About Me

Entrevista aos Desaster


Os alemães Desaster já fazem parte do underground há 25 anos… com o recente lançamento do DVD ao vivo para comemorar a longevidade da sua carreira, o álbum “We worship Desaster” com covers de temas seus prestes a ser editado e com a vinda a Portugal no próximo ano para participarem num festival de peso, a Metal Imperium decidiu conversar com o guitarrista Infernal para ficar a par de todas as novidades e planos destes germânicos.


M.I. –Os Desaster têm deliciado/atormentado o underground há 25 anos. É um marco importante? Como conseguiste manter-vos fiéis ao vosso som resistindo à tentação de ser mais comerciais e aumentar as vendas?

É muito tempo e é mesmo um grande feito. É tempo de apreciar o que os Desaster foram, são e serão no futuro. Um dos aspectos mais importantes é mesmo a nossa lealdade para com o underground, tens razão! Nunca foi nossa intenção enriquecer, ficar famosos ou viver da nossa música. Nunca quisemos que a nossa dedicação ao metal fosse um “trabalho”. Fizemos questão de desenvolver o nosso som em cada lançamento e melhorar a qualidade do nosso som e originalidade. Evidentemente, melhoramos as nossas capacidades/habilidades musicais assim como as capacidades de escrita de letras mas nunca foram mudanças radicais porque ainda escrevemos temas simples que vêm directamente do nosso coração e vão directamente para o nosso pescoço! Por isso, o objectivo é escrever temas e não vender cada vez mais. Se chegar o dia em que ninguém se interessa por Desaster, eu não me importarei e continuarei a transformar as minhas emoções em música.


M.I. – De acordo com a wikipedia, os membros da banda descrevem o vosso som como “Metalized Blood”… quem inventou esta descrição e porquê?

Bem, tenho de admitir que tive de pesquisar no google o significado desta expressão! Penso que descrevi o tema “Metalized Blood” como “um hino de Speed Metal de fazer partir o pescoço” porque é exactamente o que ele é! Quando escrevi o tema em 1997, estavamos todos lixados com os teclados e vozes femininas que as bandas de Gothic Black Metal gostavam de usar. Nós detestavamos essa cena e queríamos deixar claro que as nossas raízes estavam na cena Heavy, Speed, Thrash, Death, Black Metal dos anos 80 e não na cena Dark Wave, Gothic, Opera ou disco! Foi ideia do Okkulto escrever o tema para mostrar ao mundo a verdadeira dedicação à cena metal real e “Metalized Blood” reflecte tudo isso. Este tema é dedicado aos verdadeiros metal maníacos que têm sangue metalizado a correr-lhes nas veias. Esses fãs não ouvem metal só porque é moda mas porque estão possuídos pelo Metal há muitos anos! Não é simples ser sempre um filho da mãe porque, quando és novo, tens problema com os teus pais e professores por causa das roupas, depois tens discussões com o patrão por causa do cabelo comprido e tens sempre problemas com os vizinhos porque tocas música em alto som. O tema é dedicado a todas essas pessoas que se orgulham de serem verdadeiras consigo próprias e ouvir Heavy Metal apesar de todos os problemas que surgem.


M.I. – A banda celebrou o seu 25º aniversário este ano. Fizeram algo especial?

Sim, fizemos um espectáculo especial na cidade alemã “Bamberg” e gravámos o álbum ao vivo e o DVD. O DVD contém 2 horas de documentário sobre a história da banda e é muito interessante. E fizemos uma grande festa com churrasco e muita, muita cerveja e muitos, muitos amigos que fizemos ao longo destes 25 anos.


M.I. – O DVD ao vivo “Live in Bamberg – 25 Years of Total Desaster”, lançado para festejar o vosso aniversário, contém material que os fãs desejavam?

Eu, pessoalmente, adoro material ao vivo e documentários sobre bandas e música, portanto foi mais um desejo dos membros da banda e achamos que resultou muito bem. Esperamos que os fãs também o curtam! Claro que pretendíamos oferecer algo especial aos fãs, por isso convidamos músicos para o espectáculo ao vivo. Tivemos o prazer de ter o Okkulto connosco, e ele já não pisava um palco há mais de 12 anos. Também tivemos alguns ex-membros a participar e outro pessoal que também foi importante para a história da banda e portanto tinha de estar incluído no documentário a falar sobre cenas interessantes da nossa história. Acho que os fãs vão passar bons momentos a ver o DVD.


M.I. – O DVD foi lançado pela High Roller Records. Porque não foi a Metal Blade a fazê-lo? 

Eles não estavam interessados em fazê-lo! Nao sei porquê!


M.I. – Alguma vez pensaste que irias resistir durante 25 anos? Quantos mais ainda esperas aguentar?

Não!! Em 1988/89, quando formei a banda, nunca pensei que iria fazer isto durante tanto tempo. Éramos mesmo músicos muito maus! (Risos) Hoje em dia, estou mais relaxado quando penso no futuro da banda: fazemos o que queremos e o que achamos por bem fazer no momento, sem planear as coisas. Se tivermos temas suficientemente bons para lançar outro álbum, é bom, mas se não tivermos, está tudo bem na mesma. Não chegaremos ao 50º aniversário mas acredito que continuaremos por mais alguns!!


M.I. – A banda está a preparar material para um novo álbum? Quando é que os fãs podem esperar temas novos?

Nós estamos constantemente a trabalhar em temas novos e, neste momento, temos 6 temas prontos e são típicos de Desaster mas também temos cenas mais épicas. Penso que se viermos a lançar outro álbum, os fãs de Desaster não ficarão desapontados. Já conversamos e pensamos que talvez haja a possibilidade de lançarmos material novo no final de 2015/princípio de 2016.


M.I. – Como é que a banda compõe um álbum novo? Os membros trocam ideias, riffs?

Não, só eu é que componho os riffs, depois o Tormentor adiciona os ritmos da bateria, o Odin escreve as melodias para o baixo e o Sataniac trata das letras. Durante todo este processo, claro que discutimos ideias e partilhamo-las até todos estarem satisfeitos com a sonoridade.


M.I. – A banda costuma escrever sobre guerra, ódio e satanismo. O que te inspira?

Bem, não está totalmente errado mas o Sataniac escreve sobre todo o tipo de temas desde temas históricos do tempo da peste negra a temas pessoais. Penso que ele se inspira na música que lhe apresentamos e na atmosfera que a música revela mas também se inspira em livros e substâncias que consome!


M.I. – A Grom Records está prestes a lançar “We worship Desaster” com covers dos Desaster. Que bandas estarão incluídas? Já as ouviste? O que achas das mesmas? Há alguma que até esteja melhor do que o tema original?

Já ouvi a versão de “Expect no release” dos Dirges mas é só. Estou ansioso por ouvir o álbum e sinto-me muito honrado! Na maior parte dos casos, as covers nunca são tão boas como os originais, especialmente quando as bandas tentam soar como o original, mas há covers que adicionam algo diferente a um tema, porque os músicos tentam uma interpretação sua, põem as suas ideias na música, criando algo diferente. Um bom exemplo disto é a versão que os Judas Priest fizeram de “The green manalishi” dos Fleetwood Mac. Este é um dos casos em que gosto mais da cover do que do original.


M.I. – Apesar de não teres lançado nada novo recentemente, tendes estado activos ao vivo. Como conciliais os concertos no estrangeiro com a vida profissional?

Não temos tocado muito, até reduzimos o número de concertos a sete por ano, portanto quem nos quiser ver tem de aproveitar uma dessas sete opotunidades! (Risos) Não é só por termos empregos mas por sabermos que cada concerto é especial, para nós e para os fãs. Aviso já que estamos sempre super entusiasmados com todos os concertos que fazemos e tal não seria o caso se tocássemos 100 vezes por ano. Não queremos que tocar ao vivo seja um emprego mas que cada concerto seja um ritual especial. Em 25 anos de existência só tocamos cerca de 400 concertos, não é muito! Mas talvez seja por isso que somos considerados uma das melhores bandas de metal extremo ao vivo, porque ainda adoramos tocar apesar de sermos velhotes! (Risos)


M.I. – Apesar de ser uma banda underground, os Desaster já tocaram em todo o mundo. Como foi essa experiência? O que aprendeste? Só pensas em tocar e beber ou gostas de conhecer os locais onde tocas?

Sim, já tocamos em muitos lados e é importante visitar sempre as cidades em que tocamos. Também gosto de me informar sobre os países para onde vamos, a história, cultura e o que se deve visitar. É sempre bom quando temos tempo de visitar esses locais com pessoal de lá que nos guia. Mas também estamos lá pela música e pela bebida e adoramos conviver com os metaleiros locais. É bom fugir ao looongo inverno alemão e ir tocar ao sul!


M.I. – Na semana passada tocastes no Helvete Metal Club um concerto gratuito. Vocês preocupam-se com o cachê ou só tocam por diversão?

(Risos) Nós fomos pagos para tocar! Como é o aniversário do clube, eles queriam agradecer aos clientes e visitantes, oferecendo concertos com entrada gratuita. Não nos importamos muito com o dinheiro porque temos empregos mas também não queremos tocar de graça, porque ter estado 25 anos a lutar pelo metal merecem reconhecimento e respeito que nos permitem pedir sempre algum dinheiro que seja!


M.I. – No próximo ano tocareis novamente em Portugal na 21ª edição do Mangualde Hard Metal Fest. Quais são as expectativas quanto a este retorno? O que mais gostas em Portugal?

Estamos ansiosos por este festival! Especialmente eu porque, da última vez que tocamos aí, fiquei doente e nem apreciei a viagem. É espectacular poder tocar no Porto pela primeira vez já que nunca aí estivemos e espero poder visitar a Ribeira e beber vinho porque gosto muito de vinho do Porto. Outra coisa que gosto em Portugal são os meus amigos dos Decayed… é pena é serem todos gays! (Risos)


M.I. – O baterista Tormentor tem estado envolvido em muitos projetos e toca com bandas como Metalucifer, Asphyx, Decayed, entre outros… como é que encaixam os Desaster na agenda dele?

Não temos problemas nenhuns com isso. Todas as bandas são óptimas e o Tormentor ainda tem tempo para os Desaster, portanto não há problema nenhum.


M.I. – Ao contrário de muitas bandas, os Desaster têm um line up estável. Como é que se conseguiram aturar durante tantos anos?

Na verdade, nós detestamo-nos mas somo como um casal que não sabe seguir caminhos separados, porque depois iríamos ter saudades uns dos outros! 


M.I. – O que achas do público Português? Conheces a cena metal de cá?

Se me lembro corretamente, já tocamos 3 vezes em Portugal e o público foi sempre muito bom. Admito que hoje em dia não estou tão envolvido no underground e não sei bem o que se passa na cena daí, desculpa!


M.I. – Ser membro de uma banda de metal teve algum impacto positivo ou negativo na tua vida profissional?

Não afecta nada a minha vida profissional porque a banda faz parte da minha vida privada. Não é nenhum segredo e os meus colegas e patrão sabem que faço parte dos Desaster e gostam das histórias divertidas que lhes conto quando regresso de tournée. (Risos)


M.I. – Nomeia um álbum que te tenha influenciado e porquê. Que banda/álbum te “virou” para o metal?

Foi o tema “I wanna make love” dos alemães Tyrant que despertou o meu interesse pelo metal, principalmente os “sons” da miúda a meio do tema foram excepcionais para mim quando tinha 13 anos. (Risos) O primeiro álbum foi “True as steel” dos Warlock e, na altura, pensei que era a cena mais pesada do planeta! (Risos) Mas uma das maiores influências foi mesmo “Ride the Lightning” por causa da atmosfera, som e sentimento. Penso que influenciou fortemente o meu gosto musical já que, mesmo hoje em dia, prefiro ouvir cenas melancólicas, épicas ou cenas “evil”.


M.I. – A miúda usada na publicidade à mercadoria dos Desaster é sexy. Achas que isso influencia as vendas? Qual o vosso produto mais vendido?

(Risos) Não me parece que um gajo vá comprar uma t-shirt dos Desaster por causa da modelo. Mas claro que as miúdas compram t-shirts por causa do guitarrista jeitoso! (Risos) Se queres saber, nem sabia que tínhamos uma modelo para a nossa mercadoria. (Risos) Mas concordo que tem “partes” jeitosas. Acho que o álbum mais vendido é o último “The Arts of Destruction”, seguido pelo primeiro “A Touch of Medieval Darkness”… mas não sei qual a t-shirt mais vendida. A minha preferida é a que tem a capa de “Tyrants of the Netherworld”.


Entrevista por Sónia Fonseca