Kim Sølve criou os Taarenes Vaar em 1992, banda que mais tarde viria a mudar o seu nome para Manimalism. Com uma vasta gama de influências, a banda do norueguês nunca se integrou totalmente na chamada Second Wave of Black Metal, e o projecto passou, em grande parte, despercebido. No entanto, o álbum homónimo chegou a ser acabado, em 1999, e vê agora a luz do dia, via Neuropa Records, sendo já alvo de excelentes críticas. Falámos com Kim para compreender o seu percurso musical e o lançamento de um álbum de estreia 15 anos após a sua composição.
M.I. – Para alguns de nós, a familiarização com o black metal ocorreu apenas no Século XXI, e a cena norueguesa do final dos anos oitenta e inícios dos noventa parece quase um local mitológico. Sendo tu, nessa altura, um adolescente a viver em Oslo, estavas entusiasmado com o que vias à tua volta?
Entusiasmou-me imenso. Foi algo tão real, tão tangível e maravilhosamente sombrio. Havia um sentimento muito especial aqui em Oslo nessa altura. Éramos todos tão novos e sentíamos que estávamos a fazer parte de algo extraordinário. Em retrospectiva, era algo de ingénuo e imaturo, mas também repleto de criatividade juvenil. Aconteceu no momento certo da minha adolescência, e marcou-me para o resto da vida.
M.I. – Como é que essa experiência culminou na criação dos Taarenes Vaar?
Criei os Taarenes Vaar, ou Manimalism, em 1992. Tinha 14 anos nessa altura e até aí tinha apenas usado as artes visuais como meio de expressão, mas desde muito jovem que sentia um interesse muito intenso e profundo pela música, pelo que a criação de uma banda era apenas uma questão de tempo.
M.I. – A produção e a voz em Manimalism são bem distintas do que é típico, digamos, em Mayhem ou em Burzum, e comparar-vos a bandas como Ved Buens Ende é quase inevitável. O que ouvias nessa altura?
Sempre fui receptivo a um vasto leque de géneros musicais. Nunca vi motivos de orgulho na posse de uma mente fechada. Quando comecei a ouvir black metal, comecei também a entrar na música avantgarde, esotérica e industrial. Para mim, o black metal enquadrava-se mais nessa família do que na do metal mais tradicional. Nunca mudei de opinião e continuo aberto a todos os tipos de música.
M.I. – Porque é que os Taarenes Vaar se transformaram em Manimalism?
Taarenes Vaar e Manimalism são a mesma banda, apenas com outro nome. Queria um nome inglês e, não muito tempo após a criação da banda, comecei a sentir-me distanciado das conotações mais emocionais associadas ao nome Taarenes Vaar [“as nossas lágrimas”, em norueguês].
M.I. – Decidiste gravar o álbum tal como foi escrito entre 1993 e 1999, mas só foi lançado agora. O que aconteceu durante este interregno?
Vivi momentos infernais em várias ocasiões desde então. E este lançamento é simultaneamente um monumento em honra dos anos noventa e da batalha contra demónios pessoas que tem sido travada ininterruptamente desde que o álbum foi escrito.
M.I. – O black metal sempre foi um género underground, embora algumas bandas atinjam um sucesso maior do que outras. Hoje em dia parece haver um novo interesse pelos grupos mais experimentais e que não obtiveram o mesmo tipo de divulgação durante os anos noventa. Concordas com esta afirmação?
Há modas e há mega-modas, e as pessoas fazem, pensam, dizem, gostam, e sentem aquilo que lhes é mandado. Humanos são animais de rebanho. Mas às vezes uma moda conduz o rebanho numa boa direcção.
M.I. – Estiveste em várias bandas ao longo destes anos, como Swarms e Blitzkrieg Baby. Estás a trabalhar em algum projecto neste momento?
Swarms, Blitzkrieg Baby e Manimalism são as minhas prioridades absolutas a nível musical e espero continuá-las durante muito tempo. Sugiro a toda a gente uma audição atenta tanto de Swarms como de Bltizkrieg Baby.
M.I. – Quanto a Manimalism, este lançamento foi uma espécie de catarse ou há intenções de lançar mais material?
Nunca parei de escrever música para Manimalism, por isso sim, vem aí muito mais. Apesar de ter demorado tantos anos a acabar este álbum, sinto que ele é apenas o início. A banda amadureceu e é a altura certa para começar a colheita.
M.I. – Em entrevistas anteriores afirmaste que não te sentirias completo enquanto músico antes de lançar o álbum de Manimalism. Qual é a sensação de ter finalmente conseguido fazê-lo?
De certa forma, sinto-me aliviado. Mas muito longe de “completo”. Tenho demasiadas ideias, emoções e frustrações a ferver dentro de mim, e fazer música é a única forma de me livrar delas. Isto pode ser considerado um aviso ou, para os mais corajosos, um convite.