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Solstafir – "Otta" Review


Numa altura em que encontrar algo de realmente único na música em geral parece ser uma tarefa algo hercúlea, não será de estranhar que quando nos deparamos com um digno exemplo que quebre os cânones daquilo que estamos habituados, possamos extrapolar um pouco em demasia a sua qualidade intrínseca. No fundo é o que acontece com Ótta, o quinto registo dos islandeses Solstafir.

Ótta, sendo único na sua génese, não se pode dizer que seja totalmente inesperado, tendo em conta aquilo que é a carreira dos Solstafir. Alias bem se pode dizer que este será o pináculo dessa mesma carreira, como se tudo o que banda tivesse vindo a fazer até então tivesse como propósito a edição deste disco.  Pondo as coisas em termos simples, e apenas como ponto de partida, encarem Ótta como uma versão musculada de Sigur Ros. Ou seja, imaginem aquelas magnânimas viagens etéreas musicais, mas ao invés de assentes apenas na delicadeza da banda alternativa, um misto entre essa mesma brandura com alguns resquícios do metal que caracterizou Köld. Resquícios sim, porque um dos preços a pagar pelos Solstafir para conseguirem este opus, foi o de terem abandonado praticamente os sons extremos. E de certa forma nem sequer fazem muita falta, afinal de contas não é que a distorção ou as vozes ríspidas estejam completamente ausentes, apenas usadas com mais moderação.

Inspirados num conceito algo abstracto sobre um sistema antigo islandês de medição de tempo, Ótta é cantado totalmente na língua nativa do colectivo. Algo que mais do que uma desvantagem, acaba por funcionar antes como um incentivo ao ouvinte criar os seus próprios cenários mentais, isto porque a musica aqui contida a isso propicia. Este é um daqueles discos que funciona como um todo, e se é verdade que até se pode isolar um ou outro tema como destaque (Lagnaetti e Dagmal vêm logo à cabeça), é inegável que estes funcionam melhor quando ouvidos na sequencia original do álbum. No fundo o melhor é encarar Ótta como uma banda sonora abstracta, pegar nessa informação e molda-la à vossa vontade adoptando como cenário as belas, mas gélidas selvagens paisagens islandesas. E claro, não ousem desistir de tentar entender este disco à primeira, e muito menos faze-lo sem estarem totalmente focados na audição do mesmo, caso contrário é meio caminho para vos passar ao lado.´

Praticamente irreproduzível, este é uma daquelas géneses prefeitas entre sentimento, origens e uma capacidade inata para fazer boas melodias. Um dos discos do ano.

Nota: 9.5/10

Review por António Salazar Antunes