Porque é que os Decline of The I são considerados Post Black Metal?
Basicamente é uma cena da editora. Não é fácil categorizar a nossa música e atribuem-nos assim certos géneros e subgéneros. Digamos que “Post” vem de “Postmodern”, significando que não criamos formas novas mas criamos novas camadas para todas estas formas, sendo infinito o número de camadas. Por isso, não se pode dizer que criei algo sem fundamento mas sabe-se que não copiei outros. Os DoTI são a personificação de um pensamento pessoal. Mas se queres um género, diria que somos "troubled Black Metal".
M.I. – O conceito da banda é inspirado nos trabalhos do biólogo Henri Laborit, um francês que estudou o comportamento humano e animal. Porque decidiste inspirar-vos nos trabalhos dele?
Nunca trabalhei com um forte conceito na minha música. Nunca tinha dado uma abordagem tão intelectual ao meu trabalho, mesmo sabendo que a minha música é apreciada por pessoal intelectual. Foi um desafio compor desta maneira, tentando transpor as ideias na música. Mas não foi tudo, já que considero a música como um absoluto vector de sentimentos, de “pathos”, para além das palavras.
M.I. – O A.K. está acompanhado por músicos de Merrimack, Anus Mundi, Temple Of Baal, Eibon e Drowning. Afinal, qual é a formação actual?
Não é importante. Sim, estou rodeado de músicos que têm uma experiência sólida.
M.I. – “Rebellion” é o sucessor de “Inhibition”… o título do álbum volta a ter só uma palavra… é intencional?
É sim. Cada álbum é a reação a uma agressão, o título do álbum é o nome da reacção. O próximo trabalho também só terá uma palavra no título.
M.I. – O A.K. é um instrumentalista e esta é a sua abordagem pessoal à música. O que te inspira na escrita das letras para a banda?
Eu não escrevo todas as letras, já que o V. me ajuda em algumas. Todos temos métodos de escrita diferentes e, claro, que nos inspiramos no trabalho do Laborit assim como em outros aspectos. O V. usou a escrita automática e eu inspirei-me em alguns filósofos. Neste álbum, há referências a Spinoza. Penso que a teoria “a única razão de ser de um ser, é ser” do Laborit está muito próxima de Conatus no trabalho do Spinoza. Também fiz uma espécie de “reiniciar” em Deus sive Nature do Spinoza para Deus sive Musica. Nós não escrevemos letras específicas para um tema específico, temos diversos textos e agarramos nesse material para construir as letras.
M.I. – O design foi feito por David Fitt e tem um roedor, o que é bastante impressionante já que não é uma espécie muito apreciada… qual a relação entre o roedor e o significado do álbum?
É uma referência à famosa experiência do Laborit: pôr um rato numa jaula. Há um sinal que anuncia que a jaula estará electrificada e há espaço onde não há choques elétricos. Passado algum tempo, o rato percebe e mal ouve o som, foge para lugar seguro. Mede-se a sua saúde e está tudo bem. Portanto, a primeira reacção a uma agressão: escapar.
Segunda experiência: a mesma que a anterior mss sem espaço seguro, portanto o rato não consegue escapar e recebe os choques eléctricos. A sua saúde degrada-se e está prestes a morrer. Segunda reacção: inibição de acção.
Terceira experiência: tal como a segunda, mas pomos um segundo rato na jaula. Quando a jaula fica electrificada, os dois ratos lutam entre si e não altera em nada a quantidade de choques que recebem. Tal como na segunda experiência, mas mais interessante porque, após algum tempo, a sua saúde ainda está boa. Terceira reacção: violência.
Realmente mostra que o que mata o rato na segunda experiência não são os choques eléctricos mas a impossibilidade de fazer alguma coisa: ele não pode agir. Na terceira experiência, mesmo que a acção dos dois ratos seja inútil, eles não viram a sua energia contra si próprios, porque agem. A pior coisa da vida é a inibição de acção, estar preso, encurralado. E nós, em muitos aspectos, estamos inibidos na nossa vida diária: a sociedade, a moral, a religião, a famíla, etc. Todas estas estruturas podem ser como uma jaula eletrcificada, sem saída, excepto a loucura… ou a arte.
M.I. – Há movimentos tribais associados à bateria… como te lembraste de tal?
Simplesmente sinto os elementos que são necessários num tema. Não penso que tenho de fazer isto ou aquilo, surge simplesmente como se tivesse de ser feito dessa maneira. Não coloco barreiras, nem quero saber se não devia fazer assim por causa do género de música e tal…. Só faço o que me apetece.
M.I. – Há versos falados em Francês… achas que adiciona mais drama ao tema?
Não sei se adiciona drama, mas sei que adiciona uma textura muito interessante. Gosto do facto de não se ter de perceber para sentir algo e sentir-se afectado por tal. Claro que é melhor quando se compreende mas, para mim, a música ultrapassa as palavras.
M.I. – Algumas letras estão em Inglês e outras em Francês. Porque usas mais do que uma língua?
Como em outros aspectos da minha música, é difícil explicar porquê. Simplesmente surge assim na minha mente e eu sinto que é a maneira correcta de o fazer. O Inglês é mais fluente para as partes mais rítmicas mas o Francês encaixa melhor nas partes faladas, por não ter a mesma sonoridade.
M.I. - “Deus Sive Musica” foi considerada como a melhor faixa do álbum devido aos seus arranjos dubstep. Como é que uma banda Post Black Metal incorpora elementos electrónicos na sua música?
Como já disse, pareceu-me a coisa certa a fazer. É um tema sobre o poder da música. A música é quase um Deus para mim. Por isso é que há tantas emoções e estilos diferentes. É o meu tributo à única coisa que realmente me importa.
M.I. – As críticas ao álbum têm sido fabulosas… como te sentes?
Claro que é recompensador mas faço música para mim, para expulsar as mentiras que tenho cá dentro e que não quero contiuar a transportar, porque são demasiadas e demasiado pesadas. Mas sim, é uma energia positiva ouvir o que o pessoal que ouviu o álbum tem para dizer. Cria uma espécie de ligação entre nós.
M.I. – O A.K. comentou que este álbum expressa algo mais violento do que o primeiro álbum, que está farto de ouvir bandas que se copiam umas às outras. Que com os DoTI os ouvintes só lidarão com as neuroses do A.K.. Estás saturado da cena metal de hoje?
Saturado, não sei, mas sinceramente nunca mais sentirei o que senti na era 93-95 quando descobri grandes álbuns. Mas não sou um tipo nostálgico e acredito que ainda há boas bandas e bons álbuns hoje em dia… por exemplo, a cena islandesa é impressionante.
M.I. – A cena Francesa de Black Metal tem grandes bandas e fizeste parte de algumas delas… qual a tua opinião sobre ela? Porque não é considerada tão boa como a cena nórdica?
Penso que a nossa cena é única porque há muito pessoal dedicado há muitos anos e é uma cena mais pessoal do que a nórdica, mais suja e mais doente. Não temos apoio do governo. Na Escandinávia é fácil arranjar salas de ensaio pagas e até tournées mas, na França, não recebemos nada por este tipo de música. É complicado continuar mas torna-nos mais puros e fortes. E se continuamos é porque a nossa vontade não esmorece.
M.I. – O A.K. tocou em bandas como Vorkreist, Merrimack, Neo Inferno 262, Malhkebre and Diapsiquir… em que projectos estás envolvido hoje em dia para além de DoTI?
Muitos ainda: Merrimack, Vorkreist, Malhkebre, Sektarism, Eros Necropsique... os Neo Inferno 262 estão a fazer uma pausa por uns tempos, mas não é um projecto terminado.
M.I. – Será feita alguma tour para promover “Rebellion”?
Uma tournée duvido seriamente, mas penso fazer alguns concertos. É esperar para ver.
M.I. – Deixa uma mensagem final aos fãs Portugueses.
Adoro o vosso país e adorei os meses que passei com os Corpus Christii. Saudações para eles.
"La vie ne suffit pas". (A vida não é o suficiente)
Entrevista por Sónia Fonseca
M.I – Onde foste buscar o nome Decline of The I?
Há muitos significados e alguns são muito pessoais. Traduzido para Francês, é o anagrama de algo que me é muito chegado. Também é o título de um tema do último álbum dos Love Lies Bleeding, o meu projeto a solo. Vivemos num mundo que termina, por vezes prematuramente. O Homem deixou de ser capaz de sentir empatia por andar tão obcecado com ter mais e mais prazer, cada vez mais depressa. É muito triste… este é um dos significados do nome. Mas, por outro lado, pode ser mais optimista por poder ser a aceitação de que conseguimos escapar da nossa individualidade. Não estou a falar de cenas hippie, como estar ligado à natureza ou cenas dessas. Falo de sentirmos uma ligação com uma energia forte, à vida, como Nietzsche a descreve. Uma onda que nos perpassa e que temos de aceitar. Por outras palavras… amor fati…
M.I. – Porque é que os Decline of The I são considerados Post Black Metal?
Basicamente é uma cena da editora. Não é fácil categorizar a nossa música e atribuem-nos assim certos géneros e subgéneros. Digamos que “Post” vem de “Postmodern”, significando que não criamos formas novas mas criamos novas camadas para todas estas formas, sendo infinito o número de camadas. Por isso, não se pode dizer que criei algo sem fundamento mas sabe-se que não copiei outros. Os DoTI são a personificação de um pensamento pessoal. Mas se queres um género, diria que somos "troubled Black Metal".
M.I. – O conceito da banda é inspirado nos trabalhos do biólogo Henri Laborit, um francês que estudou o comportamento humano e animal. Porque decidiste inspirar-vos nos trabalhos dele?
Nunca trabalhei com um forte conceito na minha música. Nunca tinha dado uma abordagem tão intelectual ao meu trabalho, mesmo sabendo que a minha música é apreciada por pessoal intelectual. Foi um desafio compor desta maneira, tentando transpor as ideias na música. Mas não foi tudo, já que considero a música como um absoluto vector de sentimentos, de “pathos”, para além das palavras.
M.I. – O A.K. está acompanhado por músicos de Merrimack, Anus Mundi, Temple Of Baal, Eibon e Drowning. Afinal, qual é a formação actual?
Não é importante. Sim, estou rodeado de músicos que têm uma experiência sólida.
M.I. – “Rebellion” é o sucessor de “Inhibition”… o título do álbum volta a ter só uma palavra… é intencional?
É sim. Cada álbum é a reação a uma agressão, o título do álbum é o nome da reacção. O próximo trabalho também só terá uma palavra no título.
M.I. – O A.K. é um instrumentalista e esta é a sua abordagem pessoal à música. O que te inspira na escrita das letras para a banda?
Eu não escrevo todas as letras, já que o V. me ajuda em algumas. Todos temos métodos de escrita diferentes e, claro, que nos inspiramos no trabalho do Laborit assim como em outros aspectos. O V. usou a escrita automática e eu inspirei-me em alguns filósofos. Neste álbum, há referências a Spinoza. Penso que a teoria “a única razão de ser de um ser, é ser” do Laborit está muito próxima de Conatus no trabalho do Spinoza. Também fiz uma espécie de “reiniciar” em Deus sive Nature do Spinoza para Deus sive Musica. Nós não escrevemos letras específicas para um tema específico, temos diversos textos e agarramos nesse material para construir as letras.
M.I. – O design foi feito por David Fitt e tem um roedor, o que é bastante impressionante já que não é uma espécie muito apreciada… qual a relação entre o roedor e o significado do álbum?
É uma referência à famosa experiência do Laborit: pôr um rato numa jaula. Há um sinal que anuncia que a jaula estará electrificada e há espaço onde não há choques elétricos. Passado algum tempo, o rato percebe e mal ouve o som, foge para lugar seguro. Mede-se a sua saúde e está tudo bem. Portanto, a primeira reacção a uma agressão: escapar.
Segunda experiência: a mesma que a anterior mss sem espaço seguro, portanto o rato não consegue escapar e recebe os choques eléctricos. A sua saúde degrada-se e está prestes a morrer. Segunda reacção: inibição de acção.
Terceira experiência: tal como a segunda, mas pomos um segundo rato na jaula. Quando a jaula fica electrificada, os dois ratos lutam entre si e não altera em nada a quantidade de choques que recebem. Tal como na segunda experiência, mas mais interessante porque, após algum tempo, a sua saúde ainda está boa. Terceira reacção: violência.
Realmente mostra que o que mata o rato na segunda experiência não são os choques eléctricos mas a impossibilidade de fazer alguma coisa: ele não pode agir. Na terceira experiência, mesmo que a acção dos dois ratos seja inútil, eles não viram a sua energia contra si próprios, porque agem. A pior coisa da vida é a inibição de acção, estar preso, encurralado. E nós, em muitos aspectos, estamos inibidos na nossa vida diária: a sociedade, a moral, a religião, a famíla, etc. Todas estas estruturas podem ser como uma jaula eletrcificada, sem saída, excepto a loucura… ou a arte.
M.I. – Há movimentos tribais associados à bateria… como te lembraste de tal?
Simplesmente sinto os elementos que são necessários num tema. Não penso que tenho de fazer isto ou aquilo, surge simplesmente como se tivesse de ser feito dessa maneira. Não coloco barreiras, nem quero saber se não devia fazer assim por causa do género de música e tal…. Só faço o que me apetece.
M.I. – Há versos falados em Francês… achas que adiciona mais drama ao tema?
Não sei se adiciona drama, mas sei que adiciona uma textura muito interessante. Gosto do facto de não se ter de perceber para sentir algo e sentir-se afectado por tal. Claro que é melhor quando se compreende mas, para mim, a música ultrapassa as palavras.
M.I. – Algumas letras estão em Inglês e outras em Francês. Porque usas mais do que uma língua?
Como em outros aspectos da minha música, é difícil explicar porquê. Simplesmente surge assim na minha mente e eu sinto que é a maneira correcta de o fazer. O Inglês é mais fluente para as partes mais rítmicas mas o Francês encaixa melhor nas partes faladas, por não ter a mesma sonoridade.
M.I. - “Deus Sive Musica” foi considerada como a melhor faixa do álbum devido aos seus arranjos dubstep. Como é que uma banda Post Black Metal incorpora elementos electrónicos na sua música?
Como já disse, pareceu-me a coisa certa a fazer. É um tema sobre o poder da música. A música é quase um Deus para mim. Por isso é que há tantas emoções e estilos diferentes. É o meu tributo à única coisa que realmente me importa.
M.I. – As críticas ao álbum têm sido fabulosas… como te sentes?
Claro que é recompensador mas faço música para mim, para expulsar as mentiras que tenho cá dentro e que não quero contiuar a transportar, porque são demasiadas e demasiado pesadas. Mas sim, é uma energia positiva ouvir o que o pessoal que ouviu o álbum tem para dizer. Cria uma espécie de ligação entre nós.
M.I. – O A.K. comentou que este álbum expressa algo mais violento do que o primeiro álbum, que está farto de ouvir bandas que se copiam umas às outras. Que com os DoTI os ouvintes só lidarão com as neuroses do A.K.. Estás saturado da cena metal de hoje?
Saturado, não sei, mas sinceramente nunca mais sentirei o que senti na era 93-95 quando descobri grandes álbuns. Mas não sou um tipo nostálgico e acredito que ainda há boas bandas e bons álbuns hoje em dia… por exemplo, a cena islandesa é impressionante.
M.I. – A cena Francesa de Black Metal tem grandes bandas e fizeste parte de algumas delas… qual a tua opinião sobre ela? Porque não é considerada tão boa como a cena nórdica?
Penso que a nossa cena é única porque há muito pessoal dedicado há muitos anos e é uma cena mais pessoal do que a nórdica, mais suja e mais doente. Não temos apoio do governo. Na Escandinávia é fácil arranjar salas de ensaio pagas e até tournées mas, na França, não recebemos nada por este tipo de música. É complicado continuar mas torna-nos mais puros e fortes. E se continuamos é porque a nossa vontade não esmorece.
M.I. – O A.K. tocou em bandas como Vorkreist, Merrimack, Neo Inferno 262, Malhkebre and Diapsiquir… em que projectos estás envolvido hoje em dia para além de DoTI?
Muitos ainda: Merrimack, Vorkreist, Malhkebre, Sektarism, Eros Necropsique... os Neo Inferno 262 estão a fazer uma pausa por uns tempos, mas não é um projecto terminado.
M.I. – Será feita alguma tour para promover “Rebellion”?
Uma tournée duvido seriamente, mas penso fazer alguns concertos. É esperar para ver.
M.I. – Deixa uma mensagem final aos fãs Portugueses.
Adoro o vosso país e adorei os meses que passei com os Corpus Christii. Saudações para eles.
"La vie ne suffit pas". (A vida não é o suficiente)
Entrevista por Sónia Fonseca