Sábado à tarde, Alcântara. Às portas do Paradise Garage, tapadas pelos autocarros da “Killfest tour”, iam chegando a conta gotas os fãs sedentos por Overkill, dois anos após o tremendo concerto em Vagos. Nessa altura, a exemplo do que a Prime Artists tem feito com outras bandas, ficou claro que os veteranos voltariam ao nosso país nos tempos seguintes. Surgiu agora a oportunidade e a casa encheu-se de saudade e entusiasmo para receber a banda do carismático Bobby “Blitz”. Numa noite em que as guitarras foram as estrelas, coube aos Darkology, aos Enforcer e aos experimentadíssimos Prong preparar caminho a um dos maiores ícones do Thrash Metal. À hora do início do evento, a sala estava praticamente cheia e, lá fora, outros tantos fãs aguardavam por entrar. Com público de todas as idades, previa-se pouco espaço para abanar a cabeça e muito calor.
Os Darkology foram os primeiros a subir ao palco. Com uma carreira que atinge agora os dez anos, mas apenas com dois álbuns de estúdio, os texanos de Dallas presentearam a plateia com um concerto muito competente, assente especialmente no recente «Fated to Burn», acabado de sair. Com um tom afirmativo de quem pretende cimentar a sua posição, os Darkology apresentaram-se coesos, terminando a actuação com chave de ouro, relembrando uma das maiores figuras do Heavy Metal, Ronnie James Dio, com a cover “Mob Rules”.
Numa noite dominada pelo metal americano, os intrusos chegaram da Suécia. Os Enforcer visitaram o nosso país pela terceira vez, depois de no Hard Club e na Républica da Música terem mostrado o porquê de serem um dos nomes mais comentados na actualidade revivalista. Jovens e com atitude a jorrar, o quarteto brindou uma sala já cheia com Speed e Heavy Metal tradicional de alto nível, exemplificados nos riffs de “Mesmerized by Fire”, “Live for the Night” (que não tinham tocado nos dois concertos atrás referidos), ou na derradeira “Midnight Vice”. Destaque também para “Countess Bathory”, do eterno «Black Metal» dos Venom. Visitando os três álbuns editados durante pouco mais de trinta minutos, os Enforcer prometeram voltar em 2015, com um novo álbum na forja. Que voltem com a mesma força e alma, e com mais tempo de palco. É do tipo de bandas que, normalmente, não deixa nada por dar!
De seguida, e enquanto os suecos recebiam pedidos sem fim para fotografias, foram-nos “oferecidos” os Prong, banda de Nova Iorque que se estreava em Portugal. Com um longo caminho no meio metálico, cujo ponto de partida remonta a meados da década de 80, a banda do conhecido Tommy Victor (voz/guitarra) tem vivido alguma instabilidade com um hiato algures no tempo, mas aparece nos últimos anos revigorada ao nível da coesão e do estilo que decidiram adoptar. O que há mais de vinte anos começou com a sujidade do Crossover e do Thrash Metal, evoluiu para um muito típico músculo americano com muito groove, a que se juntam uma linhas industriais - de referir que Tommy fez também parte dos Ministry, daí que seja um terreno explorado pelo próprio -. O trio que veio da Big Apple deparou-se, então, com muito público conhecedor e fã do seu percurso, criando-se uma simbiose muito interessante entre todos, com muitas cabeças a rolarem ao ritmo de temas pesadões e de graves…muito graves. “Snap Your Fingers, Snap Your Neck”, um dos seus temas mais famosos, encerrou o concerto dos Prong debaixo de grande intensidade e reconhecimento. Reconhecimento merecido, mais não seja pela longevidade e capacidade de ainda darem concertos cheios de poder.
O aquecimento (sem desprimor), estava definitivamente feito. A massa muscular estava mais do que quente e pronta para o exercício físico mais puxado da noite. Apesar das bandas terem estado a bom nível até aqui, provando o porquê de acompanharem pela Europa um nome como Overkill, não havia dúvidas: todos estavam ali pelo carisma de Bobby Ellsworth (que domina completamente o palco e as atenções), a sua voz intemporal e a velocidade da música dos históricos de New Jersey. Todos se iam posicionando no melhor lugar possível, aguardando com ansiedade a Intro “XDM”, retirada do recente «White Armory Devil». Com a banda já completa em palco, arrancámos então para “Armorist”, single do mesmo álbum, para nunca mais o Paradise Garage conhecer paz e sossego. Se é verdade que os Overkill têm como expoentes máximos da sua eterna carreira álbuns da década de 80, não é menos verdade que mesmo os últimos trabalhados têm sido sempre recebidos com grande entusiasmo e respeito pelos fãs, o que ficou espelhado neste concerto. Viajando no tempo durante cerca de hora e meia e serpenteando entre temas mais recentes e, outros, com quase trinta anos, como “Rotten to the Core”, “Overkill”, “Wrecking Crew” ou “Hello From the Gutter”, Bobby e seus pares nunca deixaram de ter o ávido público nas mãos, fazendo crescer em cada um de nós a necessidade de mais e mais! Mesmo com um problema de som a meio do concerto, que ficou sem graves durante um pequeno período, o caos nunca deu tréguas e foi um justíssimo acompanhante da velocidade extra com que estes senhores tocaram na noite de Lisboa. A tremenda “Elimination”, integrada já no encore, aumentou os níveis de headbang, air guitar e loucura. “Fuck You!”, gritada em uníssono várias vezes, fechou com um nível estratosférico o evento. Podíamos finalmente respirar o fresco de Alcantâra. Os ares desfeitos e lavados em suor, eram vencidos pela certeza de que havíamos assistido a um concerto para recordar durante muito tempo. Isto, meus senhores, foi Thrash Metal do mais puro que pode haver.
Texto por Carlos Fonte
Fotografia por Ana Carvalho
Agradecimentos: Prime Artists