Os CODE são uma banda que tem surpreendido os fãs mas, este quarto álbum “mut” vai certamente abalar a opinião sobre a banda… a mudança de som é drástica quando comparada com o último álbum “Augur Nox”… para nos explicar os motivos de todas as mudanças a que a banda se submeteu, a Metal Imperium esteve à conversa com o guitarrista Aort.
M.I. – Vocês escolheram o nome CODE por ser bastante ambíguo e poder ser interpretado de diversas formas. Mas o que significa para vocês?
Vou ser brutalmente honesto e dizer que nunca significou nada particular para mim. Senti-me mais atraído pela simplicidade e ambiguidade da palavra e achei que seria um excelente nome para uma banda. Interessa-me mais a interpretação que as pessoas fazem da palavra quando a relacionam com a banda.
M.I. – De acordo com a vossa editora, Agonia Records, os CODE mergulharam no desconhecido para explorar novas formas de expressão, o que resultou num dinâmico álbum de post-rock progressivo que irá provocar um pequeno tumulto”. Eu concordo completamente com esta afirmação mas não sei qual será a reação dos fãs… afinal o que podem os fãs esperar deste álbum?
O mais seguro é dizer que o pessoal deve estar preparado para ouvir algo diferente, algo que eles não esperariam que nós fizéssemos. Apesar de ser uma grande mudança em termos de estilo, penso que são audíveis certas características que nos identificam como banda já que são as mesmas pessoas que escrevem e tocam a música. O certo é que o ouvinte não deve esperar que este seja somente mais um álbum de metal extremo… esses dias já passaram.
M.I. – A banda referiu que “mut é o som da banda a libertar-se dos limites dos CODE e das convenções de qualquer tipo de género musical. O tempo de conformidade já passou e nós criamos um álbum que é a destilação pura da nossa ambição musical. Esta é a primeira vez, na história da banda, que criamos música sem pontos de referência e o resultado é um álbum mais íntimo e emocional”. Porque optaste por trabalhar assim?
Foi uma necessidade. Sentimos que tínhamos chegado a um beco sem saída com o nosso último álbum. Achamos que tínhamos refinado o mais possível o som característico da nossa banda e o único modo de mantermos o nosso material apelativo seria mesmo mudar drasticamente. Não há razão para fazer mudanças subtis só por medo de incomodar as pessoas. Nós queríamos desafiarmo-nos a nós próprios e penso que o ouvinte será capaz de detectar isso. Pode não ser óbvio em muitos casos mas fazer música honesta e sem contrições é muito importante para nós e fazer música com limites pré definidos é o maior limitador da mente.
M.I. – Os CODE estão satisfeitos com o resultado final?
Muito satisfeitos mesmo. Como banda estamos muito satisfeitos com o que criamos e, de um ponto de vista pessoal, esta é a experiência mais libertadora e reconfortante desde que formei a banda há muitos anos atrás. A meu ver, finalmente, fizemos jus à banda.
M.I. – Porque é que “mut” se deve escrever com letra minúscula?
É meramente um factor estético, já que pretendíamos que tudo tivesse uma apresentação o mais exímia e espectacular possível, e tal aplica-se a tudo, desde os títulos às fotos e até ao modo como as letras deviam ser apresentadas. Este álbum somos nós a sermos brutalmente honestos, portanto queríamos que o visual também reflectisse isso.
M.I. – Quando comparado a “Augur Nox” há uma mudança na sonoridade e algumas críticas consideram-na pouco favorável. Porque mudaste a sonoridade?
Só tenho a dizer que o “Augur Nox” teve uma grande influência neste novo álbum. Se somos culpados de algo no álbum anterior é o facto de termos tentado criar um álbum que as pessoas esperavam que nós criássemos. Sinto mesmo que fizemos isso. Foi o primeiro álbum com o novo line-up e havia uma pressão para fazer justiça a tudo o que tinha acontecido e tal cortou a nossa criatividade de diversas formas. Ficou claro que não fazia sentido criar algo que se espera de nós e “mut” é a reacção a isso.
M.I. – O álbum perdeu todas as raízes black metal que a banda tinha nos lançamentos anteriores e a Agonia agora até vos descreve como post rock progressivo. Imagino que nem te preocupes com o que os outros pensam mas como é que uma banda muda tão drasticamente?
Uma banda pode mudar drasticamente se se sentir confortável com a sua identidade e se parar de pensar no que as pessoas querem dela. Sempre recebemos muitos comentários a referir que não soamos como as pessoas imaginam que devíamos soar e, no contexto deles, tal está correcto…. No nosso mundo, os são o que nós queremos que seja e essa é a nossa prerrogativa. Tenho a certeza que o pessoal que gostou do material anterior, encontrará algo que aprecia neste material novo mas alguns não gostarão simplesmente por não ser black metal… mas é a vida e a vida continua.
M.I. – O Wacian estava bastante medicado antes da gravação do álbum… isso afectou o processo de alguma maneira?
Ele passou por muitos problemas de saúde durante o período de escrita e gravação e teve de ser medicado. Penso que foi muito estranho para ele e não foi nada bom do ponto de vista da sua sanidade mental mas os resultados foram absolutamente mágicos portanto o trauma dele acabou por ser bom para o álbum.
M.I. – Porque é que a banda considerou este álbum um desafio? Por ser o mais ambicioso, íntimo e emocionante?
Penso que este álbum é um desafio porque foi o mais desafiante que fizemos. Não teria sido um desafio se tivessemos produzido outro álbum igual aos que fizemos no passado. Pessoalmente foi um desafio por ter a mudança do som, que me obrigou a abordar a escrita e o modo de tocar de um ângulo diferente. Todos os meus truques para tocar metal não encaixavam neste álbum e tal forçou-nos a desviarmo-nos do que tínhamos feito anteriormente.
M.I. – A capa tem uma foto que aparenta ser espacial, na qual se verificam mutações temporais… a palavra mut tem algo a ver com mutação?
Voltamos à ambiguidade. A imagem representa o enrolar de uma onda e é isso que vejo sempre que olho para ela, mas a maioria do pessoal partilha da tua interpretação e considera-a uma imagem do espaço. É suposto que a capa gere uma resposta emotiva que complementa a música e as letras, tal como o caminho individual de cada um. “Mut” não tem nada a ver com a mutação do nosso som ou outra mutação qualquer. “Mut” tem a ver com a passagem da vida e está é a nossa.
Novamente, por uma questão estética. O sentimento vago e solitário da praia onde as fotos foram tiradas reflectem o sentido do álbum. Sentimentos de isolamento e a dicotomia do infinito combinadas com o sentimento tangível do fim da estrada. É simultaneamente uma fronteira e uma oportunidade.
M.I. – Alguns críticos musicais consideram que falta um certo toque especial e que a música é fácil de ouvir mas não é viciante… o que nos podes dizer sobre isto?
Não me interessa nada o que os críticos dizem. Não considero que as opiniões deles sejam mais importantes que as dos outros e, definitivamente, não fizemos este álbum para tentar agradar a ninguém. A música é subjectiva e todos deveriam ser livres para decidir e formar a sua própria opinião sobre o álbum sem ter alguém a dizer-lhes o que a música é ou não boa e se é válida ou não. Algumas pessoas podem não a considerar viciante mas outros podem nem conseguir deixar de a ouvir. Essa é a beleza da experiência humana. A opinião dos outros é subjectiva e não vale mais só porque está escrita numa revista ou na internet.
M.I. – Muitos têm-vos comparado aos Opeth devido às mudanças radicais e mesmo a voz deixou o tom Black Metal e agora é limpa… o que esperais deste álbum?
É difícil responder já que não há nenhum tipo de consenso na comparação com Opeth. Mas, em qualquer caso, penso que essa comparação é extremamente superficial. Os Opeth não foram a primeira banda a mudar drasticamente de estilo e nós não seremos os últimos a abandonar as vozes mais duras e ásperas. Nós não estamos a seguir tendências e, por isso, estamos muito satisfeitos com este álbum. Esta é o reflexo mais honesto que nós como músicos e compositores fomos capazes de produzir!
M.I. – Estão a preparar alguma tournée para promover o álbum?
Não! Talvez façamos alguns concertos este ano mas nada de mais. A curto prazo iremos ensaiar os temas com a expectativa de vir a fazer alguns concertos em que nos concentraremos no material novo e, depois disso, talvez consideremos fazer algo mais equilibrado que abranja toda a nossa carreira.
M.I. – Se pudesses escolher duas bandas para andar em tournée com < code >, que bandas escolherias e porquê?
Esta pergunta é traiçoeira mas, de uma perspectiva egoísta, eu gostaria de tocar com uma banda que tenha um mellowtron que nos pudesse emprestar. Talvez bandas da esquecida cena grunge de Seattle… seria perfeito!
M.I. – Partilha uma mensagem com os leitores da Metal Imperium.
Obrigado por terem lido a entrevista. Ouçam o álbum com mente e coração abertos e não deixem que vos influenciem e vos digam o que é bom e o que é mau, descubram por vocês próprios e a vossa vida ficará melhor. Deixem que se faça luz!
Entrevista por Sónia Fonseca