Qualquer carreira tem uma natural ascensão e ainda mais natural declínio. Se no caso de Manson a ascensão ao posto de king of shock, foi bem rápida, já o declínio tardou e confundiu-se com o natural decaimento físico e aproximar da concorrência. Manson já não choca as novas gerações e as polémicas passam ao lado. A idade também não tem beneficiado a personagem que em palco se revela pesada e mais teatral que inspirada. A imagem de um Manson a oxigénio numa recente passagem por Portugal, mostrou bem isso.
Mas um novo trabalho de Marilyn Manson é sempre novidade e, no caso deste “The Pale Emperor”, a novidade é boa. Se alguns clichés do seu som estão por lá – aquele ritmo em “Slave Only Dreams To Be King”, as bit lines de “Killing Strangers” ou “Deep Six”, por exemplo – por outro lado, escutam-se bem alguns dos novos temas e parecem ser mais próximos de integrar um best of da sua carreira, que as malhas dos anteriores “Born Villain” ou “The High End of Low”.
“Killing Strangers” começa bem, como uma invocação blues, quase tribal, numa encruzilhada perto de New Orleans, aqui e ali, alguma electrónica a lembrar que é de um disco de Manson que se trata, mas a guitarra blues mantém-se omnipresente, enquanto um Manson melancólico vai criticando um certo gosto pelas armas – sim, o homem está mais velho e conservador. A marca NIN chega com “Deep Six”, mais uma batida catchy como só o senhor sabe fazer, e que será um prazer ouvir bem alto numa Rock Party. Depois perdem-se as malhas catchy e entra-se no disco, propriamente dito, encontrando-se um Manson que tenta ser músico e artista em lugar de personagem de filme. Por isso temas lentos como “Odds of Even” ou “Day 3” soam ousados pelo minimalismo musical, na voz de alguém que sempre procurou um Rock cheio de som e instrumentos.
Claro que o velho está presente em temas como “The Devil Beneath My Feet”, ou quando entoa “This is your death desire”, antes do ritmo caminhante de “Cupid Carries a Gun” nos remeter para a memória de velhas canções do personagem. “The Pale Emperor” é assim um disco que sabe fazer a ponte entre presente e passado. Capaz de trazer memórias do Manson que foi e deixando imaginar o Manson que ainda pode vir a ser. Já não se trata tanto de chocar mas mais de trazer a música ao primeiro plano, e isso até funciona!
Review por Emanuel Ferreira