“The weird idea of a keytar-equipped soprano as a frontwoman of a metal band may look amusing.”
Assim começa o press release que acompanha a promo de The Angelic Performance, o segundo disco dos russos Crimson Blue. É triste quando uma editora como a My Kingdom não tem conhecimento das características que compõem a banda que supostamente promove, ou então o conceito de soprano mudou muito nestes últimos tempos. Ainda por cima já não há paciência para mais clones de Tarja, pede-se algo novo, algo de especial assim tipo… esta Dani Hellstrom e os seus Crimson Blue.
Aliando um forte carisma e doçura vocais, ao mesmo que tempo que quando necessário sabe puxar pelos pulmões, Dani é o reflexo do talento e diversidade deste colectivo. "The Angelic Performance" é o resultado de músicos que foram buscar inspiração a várias fontes, desde o gótico nas melodias, passando pelo rock progressivo na estrutura das suas composições, música clássica em algumas atmosferas, e até um pouco de nu metal, muito devido à utilização de uma guitarra de 7 cordas e de um baixo com uma afinação ainda mais grave.
Apetece dizer que os Crimson Blue aproveitaram o que de melhor há em cada um desses géneros para fazer este melting pot, sendo disso um excelente exemplo Locust, o tema de abertura. 5 Minutos onde ouvimos crescendos de intensidade, peso, melodias orelhudas, e diversos estados de espírito. Algo que é elevado a um outro nível quando os Crimson Blue apostam em divagações mais longas como "Lab II Yggdrasil" ou "Black Wings". Numa outra toada "3rd Eye Closed" e "Sacrifiction" mostram o quão directo e viciante esta colectivo consegue também ser, muito por culpa da forma como as linhas vocais são entoadas, algo que quando aliado a uma intensidade mais melancólica resulta numa obra-prima como "Dark Heart of Mine".
É especialmente curioso que por norma as bandas russas façam muito uso de atributos mais folk, de forma a promover um pouco a sua proveniência, mas no caso dos Crimson Blue pouco ou nada nos leva a desvendar a sua origem, ainda para mais quando estes por vezes até injectam alguns elementos mais orientais como em Tonalli.
E com isto temos um disco muito próximo do excelente. Cativante mas ao mesmo tempo desafiante, e a certeza de que muito de bom ainda se pode fazer num subgénero como este, basta ter um pouco de criatividade, emoção, e claro arranjar uma voz que seja minimamente convincente.
Review por António Salazar Antunes