É costume ouvir palavras de admiração e/ou queixume pela quantidade de vezes que os Guano Apes vieram a Portugal e realmente não deixa de ser um fenómeno. Uma banda que não é particularmente famosa a nível mundial, que nem tem o que se pode chamar de vendas astronómicas no nosso país, principalmente nos últimos anos mas que mesmo assim tem sempre público presente nos seus concertos e volta e meia aparecem cá seja em nome próprio, seja como partes de algum cartaz. Essas pessoas deveriam ter estado presentes no dia passado dia onze de Novembro, na salta Tejo do Meo Arena. Talvez continuassem confusos, mas talvez se rendessem à forma como a banda consegue cativar e interagir com o público nacional.
Esta data serviu para encerrar a tour europeia da banda que se viu acompanhada pelos britânicos Army Of One que foram bastante competentes no que diz respeito a aquecer as hostes. Entraram de forma fulgurante com o seu rock energético e moderno - com a voz de Silva (talvez alguma ligação a Portugal do vocalista, que a haver não foi mencionada pelo vocalista, mesmo quando disse que era a primeira vez que estavam em Portugal e que adoravam a nossa cozinha e que as nossas mulheres eram muito bonitas) a soar por vezes bastante semelhante à de Kevin Martin dos Candlebox. Com uma série de boas malhas, onde se destacaram a "Civilian" (que contou com a participação do público), a "Outside The Box/Inside The Ring" e "Beautiful Riot". Uma banda com algum potencial a ser um bom aquecimento para o que aí vinha.
Após algum tempo (demasiado) de espera, finalmente entra em palco o quarteto alemão sobre um entusiasmo enorme. Pegando numa faixa algo obscura, "Carol And Shine", disponível na edição especial do penúltimo álbum de originais, "Bel Air" de 2011 e que apresenta a sua nova face desde que voltaram desde o hiato que durou de 2006 a 2009, a empatia foi imediata e com isso tiveram-se logo duas visitas ao passado, com "Walking On A Thin Line" a ser visitado com dois dos seus mais conhecidos temas, "You Can't Stop Me" e "Quietly" posteriormente em versão surpresa. "Offline" é a designação do álbum e da tour e tal como o anterior "Bel Air", continua a marcar pela diferença entre o passado da banda. Um cruzamento entre a new wave de inícios da década de oitenta com a energia do rock moderno é aquilo a que soa "Fake", "Sunday Lover", "Hey Last Beautiful", "Fanman", "Like Somebody" e "The Long Way Home", mas que tiveram o dom de ir mais do que o tom dançante que têm em disco, para soarem realmente contagiantes, com uma vida inesperada em cima do palco.
Para quem não gostou muito desta mudança na sua sonoridade, depois deste concerto, ficaria automaticamente convertido. Como esta era a última noite da tour, como a ligação entre a banda e o público nacional é inegável, houve ainda tempo para uma pequena surpresa com a subida ao palco de Miguel Guedes dos Blind Zero para cantar então a "Quietly" em conjunto com Sandra. De seguida é explicado que os Blind Zero convidaram Sandra para gravar a música "Take You Home" com a banda, que ela aceitou e que a mesma iria ser tocada ali em formato acústico, com a ajuda de mais dois membros da banda nacional. Sem dúvida, um dos momentos altos do espectáculo, mas claro, como o melhor fica para fim, ainda faltava os clássicos que a fizeram ter a explosão que tiveram no final do século passado.
Entre dois encores, muita emoção de parte a parte, "Open Your Eyes", "Big In Japan" e "Lords Of The Boards" a servirem de apoio para muitos saltos e cantoria, a banda partiu satisfeita, deixando para trás um público também satisfeito, numa relação que, tal como Sandra Nasic e Henning Rümenapp relembraram, começou nos finais da década de noventa quando nos visitaram pela primeira vez no Paradise Garage. Eles não esqueceram e nós também não e quando assim é, noites como a de onze de Novembro assumem-se sempre como especiais.
Reportagem por Fernando Ferreira
Agradecimentos: Prime Artists