"The Human Contradiction" é um disco enganador. Leva-nos a pensar que é algo que realmente não é, mostrando a maior das contradições, um álbum de pop metal que de simplista não tem nada. Quando o ouvimos pelas primeiras vezes é difícil não mostrar o mínimo de descontentamento. Os Delain, uma das mais interessantes bandas de Female Fronted metal, saírem-se por exemplo com um refrão tão azeiteiro como o de "Starlight", ou um outro a fazer lembrar o pior do gótico dos anos 80 em "My Masquerade", a juntar a temas que parecem não ir a lado nenhum como "Lullaby", assente na repetição da mesma melodia over and over. Enfim algo parece estar errado. Quer dizer, a banda sempre teve uma forte tendência pop é verdade, mas sempre o fez com algum bom gosto e seriedade. No entanto há outros temas que se destacam desde logo pela positiva, a começar logo pelo riffalhão de "Your Body is a Battleground", que aliado às partes sinfónicas e à soberba produção do disco, fazem deste tema um opus de intensidade que pede para ser ouvido o mais alto possível. Ou então "Sing For Me", candidato a melhor musica do colectivo, uma sincera mas taciturna reflexão de vida de Charlotte Wessels, também assente numa forte base sinfónica, e abrilhantada pela voz de Marco Hietala (já um clássico de colaborações com Delain).
E pegando nesses dois exemplos temos o necessário para finalmente “entrar” no disco, e perceber muita coisa que passa despercebida às primeiras escutas. Desde logo a personalidade Charlotte Wessels, a vocalista, que mostra ter bem mais do que um palminho de cara. Não é uma vocalista tecnicamente perfeita é verdade, mas tomara muitas cantoras líricas treinadas desde género, conseguirem dar um terço da profundidade e emoção que ela dá às composições. O anterior mencionado "Lullaby" é o exemplo perfeito de que mesmo com maus ovos se pode fazer uma boa omeleta. E quando finalmente tomamos consciência das fantásticas linhas vocais que antecedem e procedem o tal refrão de "My Masquerade", até este começa a soar estranhamente agradável. Liricamente vai desde o mordaz, atirando-se impiedosamente contra às indústrias farmacêuticas e da moda, até a motivos mais introspectivos, neste ultimo caso sempre de uma forma subtil, quase abstracta, sem cair em lamechices ridículas. Mas conforme se ouve cada vez mais o disco na ânsia de linhas vocais, descobre-se que este é mais do que apenas o contributo da singela vocalista. E de repente "Army of Dolls", "Tell Me Mechanist" ou "Tragedy of the Commons" afiguram-se como do melhor que os Delain já escreveram, cheios de pequenos detalhes e pormenores que quando apreendidos, permitem finalmente perceber a beleza da escrita de Delain. Temas curtos e dinâmicos, mas onde muito acontece.
Só isso explica que mesmo após 8 meses e muitas audições, o material aqui contido continue fresco, como se acabado de ouvir pela primeira vez. E pasme-se, no final até em "Starlight" se consegue encontrar motivos de interesse, como uma linha etérea de sintetizador antecedida de uma guitarrada bem potente. E no fundo é isto, um disco breve (pouco mais que 40 minutos), mas bem incisivo e marcante. Um verdadeiro trabalho de banda, em que contraditoriamente, um dos membros se destaca. Se será o melhor disco de Delain, essa será outra discussão, pelo menos o mais interessante e intrigante é de certeza.
Review por António Salazar Antunes