Uma voz melódica e quase operática ecoa nos primeiros segundos deste disco, mas os primeiros acordes de guitarra abrem, com chicote, uma dimensão sonora, tensa, com distorsão, que não engana: está-se em território Sunn O))) e quem por lá caminha é Scott Walker, um pop star dos anos 60 e 70, reconvertido em cantor avant-garde a partir dos anos 80.
Visto desta forma poderá soar a dejá-vu uma reunião entre um old crooner e músicos de meia idade a necessitarem de se reinventar – não, não vou referir aquele disco com o autor de Berlin – mas quem perder 30 segundos a olhar para a carreira de Stephen O'Malley e Greg Anderson com Sunn O))), rapidamente descobrirá que eles contornam a dimensão instrumental do projecto, convidando vocalistas para colaborarem. Foi assim com Julian Cope em “White 1” de 2003, ou com Attila dos Mayhem em “White 2” de 2004. Já neste ano, se tinha, também escutado uma colaboração de Sunn O))) e Ulver em “Terrestrials” .
Soando como uma banda sonora de David Lynch, este “Soused” é acima de tudo um disco de Scott Walker, com O'Malley e Anderson a actuarem mais como gestores do ambiente sonoro que como atores do mesmo. Aqui e ali percebe-se estar na presença de Sunn O))), mas prevalece sempre a voz de Walker ao longo dos cinco temas que compõe este disco.
Os fãs de drone Metal não se iludam por aqui, pois se o trabalho se revela muito interessante, não é, no entanto, um registo verdadeiramente Metal – seja o que isso for nos dias que correm. Escutem, por exemplo, “Fetish”, em que a voz de Walker caminha solitária entre sintetizadores, e com a introdução de outros instrumentos (bateria incluída), só se percebe que existe a dimensão Sunn O))) porque o nome está registado na capa do disco.
Tendo os“White” em mente, espera-se um special guest Scott Walker, mas neste “Soused” temos mesmo é um Walker featuring Sunn O))). Não sendo decepcionante, longe disso, este trabalho é para quem quer conhecer outras dimensões musicais, não para fãs de drone ou Sunn O))).
Review por Emanuel Ferreira
