Mais do que ninguém, os apreciadores de heavy metal adoram ouvir e falar daquelas bandas que mais “ninguém conhece”. Os “tesourinhos” são algo muito pessoal e só transmissível a pessoas de confiança, para proteger aquela sacralidade que só as grandes descobertas têm. Os Northland são um desses casos para mim: descobri-os, por acaso, com um naipe de músicas electrizantes e dignas do mais requintado álbum de folk metal (“The Old Town’s Inn”, “Revenge”, “Immortal Forest Song”, “Where the Heroes Die” e tantas outras), deram um grande concerto no Vagos Open Air e hoje aqui estão eles com um segundo álbum muito aguardado e que deixa expectativas legítimas no ar. Há uma evolução facilmente identificável neste novo álbum, mas era uma mutação já esperada no som dos Northland. Se no primeiro álbum dos espanhóis tínhamos uma espécie homem do período paleolítico a tocar heavy metal de modo selvagem, agressivo e com muita festarola, em “Downfall and Rebirth” o som é mais requintado, melódico e há até momentos lentos, suaves e introspectivos. Este é também um álbum mais sólido e uniforme do que era “Northland”, onde se ia da histeria ao aborrecimento muito facilmente. A produção deste álbum é quase cristalina e é, por isso, mais fácil identificar todos os instrumentos e o curso que tomam ao longo das canções, ao mesmo que se perde alguma violência sonora e rispidez que acabam por fazer falta ao som da banda catalã. Ainda assim, ganham-se outras coisas como um factor épico adjacente a quase todas as músicas e uma beleza natural no som da banda, que contrasta com a (talvez) mais prazerosa selvajaria do primeiro álbum. Ao longo de onze canções podemos observar uns Northland mais “criadores de ambiências” do que propriamente “organizadores de festas” e prova disso são as constantes intros acústicas que precedem as malhas e criam um mood em molde “calm before da storm” para ambientes mais agrestes. A faixa “The Rite” é uma construção de ambiente com dois minutos e meio de duração. Este é também um álbum que cresce rapidamente com as audições: se nas primeiras degustações é possível enumerar logo duas ou três canções que são vencedoras instantâneas pela sua pujança e catchiness, é nas audições seguintes que se recebem os verdadeiros heróis deste artefacto folk.
Ora, existem dois temas que se distinguem enfaticamente dos outros, embora por motivos distintos. “Bloodred Sunrise” é uma malha muito bem conseguida, com estrutura, energia, força, uma concepção motivacional forte e um grito de “para a guerra!” tão típico do folk metal. O violino, que nem sempre é bem utilizado pela banda, está imparável aqui e esta canção é um excelente cartão-de-visita da banda e figura já nas melhores malhas que os Northland têm para oferecer aos seus fãs. O outro highlight é “Moonlight Spell”, uma balada de tenda medieval, que possui uma ambiência incrível, calibrada e ao mesmo tempo rebelde, e onde a sintonia telepática entre o “homem e mulher” é muito bonita de se ver. O momento é de gala e o ouvinte é transportado para um ambiente típico de um “Senhor dos Anéis”, rodeado de Elfos a tocar a arpa e uma beleza metafísica a pairar por todo o lado.
Num segundo plano, faixas como “Downfall and Rebirth”, “Whispers in the Wind” (grande momento!), “When Nature Awakes” e “The Rite + Fury’s Unleashed” possuem também a sua graciosidade, predominando sempre a mesma fórmula das introduções melancólicas, seguidas de violinos e guitarras furiosas e um refrão em modo hino para terminar o bouquet. Outras faixas como “Together We Die” e “Spirit in Darkness” são, por outro lado, inconsequentes e algo relevantes se tivermos em conta a qualidade que temos à mercê dos nossos ouvidos. “Spirit in Darkness” acaba até por soar a algo que já ouvimos… neste álbum. “Downfall and Rebirth” não é um álbum imaculado, mas é um esforço muito bem conseguido com momentos ao nível daquilo que melhor se faz no folk metal. Se este ano promete em termos de lançamentos de heavy metal, os Northland acabaram de deixar a fasquia bem alta para os próximos “lançadores”. Quem é o próximo?
Review por Pedro Bento
