Parece que a Academia Recreativa de Linda-a-Velha voltou para ficar. Um dos mais míticos locais do movimento underground nacional, que aos poucos foi desaparecendo um pouco do mapa, vai já no segundo evento no espaço de um mês e ainda agora o ano começou. Outro factor que ainda veio salientar mais este regresso marcante foi a quantidade de pessoas que esteve presente neste LVHC Fest, bem acima do limite razoável do espaço, o que poderia ter tomado contornos mais arriscados, mas que felizmente acabou em bem.
A abrir esta noite mítica, e a dar também mostras de que a nova escola tem tanto valor como a antiga, os PUSH de Alvalade vieram despejar o seu Hardcore musculado e trabalhado, com o primeiro álbum Breathe in the Future... Breathe Out The Past na bagagem e o novo registo a dar os primeiros sinais de vida. Com a habitual cover de Ceremony e passagens a remeter a riffs de Metallica dos anos 80, houve ainda tempo para algumas faixas novas que aumentam bastante as expectativas em relação ao próximo lançamento desta jovem banda, sendo também de notar a habitual coesão e presença monstruosa em palco.
De seguida vieram os Sarna de Leiria. Esta banda, com um percurso algo atribulado, foi formada em 1996, mas após 4 anos de existência cessou actividades. Em 2013 regressaram aos concertos e desta vez vieram a Linda-a-Velha relembrar o seu hardcore punk rápido e sujo, na onda de Ratos de Porão, dos quais ainda fizeram uma versão em jeito de homenagem. Descontraídos mas coesos, mostram que não são precisos grandes truques para dar um bom concerto de punk, tal como dita a lei, com corpos e cerveja a voar. Sem dúvida um nome a ter em conta no panorama punk nacional.
E o que poderia ser melhor para dar seguimento a esta grande, e lotada, noite? Uma banda da casa. Os Mordaça, de Linda-a-Velha, contam já com quase 10 anos de formação e estrada, apesar de apenas contarem com um lançamento de estúdio. Uma banda que sofreu algumas alterações na formação ao longo da carreira, mostra-se agora em excelente forma, a preparar um novo álbum intitulado "Sempre a Lutar". Com uma performance com pouco a apontar, conseguiram manter o excelente ambiente que se vivia na Academia com uma postura descontraída enquanto despejavam o seu Hardcore Punk da velha escola, contagiando todos os presentes que iam ajudando nas letras, enquanto outros continuavam o desfile de stagedives que se fez sentir durante toda a noite.
E depois de uma (demasiado) longa espera, os míticos Mata-Ratos. Uma das bandas mais aguardadas pelos presentes, fizeram valer a espera. Foi um desfilar de clássicos desde "Deus, Pátria e Família" até ao "És um Homem ou És um Rato", deliciando todos os que ali estavam para fazer parte desta festa. Passando por temas como "C.C.M" e "Última Rodada", ficaram ainda a faltar alguns outros clássicos, provavelmente devido ao atraso no início do seu alinhamento. No entanto, os stagedives não pararam e o bom ambiente muito menos, com toda a sala a cantar em uníssono com Miguel Newton, já um ícone do punk português.
Para fechar esta noite de festa, mais uma banda da casa, com 20 anos de existência, os Trinta & Um vieram estremecer os alicerces da Academia de Linda-a-Velha com 60 minutos do seu Hardcore Punk à antiga e em português. Uma das mais emblemáticas bandas do underground nacional, foram um dos pilares do desenvolvimento do movimento que se fez sentir naquela zona noutros tempos. Agora, em 2015, apresentam-se de cara lavada e mais coesos que nunca, com Deris na guitarra, Rato na bateria, Metralha no baixo e Zé Goblin na voz. Clássico atrás de clássico, não faltaram temas como "O Cavalo Mata", do primeiro lançamento da banda com o mesmo título, "Não Há Regresso" e "Coma 85". Com a Academia a rebentar pelas costuras, todos os presentes entoaram as letras durante o enorme alinhamento dos Trinta & Um, mostrando mais uma vez o carinho que o público de Linda-a-Velha, e não só, sente por esta banda. Aguardamos agora, 11 anos depois do último "Terceiro Assalto", por um novo lançamento da mítica banda de Linda-a-Velha.
Texto por Afonso Veiga
Fotografia por Tiago Barbas
Agradecimentos: Trinta & Um