Fazer o chamado Shoegaze não é para todos, não é por acaso que bandas do género não existem aos pontapés. E das que existem, é preciso subtrair umas quantas cujo resultado sonoro, mais não é do que non-sense provido de uma noite de charros. Felizmente que os suíços Last Leaf Down não entram nessas contas
É curioso que não sendo uma banda de metal, é graças a este subgénero que se pode dizer que este colectivo existe hoje em dia. Altamente influenciados pela era dark/doom dos Katatonia, foi somente com a entrada do baterista Patrick Hof para a bateria e Benjamin Schenk para as vozes, que os Last Leaf Down decidiram o que realmente queriam da vida. E em boa hora o fizeram, porque pelos vistos têm jeito para a coisa.Não esperem no entanto algo de substancialmente novo nesta estreia Fake Lights. De "Slowdive" a "My Bloody Valentine" (se esquecermos a distorção), passando por Anathema, muitas vezes estes nomes nos assaltam à memória aquando da audição do disco. Algo que seria péssimo não fosse a banda ser capaz de momentos bastante memoráveis, como é o caso do primeiro tema (após intro) In Dreams, onde vemos os conceitos de refrão e pico de intensidade se fundirem de maneira quase perfeita. Curiosamente, no não menos conseguido tema seguinte, "The Thought That I Saw You", os Last Leaf Down optam pelo inverso, sendo o refrão desta vez o break necessário, para que os diferentes estados de espírito da composição sejam verdadeiramente incisivos.
Musicalmente já se sabe o que esperar, temas complicados, que não seguem as estruturas musicais mais convencionais, tudo numa toada muito “slow” e taciturna, mas nem por isso monótona. A guitarra, claro está, têm aqui um papel preponderante, na forma como “embala” o ouvinte, coadjuvada por um rico conjunto de efeitos necessários, para que as notas se possam prolongar de forma a reflectir um efeito hipnótico. Para reforçar ainda mais dito efeito, a própria bateria chega mesmo por vezes a assumir uma influência tribal como é o caso de "An Endless Standoff" (outro tema de destaque). É de facto evidente o bom entrosamento dos músicos ao longo destas 13 faixas, o que sem dúvida contribui para reforçar a qualidade desta estreia.
"Fake Lights" é uma daquelas bandas sonoras que tanto serve para sentar e relaxar, como também para procurar algum conteúdo mais substancial, pecando apenas pela falta de originalidade.
Nota: 8.6/10
Review por António Salazar Antunes