Recentemente, a banda belga Desinterred decidiu presentear os seus fãs com uma reedição em CD do seu EP "Incantation", anteriormente disponível apenas em vinil, tendo sido editado pela Dolorem Records. Os Desinterred propõem-se a tocar death-metal puro, ao estilo de Entombed, Autopsy e Obituary, e este EP de facto não é uma excepção, sendo sem sombra de dúvida uma obra de death-metal ao estilo da velha guarda, apesar de estar relativamente longe das bandas que citam como suas influências a nível de técnica, qualidade de composição e originalidade. A obra em questão é composta de seis faixas que totalizam uns meros treze minutos de música onde é notória a influência de outros géneros musicais como o punk-rock e o hardcore.
A primeira faixa, denominada "Sacrifice", é iniciada através de um arranjo moderadamente interessante e tipicamente doom, ao estilo dos primeiros álbuns de Paradise Lost, invertendo rapidamente para um ritmo substancialmente mais rápido, com uma batida punk na bateria a acompanhar um conjunto de riffs enérgicos, apesar de genéricos, monótonos e pouco inspirados (algo comum ao longo de todo o EP), terminando com o mesmo riff usado no início da música. Apesar de a produção não lhe fazer justiça, a voz do vocalista cumpre bastante bem a sua função, possuindo uma boa voz gutural de registo grave, ideal para este género de música. Adoptando um ritmo consistentemente mais intenso, as três músicas seguintes ("Boundless Cruelty", "Incantation" e "The Promise") são basicamente amálgamas curtas de arranjos tremendamente básicos e repetitivos, desprovidos de técnica e possuindo ligeiros momentos marcados por falta de sincronização, contendo um solo (em Incantation) que padece dos mesmos males, com o acréscimo de estar parcialmente fora de tom. Tudo isto é acompanhado de uma bateria que usa e abusa de ritmos genéricos extremamente comuns em músicas de punk rock e hardcore. No entanto, nem tudo é mau, sendo que algumas secções conseguem entreter temporariamente o ouvinte, ocasionalmente relembrando os grandes Deicide (com destaque para "Boundless", que é sem dúvida o ponto alto deste EP). A última música, "Dies Irae", é um instrumental que possui poucos pormenores interessantes, carecendo de algo, sendo que aparenta ser uma música à qual se esqueceram de acrescentar voz, não havendo praticamente nada em particular que a destaque como instrumental.
Como já foi referido, a produção desta obra é medíocre, mesmo para os padrões normais de um EP, possuindo uma enorme dose de ruído desnecessário, guitarras demasiado altas e um baixo praticamente inexistente. Globalmente, pode ser considerado um trabalho genérico, pouco inspirado e mal produzido de uma banda que ainda retira demasiado do punk para conseguir lançar um registo decente de death-metal, sendo a prestação vocal e alguns riffs de guitarra mais bem conseguidos as únicas coisas que merecem realmente algum destaque neste EP, que por sua vez contém muito espaço para evolução por parte desta banda iniciante.
Review por Ricardo Pereira