Eis um dos mais incríveis álbuns que alguma vez tive a oportunidade de ouvir. Incrível não no sentido qualitativo do mesmo, mas no facto de estarmos perante um trabalho de Devin Townsend com Anneke van Gieerbergen e este resultar em algo tão banal. Um feito e tanto tendo em conta de quem falamos, é verdade, mas afinal o que é este "Z2"? Trata-se portanto de um produto que segundo rezam as crónicas, surgiu após uma sessão de hipnoterapia, em que o próprio Devin Towsend chega à conclusão que o seu processo criativo se divide em dois, e como tal ala que se faz tarde toca de nos dar a sequela de "Ziltoid (Dark Matters)" bem como mais um disco de Devin Townsend Project (Sky Blue), ambos com a participação da vocalista holandesa.
Mas como se poderia criticar o bom do Devin por mais uma vez enveredar por essa colaboração? Afinal o que o canadiano está a sentir nestes últimos tempos, deve ser o mesmo que eu e muitos outros sentimos quando ouvimos "Mandylion" (ou qualquer outro disco de The Gathering de 1995 a 2006) pela primeira vez. Aquela singela experiência da primeira vez que as sagradas cordas vocais violam impiedosamente os nossos ouvidos, até chegar ao cérebro, e aí conquistar o seu pequeno lugar, que pede para ser alimentado com sucessivas escutas da diva, como se de uma droga se tratasse. Se connosco, humildes apreciadores de musica foi assim, então com Devin, um criador sonoro por natureza, foi meio caminho para Anneke passar a ser figura presente nos seus discos. Só é pena que o material pelo menos contido em Sky Blue mais pareça leftovers de Epicloud do que outra coisa. De notar que se as parecenças entre este último disco e Addicted já eram significativas, então desta vez parece que o musico nem sequer fez o mínimo esforço para fazer algo de pelo menos diferente. Afinal de contas essa sempre foi a bitola a que o músico nos habituou, como tal seria natural os padrões estarem elevados. Resultado, um disco de pop rock pesado, com poucos motivos de interesse e muita lamechice.
Já a sequela de "Ziltoid" parece ser bem mais interessante. Pelo menos comporta um pouco do génio caótico esquizofrénico do músico (que já parecia quase arredado desde as constantes terapias). Mas lá está, tal como no primeiro disco, é algo que serve apenas como puro entretenimento. Encaremos "Dark Matters" portanto como uma elaborada piada de bom gosto. Não chegamos lá primeira, mas quando finalmente a percebemos, não será algo que vamos querer ouvir repetidamente, não é verdade? Afinal de contas não esquecer que isto é uma sequela, e que por melhor que seja, nunca vai recuperar a surpresa e o impacto que foi a estreia Ziltoid.
Review por António Salazar Antunes