Na noite dos amplificadores “Orange”, o Side B foi a casa de um evento que começou torto. A Notredame, sem culpa no cartório, viu-se numa situação aborrecida com o voo dos The Skull, proveniente de Barcelona, a chegar com um largo atraso a Lisboa. As más condições climatéricas em Espanha, causaram impacto no que se passaria em Benavente, atrasando em cerca de hora e meia o ínicio do evento. Nada que um pouco de compreensão não tenha resolvido. Quando o Doom chegasse, chegava. E chegou!
A abertura das hostes esteve então a cargo dos Asimov, uma dupla cuja energia acabou por encher o palco do Side B e fazer aproximar do mesmo, algum público inicialmente envergonhado. Com uma guitarra e uma bateria, e praticantes de um rock n’roll psicadélico setentista, como o próprio “look” patrocinava, a banda fez mais do que aquecer a meia centena de pagantes que se deslocaram a Benavente, por via de malhas bem metidas e uma atitude bem meritória. Durante a actuação, uma situação bem disposta e engraçada, mas que não foi caso único nesta noite, já que Eric Wagner faria o mesmo; Carlos (a voz e guitarra da dupla) sentiu sede e tratou de ir ao bar buscar uma bela imperial, talvez para servir de combustível para a parte final da actuação. Um início de noite muito digno, cortesia de uma banda que justificou inteiramente o convite da organização.
Com outra rodagem, apesar das alterações recentes na formação, os Dawnrider não deixaram o crédito que têm feito por ganhar, por mãos alheias. Dificilmente a banda dá concertos fracos ou de pouca intensidade. Tudo é sempre muito bem tocado e, na voz, Chico nunca fica abaixo das exigências de uma banda que vai cimentando um lugar de destaque no panorama nacional. Foi ao som de Doom/Heavy Metal tradicional, potenciado pelo excelente trabalho no som (justo reconhecimento da banda ao técnico de som da sala), que muitas cabeças rolaram e a sala acordou definitivamente. Por entre recados enviados aos The Skull e enquanto esperávamos pelo «Psalm 9», temas como “Cry of the Vampire”, “Esperança” ou a enorme e mais antiga “Keep on Riding” a fechar, colocaram na caderneta dos Dawnrider mais uma nota altamente positiva! Não há dúvidas que é banda que vale sempre a pena espreitar. Tivessem nascido noutro sítio e outro galo cantaria, certamente. Ugh!
Completavam-se as três e meia da manhã quando os The Skull (para não lhes chamar Trouble) subiram, finalmente, ao palco. A noite estava a ser bem mais longa que o esperado, mas muito bem passada…e só melhorou com a presença do ícone Eric Wagner e seus parceiros, a oferecerem-nos o «Psalm 9» na íntegra, primeiro álbum dos Trouble. Arrancando sem mais demoras para “The Tempter”, por entre cigarros e a difícil abertura de uma mini, a banda garantiu que não havia melhor início depois do que nos fez esperar. Agora, já só interessava o Doom. E Doom pela noite dentro é sempre uma proposta sedutora! A sala, talvez com 60/70 pessoas, entusiasmou-se com o desenrolar de clássicos e o headbang só conheceu pausas, nas pausas entre temas. A banda, ainda que não muito comunicativa, fez aquilo para que tinha sido convidada e, apesar do adiantar da hora pareciam uns jovens a tocar temas que têm 30 anos, e que durarão pelo menos outros 30!
Patrocinado pela Notredame, o Doom prevaleceu!
Texto por Carlos Fonte
Agradecimentos: Notredame Productions