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Venom - "From the Very Depths" Review


Até que ponto faz sentido lançar álbuns após 30 anos de carreira? O que é que ainda se pode acrescentar a uma discografia já de si mais que completa? Será que existe ainda alguma coisa para dizer ou para acrescentar? Estas são algumas perguntas que têm de ser feitas quando bandas que definiram o heavy metal nos seus primórdios continuam a lançar álbuns hoje em dia. É certo que bandas como os Motorhead ou os Accept continuam a destilar grandes trabalhos ano após ano e a endeusar ainda mais (se é que é possível) o seu legado na música, mas a idade não é apenas um posto, é também um sinal que obriga as bandas a redefinir o querem fazer e como o querem fazer. Num prisma completamente distinto dos Motorhead e dos Accept surgem os Venom, cujos últimos trabalhos não beliscam a importância e maldade de álbuns como “Black Metal”, “At War With Satan” ou “Welcome to Hell”, mas não trazem nada de novo ao repertório dos britânicos. 

Este “From the Very Depths” não foge à regra e este não será certamente um álbum a recordar durante muito tempo. Apesar de alguns bons momentos do disco, é impossível apagar a insipidez que sentimos ao ouvir este décimo quarto (!) álbum da banda de Cronos. Este é um trabalho que morre demasiado cedo, à medida que tudo nos vai soando um bocado ao mesmo e esse mesmo não é assim tão bom. As canções são demasiado longas, tendo em conta aquilo que têm para oferecer e, caso fossem mais curtas, seria necessária uma certa energia e tenacidade que os Venom já não têm hoje em dia. Os músicos da banda britânica, sem serem grandes virtuosos, foram fazendo sempre valer uma certa força e energia que era contagiante e que lhes valeu muitos fãs ao longo dos anos, mas essa robustez musical foi-se perdendo, naturalmente, à medida que os anos iam passando pela banda. Neste álbum paira uma nuvem de decadência, mas essa decadência não é proposta pelas letras ou pelos instrumentais, mas sim ao compararmos isto a outras coisas que a banda já fez. 

Um dos primeiros golpes dados neste álbum é a faixa “Smoke”, que corta um ímpeto que vinha crescendo com as faixas anteriores, a faixa título e “The Death of Rock N Roll”, canções que tinham os seus momentos de interesse e de divertimento. O ritmo vagaroso e a voz arrastada de Cronos quebram completamente qualquer intenção de gostar ou compreender este novo álbum. “Temptation” é outra canção vazia, onde o nome da música é repetido até à exaustão e só apetece passar para uma próxima canção, onde de preferência ninguém diga a palavra “temptation”. Mas o mesmo sucede pouco depois com a canção “Stigmata Satanas”: “stigmata” é repetido umas 342532 vezes ao longo de três minutos de penosa de duração. Ao longo de 14 faixas, um número que assusta pela falta de diversidade que o álbum apresenta, os Venom tocam como se tivessem uma espécie de livro de estilo, onde estão as regras de “como tocar heavy metal” e não pudessem fazer nada diferente do que ali está. Torna-se um pouco triste e embaraçoso.

Acredito que, por motivos contratuais, os Venom tenham de continuar a lançar álbuns, mas continuar a fazer o mesmo, sem nenhum tipo de inspiração e com cada vez menos força, não dignifica aquilo que os Venom foram no passado e o legado que deixaram para sempre no heavy metal. “Grinding Teeth”, “From the Very Depths”, “The Death of Rock N Roll” e “Long Haired Punks” são as canções que ainda vão fazendo relembrar os velhos Venom e que, de certo modo, tentam esconder o marasmo de ideias que este álbum é. O resto também é Venom, mas só de nome. 

Nota: 2.7/10

Review por Pedro Bento